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Daniel Coquieri: os impactos do coronavírus no mercado de criptoativos

19 maio 2020, 13:39 - atualizado em 21 out 2020, 15:06
Com a alta demanda por liquidez imediata que a crise gerou em seus primeiros dias, o valor do bitcoin também foi afetado, mas isso não significa que ele não se recuperou mais rápido que outros ativos e não possa ser usado como ativo de investimento (Imagem: Freepik)

Não é novidade que o coronavírus tem impactado grande parte dos setores da economia.

O consumo mundial está sendo revisto, a forma como nos comunicamos está se transformando, com sessões on-line a distância, e a economia está girando de forma diferente também. Os investimentos estão com alta volatilidade e o término desse turbilhão não está nem perto de chegar.

No mercado de investimentos, vimos que, quando a quarentena começou na maior parte dos países, em meados de março, a primeira reação dos investidores foi retirar suas aplicações para ter dinheiro na mão, em real ou dólar, com medo de emergências que pudessem surgir.

Isso fez com que a Bolsa e os ativos nos quatro cantos do mundo despencassem.

Com as criptomoedas não foi diferente. Em fevereiro, o bitcoin chegou a valer um pouco mais de US$ 10.500 e, cerca de um mês depois, despencou para US$ 3.850.

Havia grande expectativa de que, em uma eventual crise econômica global, seja ela qual fosse, a criptomoeda poderia se fortalecer, passando a ser percebida como reserva de valor ou como um ativo de segurança totalmente digital.

Entretanto, o que vimos com a crise do coronavírus e com o pânico que se estabeleceu no cenário financeiro no mundo todo foi que o mercado de criptomoedas acompanhou a queda, por conta, principalmente, da mudança de preferência dos investidores.

A crise da COVID-19 abalou todos os mercados globais, inclusive o mercado cripto (Imagem Freepik/geralt)

Sendo assim, com a alta demanda por liquidez imediata que a crise gerou em seus primeiros dias, o valor do bitcoin também foi afetado e o ativo chegou a ser negociado perto da casa dos US$ 3 mil.

Na minha visão, isso ocorreu por conta do aumento das incertezas. Num cenário como esse, o investidor não consegue calcular com precisão quais serão os reais impactos da crise sanitária.

É natural que, em momentos de grandes incertezas, os investidores busquem segurança em ativos menos voláteis ou de menor risco e, até mesmo, se precavejam alocando boa parte do seu capital em moeda fiduciária.

De toda forma, o mercado de criptomoedas está performando acima dos demais, ou seja, o impacto foi menor do que nas grandes Bolsas do mundo.

Mesmo com a desvalorização inicial, o bitcoin teve uma rápida recuperação, com alta acima dos 75%, chegando, agora em maio, ao valor de US$ 10 mil.

A retomada dos preços da criptomoeda se deve muito ao fato de que, por ser digital, não é diretamente impactada pela falta de demanda.

Por exemplo, a perda de valor das ações de uma companhia aérea acontece porque está praticamente parada por tempo indeterminado. O bitcoin, por sua vez, não sofre esse tipo de impacto. Então, é natural que a recuperação aconteça mais rapidamente.

Pudemos perceber essa rápida recuperação dentro da própria BitcoinTrade. Entre os meses de março e abril, em meio à pandemia, a corretora teve um crescimento de 35% na base de clientes.

Em meio à pandemia, investidores negociaram em bitcoin, principalmente no mercado cripto brasileiro (Imagem: Pixabay/vjkombajn)

Esse dado mostra não só que as pessoas estão sentindo mais segurança no mercado dos criptoativos, como também enxergam o bitcoin como uma opção de diversificação de investimento.

Somente em maio, o valor negociado na corretora atingiu mais de R$110 milhões e a projeção é de atingir R$1,8 bilhão até o final do ano.

Apesar da alta nos preços de várias criptomoedas, a economia em diversos países está passando por momentos de dificuldades e os governos estão tentando encontrar soluções para a crise. Uma das alternativas adotadas foi a de imprimir dinheiro para injetar liquidez na economia.

Além disso, muitos países estão criando programas de benefícios à população, seja por meio de empréstimos, do aumento da alavancagem bancária com o intuito de emprestar mais dinheiro ou, até mesmo, de programas assistenciais, como bolsas-auxílio de R$600 no Brasil.

Os governos também estão reduzindo os juros para que o dinheiro fique mais barato e as linhas de crédito mais acessíveis. Também estão abrindo mão de impostos, diminuindo, dessa forma, as cargas tributárias para poder dar um respiro à economia, às empresas e à população como um todo.

Mas tudo isso tem um preço. Os reflexos de tais medidas não serão sentidos agora, no olho do furacão, mas tão logo as lojas voltem a abrir e a roda da economia volte a girar, as consequências da flexibilização das políticas fiscais e monetárias serão evidenciadas.

A economia mundial sentirá os efeitos perversos das altas taxas de inflação e, também, do elevado grau de endividamento dos países, financiado pela impressão de dinheiro.

