Da política para os balanços
Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.
O foco dos mercados domésticos sai do noticiário político e se ajusta para a temporada de balanços, que teve ontem à noite o auge da safra. O lucro líquido de R$ 4,4 bilhões da Petrobras apenas nos três primeiros meses deste ano, revertendo o prejuízo de R$ 1,2 bilhões em igual período do ano passado, realça a eficiência na gestão e o caráter profissional que vem marcando não só ao governo, mas também as empresas estatais.
Esse perfil tende a manter elevado o otimismo dos investidores quanto à capacidade de recolocar o Brasil de volta aos trilhos, em meio às reformas que vem sendo implementadas. No caso da Petrobras, o presidente da companhia, Pedro Parente, resumiu dizendo que foi um bom trimestre, com resultados operacionais e financeiros positivos.
Modéstia à parte, foi o maior lucro da estatal em dois anos. Além disso, a Petrobras, a companhia de petróleo mais endividada do mundo, conseguiu diminuir a montanha de empréstimos pendentes e terminou o primeiro trimestre com uma dívida total de US$ 115,12 bilhões, contra US$ 118,37 bilhões ao final de 2016.
Esses números devem animar as ações da companhia na Bovespa, impulsionando os negócios locais. Outra notícia que tende a movimentar a renda variável é a compra feita pelo Itaú Unibanco por 49,9% do capital total da XP Investimentos por R$ 6,3 bilhões.
Com a operação, o maior banco privado do país sai da zona de conforto e passa a competir também no segmento de investimentos, intensificando o processo de “desbancarização”. Trata-se de mais uma notícia capaz de realimentar a confiança no percurso traçado para o Brasil, com rentabilidade às empresas e menor tamanho do Estado na economia.
Mas a segurança de que o governo vai conseguir emplacar as reformas e virar o placar da Previdência precisa de fatos mais concretos, pois uma coisa é a aprovação do parecer na comissão especial e outra é a vitória no plenário da Câmara. Não basta ter só a convicção de que o Palácio do Planalto irá conquistar os 308 votos, mas também é certo que se a votação estivesse comprometida, os investidores não estariam tão confiantes.
Nessa disputa para avançar o texto ao Senado, a negociação entre Executivo e parlamentares tende a ser intensa. O corpo-a-corpo com os deputados caminha para a reta final e, nos bastidores, fala-se que a liberação de recursos (emendas) e a distribuição de cargos em troca de apoio irá custar até R$ 15 milhões por cabeça.
Pouco importa, nesse caso, o ônus aos cofres públicos para emplacar a agenda de reformas, em prol, justamente, da melhora das contas públicas. Os negócios locais enxergam força na articulação política do presidente Michel Temer, que pode conseguir reunir até uma margem mais ampla no plenário, o que elevaria a pressão no Senado.
Um sinalizador importante seria se o PMDB fechasse questão a favor das reformas. Mas se nem o partido de Temer garante apoio integral, fica difícil convencer outros aliados, como o PSDB e o DEM, a fazerem isso.
Até por isso, parte do mercado prefere esperar pela votação da reforma da Previdência para calibrar as apostas em relação à taxa básica de juros (Selic). Os investidores estão cientes de que a grande prova será no plenário, em especial no primeiro turno, quando a força do governo será testada.
Mas o receio é de que não haja tempo hábil para avançar a matéria aos senadores antes da reunião de maio do Comitê de Política Monetária (Copom), nos próximos dias 30 e 31. O governo tem feito o impossível para cumprir o calendário e votar a reforma da Previdência, em dois turnos, na Câmara até o fim deste mês.
Até lá, os negócios locais vão oscilar ao sabor das notícias. Mas o noticiário em Brasília deve ser mais fraco hoje, assim como está a agenda econômica doméstica, que traz apenas o desempenho do setor de serviços em março (9h), fechando os números da atividade que irão formar os dados do Produto Interno Bruto (PIB), no lado da oferta.
Com isso, as atenções devem voltar-se ao cenário externo, onde o calendário econômico ganha força. Logo cedo, saíram dados de atividade e inflação na zona do euro. Às 9h30, é a vez do índice de preços ao consumidor (CPI) norte-americano e também das vendas no varejo dos Estados Unidos, ambos referentes ao mês de abril.
Depois, às 11h, é a vez da leitura preliminar de maio do índice de confiança do consumidor e também dos estoques das empresas em março. À espera desses números, os índices futuros das bolsas de Nova York estão em queda, o que não inibe o sinal positivo nas bolsas europeias, após uma sessão mista na Ásia. O petróleo segue volátil.
Em tempo: o impacto nos mercados domésticos do depoimento do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva em juízo tende a ser nulo. O juiz Sérgio Moro deve julgar a ação do tríplex até julho, na qual o ex-presidente é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro.
Uma eventual condenação não impede Lula de disputar as eleições de 2018. Para ficar inelegível, ele teria de ser condenado também em 2ª instância, em um processo que pode demorar mais de um ano para julgar a apelação. Na fala a Moro, o ex-presidente parece manter o plano de lançar candidatura e nega posse do tríplex.
Ainda assim, o noticiário negativo envolvendo o ex-presidente pode ajudar em uma vitória do candidato da situação nas eleições presidenciais do ano que vem. A exposição e a repercussão dos fatos dá conforto aos investidores em relação a 2018 e deixa o mercado confiante de que o próximo governo poderá ser centrista e continuar com as reformas já em curso.