Grãos

Custo de produção de grão arábica é muito alto para Guatemala

03 dez 2020, 8:52 - atualizado em 03 dez 2020, 8:52
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A Guatemala é o sexto maior fornecedor mundial de grãos arábica (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

A Guatemala, segundo maior exportador de café da América Central, não tem como aumentar a produção dos grãos preferidos por grandes cafeterias, pois custos crescentes desestimulam investimentos de agricultores do país.

A Guatemala é o sexto maior fornecedor mundial de grãos arábica, variedade usada pela Starbucks. A gigante de café de Seattle até destaca os grãos do país como “referência de qualidade” no site da rede.

Mas essas vantagens não são suficientes para as 125 mil famílias que cultivam café na Guatemala, que enfrentam custos mais elevados com a mudança climática e a pandemia, disse Juan Luis Barrios, cafeicultor que também é o novo presidente da Associação Nacional do Café da Guatemala.

“Não há incentivos para expandir”, disse Barrios em entrevista por telefone. “O preço atual não é suficiente para um salário mínimo.”

Os contratos futuros de arábica em Nova York são negociados pela metade do preço há uma década. O contrato mais ativo foi negociado a US$ 1,19 a libra-peso na quarta-feira.

A ampla oferta do Brasil manteve os preços baixos, pois o maior produtor mundial se beneficiou da alta do dólar frente ao real para expandir a produção, enquanto as moedas da Colômbia e da Guatemala mostraram melhor desempenho em relação às verdinhas, o que, segundo Barrios, prejudicou cafeicultores.

“Poucas famílias saíram do mercado, mas muito poucas também entraram”, disse Barrios. “Uma fazenda de pequeno a médio porte não está cobrindo o custo de produção.”

Pequenos cafeicultores representam agora 97% dos produtores da Guatemala, e os grandes estão desaparecendo, disse o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos em maio.

Muitos pequenos agricultores produzem com prejuízo, com custos entre US$ 190 e US$ 230 por saca de 60 quilos, em comparação com preços internacionais de cerca de US$ 170 a US$ 190 para a temporada de 2019, disse a agência.

O clima também afeta cafeicultores com o aumento das temperaturas globais e mudança dos padrões climáticos, o que causa mais eventos adversos.

Um número recorde de tempestades atingiu o Caribe, a América Central e os EUA em 2020, um dos três anos mais quentes já registrados.

A maior umidade devido às tempestades aumenta as chances de pragas como a ferrugem das folhas, uma doença fúngica que se desenvolve em altas temperaturas e que gerou custos de milhões de dólares para cafeicultores ao redor do mundo na última década.

Isso os obriga a gastar mais no controle e prevenção de tais problemas, o que aumenta ainda mais os custos.

“Algumas doenças você aprende a controlar, mas a frequência dos ciclos aumentou”, disse Barrios, acrescentando que, neste ano, dois furacões causaram danos em muitas áreas da Guatemala e cortaram o acesso a algumas regiões.

Apesar disso, Barrios estima que o furacão Iota reduzirá a produção em apenas 1% no ano-safra 2020-21, mantendo as exportações anuais totais pouco alteradas em 3,2 milhões de sacas.

O volume ainda está muito abaixo do pico há duas décadas. No geral, a área plantada da Guatemala se manteve em 305 mil hectares.

Para agravar o quadro, estão os protocolos impostos pela Covid-19 neste ano, que também aumentaram os custos, disse Barrios. A situação dos cafeicultores da Guatemala reflete a de muitos outros na região, como Honduras, o maior exportador, onde as safras foram afetadas por furacões e autoridades ainda calculam o impacto.