Crise no crédito: Entenda por que os empréstimos para pessoa física encareceram
Desde que assumiram o poder, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a sua equipe econômica estão preocupados com o crédito no Brasil. E não é para menos: nos últimos meses, conseguir um empréstimo está cada vez mais difícil, o que atrapalha na recuperação econômica.
Segundo o relatório da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, os saldos e as concessões de crédito às pessoas físicas têm registrado crescimento concentrado em linhas de pior perfil de tomador. Ou seja, que não possuem garantias envolvidas nas operações, como cartão de crédito e cheque especial.
Acontece que estas modalidades possuem maiores spreads bancários e taxas finais de juros mais altas. Na pessoa física, spread bancário subiu 4,79 ponto percentual em janeiro de 2023 na comparação com igual mês do ano passado.
Já o aumento do spread nas linhas voltadas às empresas foi relativamente menor, de 1,64 p.p.
- Entre para o Telegram do Money Times!
Acesse as notícias que enriquecem seu dia em tempo real, do mercado econômico e de investimentos aos temas relevantes do Brasil e do mundo. Clique aqui e faça parte!
“Ainda que o estoque de crédito esteja registrando expansão, em termos reais, na comparação com o ano anterior, esse crescimento está concentrado em linhas de pior qualidade do ponto de vista de garantias oferecidas”, afirma o documento.
Menos crédito e mais caro
Durante a pandemia, houve uma aceleração tanto no crédito destinado às empresas, quanto nos empréstimos voltados às famílias. No entanto, a desaceleração da atividade econômica e a manutenção da Selic no patamar de 13,75% ao ano está gerando uma perda de ímpeto na expansão do crédito.
Dados do Banco Central mostram que o estoque de crédito da economia atingiu R$ 5.317,4 bilhões em janeiro. Trata-se de um montante 0,3% inferior ao apurado em dezembro de 2022 e 13,6% superior a janeiro de 2022.
Outro problema é que houve um aumento da inadimplência ao longo de 2022, deixando os bancos mais cautelosos, e isso puxou os juros para cima, assim como a maior utilização de linhas mais caras pelos consumidores. Segundo o Serasa, o Brasil registrou 69,4 milhões de brasileiros inadimplentes no ano passado; resultado 7,8% maior do que no ano anterior.
Em 2022, o crescimento da inadimplência nas carteiras de pessoas físicas ocorreu de forma mais rápida quando comparado com o período 2015-2016, quando comparado com a melhora observada nas condições do mercado de trabalho no período.
“Isso reforça a hipótese de influência da deterioração nas condições dos financiamentos, especialmente nas taxas de juros dos empréstimos, sobre a piora da inadimplência”, diz o IFI.
O relatório ainda destaca que a deterioração nas condições do mercado de trabalho durante a pandemia pode explicar o aumento do crédito em linhas de pior qualidade. Além disso, a recuperação judicial de empresa de grande porte no Brasil e a falência recente de dois bancos nos Estados Unidos trazem riscos adicionais à oferta de crédito ao ampliarem a percepção de risco dos bancos.
Por fim, também foi identificado um elevado nível de comprometimento de renda das famílias com o pagamento de dívidas bancárias.
Em novembro de 2022, último mês com informação disponível pelo Banco Central, o comprometimento de renda das famílias brasileiras foi calculado em 27,73%. Em novembro de 2021, o comprometimento total apurado foi de 26,11%.