Commodities

Crise na demanda: sangria da China contamina transportadoras de commodities

06 fev 2020, 8:15 - atualizado em 06 fev 2020, 8:20
Exportações
Há sinais de congestionamento nos portos e relatos de que usinas estão cortando a produção, alerta especialista (Imagem: REUTERS/Brendan McDermid)

A indústria global de transporte de commodities enfrenta um trimestre extremamente desafiador com o impacto do surto do coronavírus na China sobre uma demanda sazonalmente baixa e também com as recentes mudanças das regras para combustíveis, de acordo com a IHS Markit.

A emergência de saúde na maior economia da Ásia, o maior importador mundial de minério de ferro, tem provocado choques nos mercados de matérias-primas e nas empresas que transportam mercadorias pelos oceanos. As taxas de frete caíram em meio a sinais de menor demanda por carregamentos.

Em entrevista à Bloomberg Television, Rahul Kapoor, chefe global de análise de commodities e de pesquisa para o setor marítimo e de comércio, disse que há sinais de congestionamento nos portos e relatos de que usinas estão cortando a produção.

Segundo ele, o vírus pode reduzir o crescimento da China em até 1%, o que é negativo para a demanda por embarques.

O setor de transporte marítimo enfrenta uma “crise da demanda no curto prazo”, pois depende muito de negócios na China, disse Kapoor. “O primeiro trimestre já está perdido, pelo menos para transportadoras de commodities”, afirmou.

O número de mortes na China continental subiu para 563 em 5 de fevereiro (Imagem: Reuters/Carlos Garcia Rawlins)

O Índice Baltic Dry – um amplo indicador da demanda por navios – caiu para o nível mais baixo desde 2016 com a escalada da crise na China e sinais de gargalos em todos os cantos do mundo. Importadores de cobre da China estão pedindo que mineradoras chilenas atrasem os envios devido ao fechamento dos portos.

A saúde do mercado de minério de ferro é fundamental para o transporte a granel. Austrália e Brasil, os maiores produtores, exportam mais de 1 bilhão de toneladas por ano do material usado na fabricação de aço.

Com a propagação do vírus, os futuros em Cingapura já acumulam baixa de 13% este ano. Os preços do aço também estão em queda.

Refletindo os desafios na China, a principal associação de aço alertou sobre os problemas de transporte, demanda mais fraca e uma situação de curto prazo que não parece otimista.

Refletindo os desafios na China, a principal associação de aço alertou sobre os problemas de transporte (Imagem: Divulgação/Gerdau/Facebook)

As usinas devem ajustar os cronogramas de produção com base em pedidos, finanças e capacidade de transportar materiais, disse a China Iron & Steel Association.

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‘Espalhando rápido’

O coronavírus está “se espalhando rapidamente e tendo um impacto significativo na economia chinesa”, de acordo com a S&P Global Ratings, segundo a qual a demanda por commodities pode ser afetada por vários meses. A crise deve se estabilizar globalmente em abril, permitindo que a demanda e os preços subam gradualmente, afirmou.

O número de mortes na China continental subiu para 563 em 5 de fevereiro, segundo a Comissão Nacional de Saúde. Os casos confirmados já somam 28 mil.

Uma recuperação dos embarques será lenta e prolongada nos próximos meses, segundo Kapoor. Há potencial para estímulos do governo no segundo semestre, o que pode ajudar a demanda, acrescentou.