Internacional

Czar do comércio de Trump defende tarifas odiadas por críticos

23 dez 2020, 12:52 - atualizado em 23 dez 2020, 12:52
Robert Lighthizer
Sem o impacto da pandemia deste ano, argumenta Lighthizer, fica claro que a doutrina comercial de Trump foi eficaz (Imagem: REUTERS/Al Drago)

Robert Lighthizer construiu uma carreira sendo um astuto do contra.

Portanto, não deve ser surpresa que o czar do comércio do presidente Donald Trump esteja prestes a deixar o cargo discordando do consenso entre economistas tradicionais de que as políticas que marcaram o atual governo – tarifas sobre bilhões em importações da China e aço do mundo todo – fracassaram segundo a maioria dos indicadores.

Os EUA estão perto do fim da presidência de Trump e de um ano afetado pela pandemia com déficit comercial em bens e serviços maior do que o que ele herdou, apontam críticos de Lighthizer. Pelo menos 100 mil americanos a menos estavam empregados na indústria em novembro do que no início da presidência de Trump.

No entanto, o representante comercial dos EUA, que se prepara para deixar o governo em janeiro convencido de ter liderado uma mudança radical na política comercial americana, especialmente em relação à China, vê uma história diferente confirmada pelos dados.

Sem o impacto da pandemia deste ano, argumenta Lighthizer, fica claro que a doutrina comercial de Trump foi eficaz.

Cinco dos seis trimestres anteriores à pandemia registraram reduções no déficit de bens e serviços dos EUA, destaca, embora nos oito anteriores a tendência tenha sido inversa. Antes de a Covid-19 atingir a economia em fevereiro, acrescenta, os Estados Unidos haviam criado mais de 500 mil empregos na indústria sob o comando de Trump.

Mais importante, porém, essas mudanças se traduziram em salários mais altos para trabalhadores americanos. Em 2019, a renda familiar média havia crescido 6,8% em relação ao ano anterior.

“É o nível mais alto da história americana”, disse Lighthizer em entrevista.

Isso pode frustrar seus críticos, mas a visão contrária de Lighthizer é uma evidência de que, como em suas outras formas, o legado comercial do trumpismo pode ser duradouro.

O presidente eleito Joe Biden e seus assessores já sinalizaram isso, em parte ao prometer um foco pró-trabalhadores enquanto reconstroem a economia dos EUA e uma política comercial que será um componente do que chamam de “política externa para a classe média”. Embora o que isso signifique de fato ainda não esteja claro.

Mais claro é que a visão protecionista de Trump e o apoio que ganhou novamente em importantes estados industriais como Ohio neste ano provavelmente continuarão a encorajar os próprios céticos do comércio e progressistas do Partido Democrata.

É por isso que a batalha sobre a lógica econômica do legado comercial de Trump é importante e irá obscurecer o trabalho da provável sucessora de Lighthizer, Katherine Tai, funcionária sênior do Congresso que Biden escolheu para o papel.

Em muitos aspectos, é uma batalha teológica. Adam Posen, presidente do Instituto Peterson de Economia Internacional, que tem liderado os argumentos analíticos contra as políticas comerciais de Trump desde 2016, compara qualquer defesa estatística àquelas oferecidas por negacionistas da mudança climática ou céticos da vacina.

Para críticos como Posen, a ferramenta preferida de Trump e Lighthizer – tarifas ou impostos de importação – acaba de passar por um experimento de descrédito público.

Lighthizer argumenta que nenhuma das previsões dos críticos de colapsos do mercado financeiro ou econômico e aumentos de preços que acompanharam o lançamento das tarifas por Trump em 2018 e 2019 se materializaram. “É uma lição importante saber que essas catástrofes que previram não aconteceram”, diz.

Nem as tarifas do aço apontadas por críticos como uma das causas da queda da produção industrial nos EUA em 2019 realmente prejudicaram os fabricantes, argumenta.

Lighthizer afirma que as tarifas, juntamente com o acordo comercial de “fase um” assinado com o governo de Pequim em janeiro, ajudaram a reequilibrar o comércio com a China e fizeram parte de uma campanha de pressão efetiva para reduzir o peso do país asiático nas cadeias de abastecimento.

Compartilhar

TwitterWhatsAppLinkedinFacebookTelegram
bloomberg@moneytimes.com.br
Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies.

Fechar