Com tanto dinheiro sendo injetado, o impacto nos investimentos mais tradicionais e conservadores, como ativos de renda fixa, já pode ser percebido.

A emissão desenfreada do dólar terá gravíssimas consequências a longo prazo (Imagem: REUTERS/Dado Ruvic)

Como consequência, acabam sendo uma péssima opção de composição de portfólio, por conta do baixíssimo rendimento. E, quando se olha a inflação que será gerada no futuro por conta de todo esse movimento, não é difícil perceber que algumas dessas aplicações terão rendimentos reais negativos (quando ajustados pela inflação).

Por si só, o investidor começará a ter a visão de buscar por aplicações que ofereçam algum outro tipo de ganho, topando uma maior exposição ao risco, mas que, pelo menos, tenha alguma possibilidade de lucro.

Com isso, os investidores vão, naturalmente, começar a olhar com mais atenção para o mercado cripto (assim como já olhavam para o mercado de ações), e optarão por alocar pequenas parcelas de seus portfólios nesse mercado.

Para o investidor que não está acostumado com o mercado dos criptoativos e sua alta volatilidade, a recomendação é começar alocando uma pequena parte do seu patrimônio, sempre com cautela e, aos poucos, diversificar cada vez mais.

Mesmo com toda essa turbulência econômica e social, que gerou atrasos nos mais diversos projetos, um dos eventos mais aguardados do mercado das criptomoedas se manteve: o halving do bitcoin.

Trata-se de um fenômeno que ocorre a cada quatro anos, tão esperado quanto a Copa do Mundo de futebol, e que reduz pela metade a emissão de novos bitcoins. Este ano, o evento aconteceu no dia 11 de maio.

O sistema criado, em 2009, por Satoshi Nakamoto, previa a emissão de 1,8 mil novos bitcoins por dia no terceiro ciclo. Com a entrada do quarto ciclo, a emissão diária cai pela metade (como esperado), totalizando 900 BTCs/dia. Ao todo, serão 21 milhões de unidades, com previsão de término no ano 2.140.

Hoje, temos uma oferta total de 18,3 milhões de bitcoins em circulação, que deve aumentar em taxas decrescentes, dado que um halving acontece a cada 210 mil novos blocos minerados, com a redução da emissão diária pela metade.

O halving do bitcoin aconteceu no dia 11 de maio às 16h23 (horário de Brasília), reduzindo a recompensa por bloco da rede Bitcoin de 12,5 BTC para 6,25 BTC (Imagem: Crypto Times)

O seu propósito é garantir a escassez do ativo e conter o processo de desvalorização da moeda gerado pela inflação.

Nos últimos dois halvings, que aconteceram em 2012 e 2016, o cenário econômico era outro. Não passávamos por uma pandemia ou por uma grande crise econômica mundial. O valor do ativo era mais baixo e sua difusão na mídia era significativamente menor.

Mesmo assim, a longo prazo, houve aumento importante no nível de preços após a concretização do halving. Em 2012, a moeda valia US$ 12 e, um ano após o evento, saltou para US$ 200.

Já em 2016, os preços pós-halving atingiram o seu maior pico da História, com valorização de 2.900%, chegando a ser negociado em algumas exchanges a mais de US$ 20 mil um ano e meio após o fenômeno.

A expectativa com o halving que aconteceu agora, no mês de maio de 2020, é um pouco mais incerta por conta da atual conjuntura, mas a aposta de valorização a longo prazo se mantém.

Temos a expectativa que, até meados de setembro, o bitcoin saltará de US$ 10 mil para ser negociado por algo em torno de US$ 14 mil.

A valorização da moeda segue uma dinâmica própria, mas que está amplamente ligada com a procura e oferta de negociação. Como destaquei anteriormente, só no mês de maio, negociamos, por meio da BitcoinTrade, mais de R$ 110 milhões.

Nunca, em nossa história, tivemos tantos clientes negociando criptomoedas. Isso gera um indicativo de forte aumento no interesse pela classe de ativos e se traduz em maior confiança no mercado a longo prazo.

Portanto, o que podemos esperar daqui para frente é uma provável valorização do bitcoin, ocasionada tanto pela alta inflacionária gerada pela impressão de dinheiro por parte dos governos (na esperança de que os efeitos econômicos da pandemia passem logo), como pela redução na emissão de bitcoin programada pelo protocolo.

Empreendedor com experiência no setor de tecnologia, Daniel Coquieri lançou seu primeiro negócio digital em 2006, uma empresa de jogos digitais chamada O2 Games. Em 2012, fundou a startup EzLike, plataforma para otimizar os resultados de anúncios no Facebook. Três anos depois, a startup foi vendida para o grupo americano Gravity4. Desde então, Daniel passou a realizar investimentos-anjo em startups brasileiras. Hoje, é responsável pelas operações da BitcoinTrade nas áreas de marketing, desenvolvimento de produtos e relacionamento com clientes.