Daniel Duarte: o bitcoin e seus ciclos
Não existe nada mais monótono do que o comportamento dos ciclos do bitcoin. Reparem, é sempre igual! O preço sobe, chama a atenção, entra um monte de trouxa, o preço cai. “Rinse and repeat.” Parece simplório, mas isso já aconteceu pelo menos nove vezes nesses dez anos de história do ativo.
Como pode, então, algo tão lucrativo, com uma volatilidade brutal, repetir esse processo tantas e tantas vezes?
O movimento é justificado por basicamente dois fatores:
1. A ganância (e, consequente, a ignorância) humana é praticamente infinita;
2. A cada quatros anos, ocorre um evento intrínseco ao protocolo chamado halving.
Sou o “brodinho” que colocou todo dinheiro em bitcoin em setembro de 2016, apostando que os ciclos anteriores se repetiriam. Foi justamente essa aposta que fez meu patrimônio aumentar 30 vezes em pouco menos de um ano e meio.
Em outubro de 2018, inspirado por uma famosa filósofa que teve curta duração, Dilma Rousseff, resolvi dobrar a meta em relação à fé nos ciclos de bitcoin (risos). Mais uma vez, tive lucros expressivos. Quase 140% em menos de nove meses!
Poxa, falando assim, até pareço ser o novo Warren Buffet… mas a ideia aqui não é parecer presunçoso. Até porque, antevendo o halving, não contando com a pandemia da COVID-19 e, principalmente, com a guerra de preços do petróleo, acabei tomando uma invertida de aproximadamente 40 bitcoins (meu prejuízo numa posição na BitMEX… dói, viu?).
Moral da história: mesmo confiando na sua tese de investimento, tome extremo cuidado com a volatilidade.
Considero o trade de bitcoin — em especial, o alavancado — quase como uma arma de destruição em massa, uma bomba atômica que, se bem utilizada, pode acabar com uma guerra, mas que, se mal utilizada, tem o potencial de destruir o seu mundo.
O que me motivou a escrever esse texto?
Em primeiro lugar, escrevo para te incentivar a olhar, com atenção, esse pujante mercado. Em segundo, para deixar claro que o maior risco no investimento em bitcoin não é o ativo em si, mas os sentimentos gerados por ele.
A alegria de ver seu patrimônio crescendo pode (e vai) levá-lo a ter comportamentos extremamente irracionais.
Acredito que a chave da vitória é o entendimento mais profundo desse ativo. Exatamente por isso, no começo deste ano, tendo o halving como pano de fundo, resolvi criar um canal no Youtube. Minha ideia é transmitir um pouco do que aprendi nesses quatro anos de mercado.
A base é entender a utilidade e a escassez intrínseca do bitcoin.
A utilidade não me parece algo difícil de explicar para brasileiros com mais de 30 anos de idade já que, quem viveu o plano Collor, sabe muito bem o que é ter suas poupanças familiares sendo literalmente roubadas pelo seu próprio banco central.
Olhando para a Venezuela e sua situação deprimente, ou para a Argentina e suas infinitas taxas de câmbio diferentes contra o dólar, fica ainda mais fácil de entender o valor do bitcoin.
A criptomoeda nada mais é que o dinheiro criado pelo povo, valorizado por ele e sob seu controle. O clubinho dos banqueiros ricos, desta vez, ficou chupando o dedo… (será?).
Eu acredito piamente que a estrutura custodial, criada na Itália (as famosas “Bancas”) há pelo menos 500 anos, está prestes a mudar.
A injeção brutal de liquidez feita pelo Fed, aliada à guerra comercial e de influência com a China, gerará consequências inimagináveis. O “xadrez” mundial mudou radicalmente em 2020 e praticamente ninguém percebeu.
Afinal, o que mudou?
Ora, a China se tornou o agente mais relevante do mundo! É lá onde a produção dos insumos mais importantes do planeta se concentra.
Os EUA, da pior forma possível, estão começando a perceber sua própria irrelevância no contexto internacional. Afinal, não é para os EUA que imploramos por respiradores ou máscaras N-95.
Novamente, as alterações na trama político-econômica mundial terão enormes consequências. Ao meu ver, uma das mais óbvias será o ataque especulativo contra o dólar e a favor da moeda chinesa. Por mais que isso possa levar vários anos para acontecer, essa migração é um processo inexorável.
Mas o que o bitcoin tem a ver com isso?
Pode não ter nada, concordo. Mas pode também ter tudo. Afinal, sua independência de qualquer banco central o torna um ativo único para um povo como o chinês, acostumado às duras amarras do seu sistema financeiro pátrio.
Esse interesse chinês já havia começado em 2013. Não por acaso, nesse ano, o preço do bitcoin saiu de US$ 30 para mais de US$ 1,1 mil em pouco tempo. Foi a forte entrada do mercado chinês que deu o impulso necessário para que os preços subissem de maneira tão acentuada.
Desde então, a China disputa, com os Estados Unidos, pelas posições de destaque em relação à influência de preço do bitcoin e até mesmo da formação do mercado. De lá saem as máquinas de mineração, que garantem a segurança da rede.
Além disso, metade delas fica na própria China, em busca dos melhores custos energéticos; a outra metade é exportada para os mais diversos pontos do mundo.
Falando em mineradores…
Há cerca de dez dias, a emissão do bitcoin caiu pela metade, de 1,8 mil para 900 unidades por dia (isso você provavelmente já sabe).
Meio que como mágica, num mundo onde o número de zeros na planilha parece só aumentar, daqui a quatro anos, a emissão do bitcoin novamente diminuirá pela metade — de 900 para 450 bitcoins por dia — e, assim, sucessivamente, em ciclos de 210 mil blocos.
Em paralelo, a ONU e o censo dos EUA concordaram que, até 2050, a população mundial crescerá para 9,5 bilhões. Se essa previsão realmente for verdadeira, em 2050, haverá menos de 0,0022 BTC por pessoa no planeta, considerando que nenhum bitcoin tenha sido perdido.
Ou seja, se você comprar 0,28 BTC e esquecer deles até lá, pode ter certeza de que apenas 1% da população mundial terá condições de comprar mais bitcoin do que você detém. Cerca de US$ 2,8 mil investidos hoje darão a você o direito de pertencer ao 1% dos entusiastas de criptoativos mais ricos do futuro.
Há quatros anos, tive a certeza que bitcoin era dinheiro, enquanto meus colegas de mestrado passavam horas debatendo o tema. Hoje, me sinto tranquilo em caracterizar o bitcoin como ouro digital. Num mundo de emissão descontrolada, a escassez será valorizada.
Muito em breve, lançarei meu livro explicando, em mais detalhes, minha visão sobre bitcoin e como esse ativo interessantíssimo mudou minha vida de forma maravilhosa.
Que as faíscas da curiosidade estejam vibrando em você. Até Breve!
Daniel Duarte é formado em Administração de Empresas pela EAESP-FGV, em direito pela USP – Largo São Francisco e mestrando da OMMA com foco em Economia Austríaca. É investidor em criptoativos desde 2016 e já visitou 50 países para conhecer as particularidades dos mercados locais de bitcoin em diferentes regiões do mundo. Atualmente, possui um canal no Youtube onde difunde seu conhecimento sobre trading e cripto em geral.