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De olho no boi: Arroba despenca e anima frigoríficos, mas China paga apenas 3/4 do animal

02 jun 2023, 15:55 - atualizado em 02 jun 2023, 17:40
Boi gordo minerva
Margem bruta das indústrias avança com queda no preço da arroba do boi gordo, enquanto China tem desconto de quase 25%; entenda (Foto: Minerva)

Como você viu no “De olho no boi” da semana passada, o mercado do animal convive com um cenário de oferta ‘saindo pelo ladrão’.

O cenário de oferta elevada é o principal fator de influência sobre os preços da proteínas desde o começo de 2023.

Além disso, o ritmo das exportações do Brasil para China começa a ganhar maior intensidade pouco mais de dois meses após o fim do embargo para carne bovina brasileira, entre fevereiro e março.

Para entender o retrato atual de preços, oferta, demanda e custos, o Agro Times conversou com Felipe Fabbri, analista de mercado e da cadeia de produção animal na Scot Consultoria, além de ouvir Fernando Iglesias, especialista em proteína animal e analista da Safras & Mercado.

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Oferta, demanda e preços

No mercado interno, foi registrado um cenário de queda na arroba do boi, cenário, que segundo Fabbri, representou uma melhora aos frigoríficos.

“Em maio, o nosso indicador Scot Desossa (margem bruta entre venda de carne desossada no atacado, couro, sebo e miúdos) atingiu o melhor patamar desde 2021. Assim, em termos de margem bruta, o momento para indústria com a queda do arroba é ótimo”, explica.

Ainda assim, no atacado, não foram registradas grandes variações em São Paulo.

Cortes no atacado Base SP – (Safras & Mercado) 26/mai. 02/jun. Variação
Dianteiro casado R$ 13,70 R$ 13,70 0
Traseiro casado R$ 18,40 R$ 18,40 0
Ponta de agulha R$ 13,60 R$ 13,50 -0,74

Já nas principais praças entre abril e maio, a arroba do boi derreteu de 7% a 15%.

Boi Gordo – R$/@ – Safras & Mercado 28/abr. 31/mai. Variação (%)
SP – Barretos R$ 255,00 R$ 225,00 -7,55
GO – Goiânia R$ 240,00 R$ 210,00 -10,2
PR – Norte R$ 255,00 R$ 225,00 -11,54
Bahia R$ 240,00 R$ 215,00 -10,2
PA – Redenção R$ 227,00 R$ 190,00 -15,22

“No Centro-Oeste, com destaque a Mato Grosso, a pressão de baixa foi ainda mais forte. A região vive o pico do que chamamos de ‘desova de fim de safra’, e a arroba, entre as quatro praças monitoradas pela Scot na região (Cuiabá, Norte, Sudeste e Sudoeste) cedeu em média 8,3%, com destaque ao norte de Mato Grosso, onde as cotações caíram 9,6%.”, explica.

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Exportações

Apesar do melhor ritmo de embarques no mês de maio, os preços pagos à exportação, com destaque para China, seguem pressionando as indústrias, que contam com menor apetite para embarcar ao país asiático.

“As exportações em maio de 2023 tiveram o melhor desempenho da história para o mês, comparado a seus pares, com 168,3 mil toneladas de carne bovina in natura enviadas ao mercado externo, com um embarque diário 10,6% que o mesmo mês do ano passado, que até então fora recorde. O preço da tonelada exportada, porém, reportou queda de 21% no comparativo anual, desconto de quase 1/4 – ou seja, pressão às margens das indústrias exportadoras, com menor apetite para ágio ao “boi China”, comenta Fabbri.

O que esperar nos próximos meses?

Para o analista da Scot Consultoria, os próximos meses devem reservar uma recuperação para arroba do boi gordo, com destaque para julho.

“O confinamento deverá ser menos ofertado com relação ao ano anterior, apesar do ótimo cenário de redução de custos – considerando a queda no preço dos insumos e da reposição -, ainda há muito estoque de alimento caro a ser ‘queimado’ e pouco espaço no mercado físico e futuro do boi gordo que atraía o confinador. Ou seja, a oferta que sazonalmente já é baixa no segundo semestre, pode vir relativamente menor”, comenta Fabbri.

Contudo, no lado da demanda, a China deve contar com um apetite mais “voraz”, com destaque entre setembro e outubro, avalia.

“Apesar disso, não temos uma percepção de que os preços pagos pelos chineses voltem às máximas observadas em 2022 (US$6,0 mil/t) tão cedo. No mercado interno, o consumo pode ganhar fôlego no segundo semestre, com uma menor pressão de dívidas entre a população brasileira, bom desempenho macroeconômico e um repasse por parte da ponta final, o que deve melhorar o escoamento”, discorre.

Por fim, a retomada de preços para o boi gordo, porém, não deve ser vista como uma explosão de preços, até porquê, o descarte de fêmeas em 2023, acompanhando o ciclo pecuário de preços, deverá ser o maior desde 2003, segundo o analista.