Economia

Custos de contratação tornam recuperação dos empregos mais lenta do que a retomada econômica

03 jul 2020, 22:44 - atualizado em 03 jul 2020, 22:49
Construção Emprego
“Como há muitos custos, os empresários só vão contratar ou demitir se tiverem segurança do cenário econômico”, diz o pesquisador do Ipea (Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A recuperação do mercado de trabalho brasileiro após o choque causado pela pandemia do novo coronavírus, causador da covid-19, tende a ser mais lenta que o retorno da atividade econômica, que teve seu pior momento em abril. A avaliação é de pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), que afirmam que a retomada depende do controle da pandemia.

O Ipea divulgou, no início da noite de hoje, uma avaliação sobre os dados obtidos na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios focada nos impactos da covid-19 (Pnad-Covid) e realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) e divulgada hoje (3).

O diretor adjunto de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, Marco Cavalcanti, explicou que, em momentos de crise, os custos de demissões fazem com que os dados do mercado de trabalho piorem mais lentamente que os efeitos imediatos na atividade econômica. De forma semelhante, os custos de contratação fazem com que a retomada dos empregos seja mais lenta em momentos de recuperação.

“Como há muitos custos, os empresários só vão contratar ou demitir se tiverem segurança do cenário econômico que vem pela frente. Se os empresários estiverem inseguros em relação às perspectivas futuras, vão pensar duas vezes antes de começar a contratar”, diz o pesquisador. “Todo o cenário de recuperação da atividade econômica e do mercado de trabalho está condicionado, certamente, ao controle da pandemia.”

População
Apenas na semana de 7 a 13 de junho, o número de trabalhadores que procuraram emprego e não encontraram aumentou em 700 mil pessoas (Imagem: Tomaz Silva/Agência Brasil)

Os dados da Pnad-Covid mostram que a taxa de desocupação aumentou para 12,1% nas duas primeiras semanas de junho. Na primeira quinzena de maio, o percentual era de 10,4%. Apenas na semana de 7 a 13 de junho, o número de trabalhadores que procuraram emprego e não encontraram aumentou em 700 mil pessoas, chegando a 11,9 milhões.

Cavalcanti explica que o aumento da taxa de desocupação está relacionado à queda de 0,7% na população ocupada e ao aumento de 1,2% na força de trabalho, que inclui todas as pessoas trabalhando ou procurando emprego. Uma das razões para tal aumento é que caiu 4,9% o número de pessoas que declararam não ter procurado trabalho por causa da pandemia. Em números absolutos, a queda representa cerca de 900 mil pessoas, que estavam fora da taxa de desocupação porque esta inclui apenas quem procurou trabalho e não encontrou.

“São pessoas que, possivelmente, estavam temerosas de sair às ruas e pessoas que estavam desalentadas achando que não iriam conseguir emprego”, descreve Cavalcanti,  acrescentando que o outro lado do aumento da desocupação é inegavelmente ruim: o nível de ocupação caiu e chegou a apenas 49,1% da população em idade ativa.

Para o pesquisador, um dado considerado sinal de que os efeitos da crise podem estar arrefecendo é a redução do número de pessoas afastadas do trabalho por causa do isolamento social. Esse percentual caiu de 16,4 milhões para 12,9 milhões entre as primeiras quinzenas de maio e junho. “Na mesma linha, o número de pessoas trabalhando de forma remota caiu dentro da margem.”

Ele resume que os sinais do mercado de trabalho são mistos, e a tendência é que o retorno de mais pessoas à busca de emprego pressione a taxa de desocupação. “Não dá para afirmar, com certeza, que, no que se refere ao mercado de trabalho, o pior já passou.”

Veja a pesquisa:

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