De “boa fé”, fazenda pratica sustentabilidade para manter rentabilidade do leite ao grão – Parte I
Imagine uma vaca parindo com privacidade sem a presença de humanos e preservando sua intimidade, a bezerra depois sendo acolhida com garantia do colostro da mãe e, ao longo da vida útil, os animais sendo submetidos até a massagens e carícias. Essas e outras experiências não são meros mimos. Claro, o bem estar animal é regra na Fazenda Boa Fé, por vocação, mas a utilidade chega diariamente na soma de quase 11 mil litros de leite por dia.
É negócio – e muito bem calculado. As 360 reses em lactação, entregando cerca de 29 litros/dia, também muito pouco adoecem, o que corta custo importante com medicamentos do Grupo Araunah. Junto a um sistema de economia circular, onde parte do milho, da soja e a quase totalidade da aveia vão para os cochos – e depois o rebanho devolve os dejetos, após compostados, às lavouras.
Como as culturas da empresa mineira são 100% pelo sistema de plantio direto na palha, cuja técnica corta em muito o uso de agroquímicos (fertilizantes e defensivos), a vacada leiteira girolanda da família de Jonadan Ma também se beneficia de alimentos sustentáveis.
“O conceito do nosso grupo é esse, cuidando do ambiente, da saúde e apresentando resultados concretos”, explica o diretor geral, na 3º geração familiar (após a fundação do grupo, há 60 anos, pelo pai Ma Shou Tao). A Fazenda Boa Fé fica em Conquista, no Triângulo Mineiro, e lá se concentram as quatro unidades de negócios: produção agrícola e leiteira/genética, produtos biológicos para lavouras, tecnologia em irrigação e biosseguridade animal, além de produtos alimentícios naturais com marca própria.
Certificação
No caso do gado leiteiro, a produção tem agora o Certificado de Bem-Estar Animal, dentro do Programa Beba Mais Leite, cuja auditoria foi da neo-zelandesa QConz, e consolida a fama e a tradição da Fazenda Boa Fé em produção sustentável. Já em 2018 foi objeto de premiação pela revista Dinheiro Rural.
Jonadan Ma, ao desfiar os cuidados com o gado – abolição do hormônio que aumenta a produção das vacas, garantia livre de sombra, água e comida (com algum controle para evitar a engorda demasiada) e, entre outros, apartação dos animais dominantes -, lembra ainda que ao sistema intensivo, em 25 hectares de pastos, agrega-se 38 pelo sistema Integração, Lavoura, Pastos e Floresta (ILPF).
“Ainda temos desafios, porque perseguimos cada vez mais a busca de tecnologias que façam com que dependamos cada vez menos de tecnologias de terceiros, o que também vale para a agricultura”, afirma o diretor geral do Araunah, hoje presidente da Federação Brasileira de Plantio Direto e Irrigação e também da Confederação das Associações Americanas de Agricultura Sustentável.
Com mais de 3 mil hectares, em uma propriedade que já foi pioneira também na cana plantada direto na palha (a cultura foi abandonada em 2017 pela baixa rentabilidade), a Boa Fé da família sino-brasileira Ma pratica a sustentabilidade e ganha dinheiro de boa fé, parafraseando o nome da sede que não foi escolhido aleatoriamente.
Segundo Ma, foi de propósito, pensando no conceito do modelo gerido desde o começo, mesmo que a pratica empregada, em todas as frentes de negócios, leve mais tempo para ser dominada e oferecer rentabilidade do que a pecuária e a agricultura tradicionais.