Crítico do acordo com Mercosul, com foco no Brasil, irlandês será comissário de Comércio da UE
O anúncio de que o novo comissário de Comércio da União Europeia (UE) será o irlandês Phil Hogan deve ser tomado como alerta pelo Mercosul, sobretudo pelo Brasil. O acordo negociado recentemente, sob desconfiança de vários países europeus quanto à política ambiental brasileira, terá como xerife um dos seus principais críticos.
A Irlanda, junto da França, é o país mais refratário a aceitar a negociação fechada em junho, especialmente por ser provedora de parte da carne bovina consumida no continente. E Hogan, ainda atual comissário da Agricultura, foi voto vencido durante as negociações, e agora terá meios para criar mais obstáculos e a conclusão total da costura comercial que levou 20 anos para sair pode demorar mais do que um ano.
A atual comissária de Comércio, Cecilia Malmström, que deixa o cargo ao final de outubro, disse ontem (2), que dificilmente o entendimento entre UE e Mercosul chegue à mesa dos ministros antes do Natal de 2020, portanto quanto muito passaria a valer em 2021.
Além de condicionar a ratificação do acordo lembrando da necessidade de todos os países membros manterem produção agropecuária sustentável – e sem citar o Brasil diretamente – “caso contrário a ratificação pode ser problemática”, a sueca argumentou que os parlamentos precisam aprová-lo.
Primeiro, na Eurocâmara, em Bruxelas, depois os de cada país membro. Especialmente no parlamento comum europeu, que o futuro comissário de Comércio, a partir de 1º de novembro, pode traçar uma nova linha.
Sem falar que na Irlanda, certamente, o acordo será rechaçado pelos parlamentares.
Embora Phil Hogan não deve advogar em “causa própria”, ou seja, ele é representante do bloco e não de um país (a Irlanda, no caso), o poder de postergar e fazer novas exigências não pode ser menosprezado.