De olho na Selic: Economia dá sinais de que alta na taxa de juros fez efeito; entenda
Entra e sai indicador e o mercado só quer saber uma coisa: quando o Banco Central vai começar a afrouxar a sua política econômica e reduzir a Selic. Desde agosto do ano passado, a taxa básica de juros está sendo mantida no patamar de 13,75% ao ano em uma tentativa de controlar a inflação.
Agora, quase 10 meses de manutenção – e mais de dois anos desde que começou o processo de altas –, a economia começa a dar sinais de que o Banco Central pode pegar mais leve.
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Confira os indicadores que mostram que a Selic alta funcionou
Inflação
Nas últimas semanas, as projeções para a trajetória da inflação estão melhorando, levando em conta tanto a queda da prévia do Índice de Preços do Consumidor Amplo (IPCA-15) para maio, quanto a aprovação do arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados.
Os economistas já reduziram pela segunda semana seguida as projeções de inflação, segundo dados do Relatório Focus. A primeira foi no dia 22 de maio, quando as projeções de inflação passaram de 6,03% para 5,80%. Na época, a Petrobras (PETR3; PETR4) anunciou uma mudança na sua política de preços e cortes relevantes nos combustíveis vendidos em suas distribuidoras.
Já na semana passada, a Câmara dos Deputados aprovou a proposta do arcabouço fiscal com um placar favorável para o governo. Agora, o texto está para análise no Senado.
Além disso, prévia da inflação, subiu 0,51% em maio, desacelerando-se em relação à alta de 0,57% apurada em abril. O indicador acumulada alta em 12 meses de +4,07%, de +4,16% no mês anterior.
PIB
No primeiro trimestre, Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,9%. No período, o PIB em valores correntes totalizou R$ 2,6 trilhões, sendo R$ 2,2 trilhões referentes ao Valor Adicionado a preços básicos e R$ 317,1 bilhões aos Impostos sobre Produtos líquidos de Subsídios.
Os dados mostram que houve crescimento expressivo na Agropecuária (21,6%), seguido pela alta de 0,6% em Serviços. Já a Indústria registrou queda de 0,1%.
Pela ótica da demanda, o consumo das famílias avançou 0,2% em relação ao trimestre anterior, que somou R$ 1,6 trilhão. Já a despesa do consumo do Governo, por sua vez, cresceu 0,3%, somando R$ 416 bilhões.
No setor externo, as Exportações de Bens e Serviços caíram 0,4%, enquanto as Importações de Bens e Serviços recuaram 7,1%.
Na teoria, uma taxa de juros alta deveria desacelerar a economia – que foi o que aconteceu em 2022. No entanto, João Piccioni, analista da Empiricus Research, destaca para um arrefecimento do consumo das famílias.
“Foi um PIB muito forte puxado, na verdade, pelo agro e também é nítido que você tem uma balança comercial muito robusta. Mas quando você olha os demais vetores, o consumo das famílias, por exemplo, vem desacelerando. É bem nítido que o crescimento do consumo das famílias avançou só 0,2% e já é um crescimento menor do que a gente viu no quarto trimestre em relação ao terceiro trimestre de 2022”, disse, durante o Giro do Mercado.
Segundo Piccioni, o fato de o consumo das famílias não crescer já é uma prova dos efeitos da Selic. “Com o cenário de desinflação, a dinâmica de taxa de juros deve se tornar mais favorável. Provavelmente, Roberto Campos Neto vai começar a conduzir uma política de afrouxamento monetário no segundo semestre”, completa.
Alívio monetário
Apesar das melhoras, as apostas em relação ao início da queda da Selic seguem apontando para mudanças apenas no segundo semestre, entre agosto e setembro. A taxa básica de juros está sendo mantida no patamar de 13,75% ao ano desde agosto do ano passado.
A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) está marcada para os dias 20 e 21 de junho.
durante a Prêmio Inovação para o Desenvolvimento Econômico, Roberto Campos Neto destacou que, pela primeira vez na história, o mundo passa por um surto de inflação e o Brasil registra índices de preços abaixo da média internacional.
Segundo ele, esse resultado se deu, em parte, à decisão da autoridade monetária brasileira de começar a subir os juros antes das demais economias.
Campos Neto também apontou que a inflação cheia no Brasil foi a que mais caiu entre os países emergentes, mas que os núcleos ainda demandam atenção. “Vemos que a média de núcleos está caindo, o que é bom, mas mais lentamente que o esperado”, disse. “Ainda temos expectativas de inflação de longo prazo elevadas”, completou.