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Crise mostrou Brasil nadando sem sunga, diz Stulhberger; Verde zera ações brasileiras e vê juro menor

08 jun 2017, 15:56 - atualizado em 05 nov 2017, 14:02

Por Ângelo Pavini, da Arena do Pavini

O cenário atual lembra uma citação costumeiramente atribuída ao gênio dos investimentos Warren Buffett: “Apenas quando a maré baixa é que vemos quem está nadando pelado”. O oceano de liquidez global ainda é abundante, mas em 17 de maio a sunga brasileira parece ter sido surrupiada. A avaliação é do gestor Luís Stuhlberger e sua equipe no relatório mensal do fundo Verde, o maior multimercado do país, com mais de R$ 10 bilhões de patrimônio.

A imagem representa perfeitamente bem o impacto da crise política nos ativos financeiros brasileiros e nos fundos multimercados em maio: a imensa maioria dos gestores, mesmo os mais experientes, foi pega nadando sem sunga, como mostram as perdas no mês. Até o Verde, que vinha alertando para os riscos da economia brasileira há meses, fechou maio com perda de 0,88%, por conta do que o relatório classifica como “cisne negro” do dia 17. Cisne negro é como o analista de riscos Nassim Taleb chama os eventos inesperados que impactam fortemente os mercados, mas que depois são vistos como previsíveis.

Segundo o relatório, o Verde ganhou em maio com ações no exterior e com apostas em euro, mas perdeu nas aplicações prevendo a queda da moeda chinesa, o renminbi, que se valorizou após a atuação do Banco do Povo da China. Já nas posições no Brasil, o fundo perdeu com a alta do juro real e com a queda das ações brasileiras, causados pela crise política. Para o gestor, o cenário político, que já não era simples, foi fortemente abalado pelas revelações de gravações, propinas e outros fatos envolvendo o núcleo do governo. “A probabilidade de continuidade do atual governo se reduziu sobremaneira, com consequências bastante claras para os preços dos ativos”, diz o relatório.

O que evitou uma perda maior, segundo o relatório, é o que Stuhlberger chama de boa vontade global e uma “quase euforia de fluxos para mercados emergentes”. Além de amortecer os choques da crise política, esse fluxo estrangeiro tem “permitido uma certa aparência de normalidade econômica, que até certo ponto tem beneficiado as chances de sobrevivência” do governo Temer.

Para o gestor, porém, “a questão crucial que se coloca hoje é: como se moveu a probabilidade de aprovação da reforma da previdência?”, questiona, lembrando que “há meses” mantém uma postura mais cética em relação à aprovação da reforma, diante da dificuldade de o governo conseguir 308 votos na Câmara para aprovar uma emenda constitucional. “Deste prisma, hoje vemos uma situação mais complicada ainda: o custo político de votar a favor de uma reforma (e governo) impopular aumentou muito, enquanto o capital político que este governo dispõe para angariar votos se reduziu sobremaneira”, avalia o gestor.

Para ele, a probabilidade de aprovação da reforma caiu substancialmente, mas, surpreendentemente, o mercado não está considerando isso nos preços dos ativos. “A distância entre nossa visão sobre o tema, e o que está precificado no mercado, só aumentou desde 17 de maio”, afirma, numa referência à retomada dos preços das ações, da queda do dólar e dos juros após o pico da crise.

A estratégia daqui por diante do Verde, segundo o relatório, será reduzir ainda mais as aplicações em ativos brasileiro. “A conclusão natural desta avaliação é um portfólio com menos risco no Brasil”, diz o gestor. “Reduzimos a nossa já pequena posição comprada em ações brasileiras, e aumentamos hedges no mercado de juros”, afirma. Ele acrescenta que continua “mantendo convicção que o juro real tem espaço para ser substancialmente mais baixo, ainda mais dado o choque negativo de confiança que os agentes econômicos receberam”.