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Cristián Bohn: COVID-19 e as oportunidades de infraestrutura financeira

08 maio 2020, 13:30 - atualizado em 09 set 2021, 10:15
A pandemia veio para nos mostrar o quão ultrapassados são os sistemas financeiros mundiais; a tecnologia cripto pode preencher essa lacuna e dar acesso aos “desbancarizados” (Imagem Freepik/geralt)

A fim de evitar que a pandemia da COVID-19 se torne em uma profunda crise econômica, governos em todo o mundo apresentaram diversas medidas de estímulo monetário e fiscal, “imprimindo” dinheiro como nunca visto antes.

Isso evidenciou as grandes desigualdades no acesso a serviços financeiros entre grandes corporações e pequenas e médias empresas (PMEs), principalmente em mercados emergentes.

Acesso a linhas de crédito por PMEs já era algo desafiador em diversos países emergentes, então o auxílio financeiro prometido a elas por governos parece ainda mais restrito por conta do aumento nos custos financeiros, da ineficácia dos canais de distribuição (bancos e intermediários), da segregação de fontes de dados e da falta de padronização de informações financeiras.

Devido a essas restrições, PMEs enfrentam uma dura realidade quando buscam por auxílio financeiro, apesar de ter sido prometido pelos governos. É provável que essas dificuldades resultem em insolvências sistemáticas entre a maioria das PMEs afetadas, o que contribuirá para níveis imprevisíveis de desemprego e pior desigualdade entre sociedades.

Uma das principais fontes dessa desigualdade é relacionada ao estado da infraestrutura financeira entre os países. A qualidade da infraestrutura financeira ditará a habilidade dos governos transmitirem auxílio financeiro entre estruturas de mercado.

Infelizmente, a canalização da infraestrutura financeira atual na maioria dos países permanece imutável nas últimas décadas, causando grandes ineficácias para governos e outros participantes financeiros para atender àquelas PMEs que mais precisam do auxílio financeiro.

Embora esse movimento dos criptoativos seja extremamente associado à criação do bitcoin, acreditamos que criptoativos possam solucionar problemas presentes na infraestrutura financeira atual.

A infraestrutura de criptoativos fornece acesso justo a serviços financeiros por meio da padronização de informações e processos financeiros.

Protocolos como Ethereum e Corda da R3 foram criados para fornecer suporte a estruturas de contas, representação de ativos e contratos programáveis automatizados (“contratos inteligentes”).

O atual estado da tecnologia blockchain pode ser usado para replicar pagamentos e sistemas de resolução, em que ativos e passivos financeiros possam ser negociados instantaneamente sem risco de liquidação em vez de esperar vários dias, assim como na atual configuração de mercado.

A tecnologia blockchain retira os intermediários desnecessários ao fornecer um sistema transparente e bem mais ágil do que os sistemas tradicionais (Imagem: Freepik)

Acreditamos que a adesão da infraestrutura digital aumentará o acesso a serviços financeiros e ajudar na redução de custos e de riscos do sistema bancário.

O movimento dos criptoativos está criando uma infraestrutura financeira inovadora a um ritmo inédito.

Inúmeros projetos em todo o mundo, variando de iniciativas privadas a públicas, estão pesquisando e aplicando novas infraestruturas financeiras, que irão resultar em um melhor acesso a produtos financeiros e serviços para todos os participantes do mercado.

A inovação gerada pelo movimento dos criptoativos é o maior avanço na infraestrutura financeira desde a criação das redes de cartão de crédito na década de 1960.

A força do movimento foi confirmada pelo amplo interesse entre esferas públicas e privadas.

Bancos centrais em todo o mundo começaram a explorar moedas digitais emitidas por bancos centrais (CBDCs, na sigla em inglês) e, no setor privado, o Facebook está desenvolvendo uma rede global de pagamentos chamada Libra com base na tecnologia blockchain.

Esses acontecimentos contribuíram na pavimentação do movimento digital além da criação do bitcoin.

A crise do COVID-19 nos mostrou a importância da transformação digital e evidenciou grandes oportunidades na infraestrutura financeira em todo o mundo.

Esperamos que os governos entendam o desafio que está à nossa frente e forneçam um caminho regulatório e livre para melhorar a infraestrutura financeira e fornecer acesso justo a todos os participantes do mercado.

Cristian Bohn é CFO e cofundador da ParFin e ex-gestor de renda fixa do EFG Asset Management e BTG Pactual. Constrói os serviços e a infraestrutura financeira necessários para desbloquear a revolução dos ativos digitais.