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De olho no boi: China e produtor devem perder poder de barganha, e quem ganha são os frigoríficos

15 mar 2024, 17:04 - atualizado em 15 mar 2024, 17:04
boi china
A expectativa, de acordo com um analista, é de que não haja espaço para maiores quedas nos preços de importação pagos pela China (Imagem: Pixabay/ericojuniormorais0)

O mercado do boi gordo contou com uma semana movimentada em função da habilitação de 38 frigoríficos para exportação de carnes para China. Apesar disso, o indicador Cepea/B3 do animal pouco variou na parcial do mês, recuando 0,76%.

De acordo com Fernando Iglesias, analista da Safras & Mercado, duas questões não devem se confirmar como era esperado.

A primeira percepção que tínhamos era que, com o aumento dos frigoríficos habilitados, haveria espaço para os importadores chineses reduzirem ainda mais os preços pagos pela carne bovina brasileira, mas isso não deve ocorrer. Quando olhamos para as indústrias habilitadas, só vemos três ‘novos’ abatedouros, com a maior partes das habilitações ocorrendo para JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3e  Minerva (BEEF3), indústrias que contam com canais já bem consolidados para lá”, explica.

Iglesias ressalta que o poder de barganha do importador da China não deve crescer. “A outra impressão era de que o pecuarista brasileiro teria espaço para barganhar, segurando a sua oferta, mas isso se dissipou rapidamente, já que as ofertas voltaram a crescer nessa semana. Quando olhamos pelo prisma da indústria, o momento ainda é favorável, já que a matéria-prima desses frigoríficos, que é o boi, segue abundante e barata, sem dificuldades quanto a custos”, avalia.

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Oferta elevada em 2024

O analista ressalta que o primeiro semestre será bem elevado em termos de oferta. Por outro lado, essa realidade deve se inverter em 2025, a partir da virada do ciclo pecuário.

“Devemos ver um 2024 de custos baixos para a indústria, com exceção para JBS nos Estados Unidos, já que os preços do boi estão muito elevados por lá. Para a Minerva, a situação é relativamente confortável”, diz.

Em relação a exportações, Iglesias enxerga a possibilidade de no médio/longo prazo o Brasil avançar em vendas com destino à China. “O país asiático deve concentrar suas compras no Brasil, já que temos uma escala de produção, preços competitivos e uma relação amistosa com os chineses, com os importadores tendo garantias de que vamos entregar os produtos que eles almejam. Ainda assim, o X da questão fica por conta dos preços, que seguem abaixo da média histórica, e não devemos ver uma inversão desse cenário no segundo semestre”, finaliza.