De centro-avante do Palmeiras a banqueiro, o que busca o novo presidente do Bradesco?
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Arena do PaviniPor Ângelo Pavini, da Arena do Pavini
Quando em 1978 o pai de lhe disse para deixar o sonho de ser jogador de futebol no Palmeiras para começar a trabalhar no Bradesco, o jovem de 15 anos não imaginava que, ao trocar as chuteiras pela gravata, um dia se tornaria presidente do banco. Do início como contínuo na agência Lapa, zona Oeste de São Paulo, até o comando do segundo maior banco privado do país, passaram-se 39 anos em que o ex-centroavante alviverde atuou em quase todas as posições da instituições, desde a área de crédito, financiamentos, diretoria de alta renda e, finalmente, a seguradora. Segundo o atual presidente, Luiz Carlos Trabuco Cappi, a quem Lazari substituirá, o executivo possui um “conhecimento horizontal” das atividades do banco e da seguradora que pesaram em sua escolha pelo Conselho.
Além disso, criado dentro da cultura do Bradesco, Lazari desenvolveu a habilidade para administrar por meio do consenso, um dos aspectos que a instituição mais deseja de seus executivos. “A escolha realça a política adotada pelo banco desde seus primeiros dias, que tem dado resultados retumbantes e cria um ambiente de interação perfeita entre os executivos do banco”, afirma Lázaro de Mello Brandão, ex-presidente do Conselho do Bradesco. “Todos do Conselho são egressos dos quadros do banco”, lembra Seu Brandão, também funcionário de carreira do banco desde sua fundação.
A escolha de Lazari faz parte do processo de renovação do comando do segundo maior banco privado do país, que teve início no ano passado com a saída de Brandão da presidência do Conselho e sua substituição por Trabuco. Junto com Lazari, outros quatro vice-presidentes passarão a fazer parte do Conselho de Administração, explica Trabuco. Desses, alguns poderão continuar com suas áreas executivas no banco. “A lei permite que até um terço dos conselheiros tenham funções executivas, então, como são nove conselheiros, três poderão continuar nas funções”, diz.
Entre os novos conselheiros, Trabuco lembra que há executivos das áreas de tecnologia, contabilidade e controles que devem fortalecer e renovar o Conselho e prepara-lo para os desafios do futuro. “Temos um grande desafio em 2018 que é quando a economia brasileira vai retomar o crescimento e Lazari tem bastante energia para comandar o banco nesse processo”, diz. Trabuco informou também que o banco vai estabelecer uma idade limite para todos os cargos executivos e do Conselho de 65 anos. Hoje, essa idade é variável, indo de 62 anos para diretores a 65 para vices executivos e 67 para presidentes. “Já cumprimos o ciclo de renovação, então não faz sentido manter limites diferentes”, explica.
Lazari, de 54 anos, agora terá até março para definir sua diretoria executiva, contando com três conselheiros. Até lá, ele deverá definir o comando da área de seguros do banco, que hoje está sob seus cuidados.
Ele espera um cenário para 2018 muito positivo, com a inflação perto da meta do Banco Central, juros baixos e o Produto Interno Bruto (PIB) crescendo de 2% a 3%. O desemprego também deve parar de crescer e o país deve criar mais 1,5 milhão de empregos. “Dado esse quadro, vamos ter um 2018 muito melhor que os anos anteriores”, diz. “E o banco está preparado para atender esse crescimento da economia do país, esse vai ser nosso desafio”.
Um outro desafio do novo presidente será manter a rentabilidade do banco em meio à queda dos juros. “Com uma taxa básica de 7% ou menos, não se pode pensar em ter spreads de 7%, 8% ao ano como no passado e a saída é uma só: vamos ter de ganhar escala, ampliar as carteiras de empréstimos”, diz Lazari. “Não há bala de prata, temos de ganhar escala no crédito e ampliar a prestação de serviços.”
Sobre o crédito, Lazari afirma que, em janeiro, o volume concedido de empréstimos pelo banco já foi o melhor que nos anos anteriores. “Já sentimos uma recuperação e, com a taxa de juros caindo para menos de 7% e inflação sob controle, a tendência é de as empresas precisarem de mais dinheiro para investir, comprar máquinas, contratar pessoas e buscarem crédito”, diz.
Segundo ele, hoje já há recuperação nas linhas de capital de giro, mas o crescimento se dará em todas as linhas, tanto para empresas quanto para pessoas físicas, como cartão de crédito, financiamentos, crédito imobiliário ou crédito rural. “Apesar da crise e da redução da demanda das construtoras, não paramos de emprestar em crédito imobiliário para pessoas físicas”, diz. “A recuperação virá em todas as linhas, e nossa presença em todo o país, com 2 mil agências, nos dá uma vantagem enorme nesse processo”, afirma Lazari.
Com relação ao próximo presidente da República, Lazari acredita que, independentemente de correntes políticas, existe uma congruência de opiniões que leva a uma agenda positiva igual para todos os candidatos. “Qualquer candidato que seja eleito sabe que terá de cumprir determinada agenda”, diz.