Crise de vírus pode acelerar inflação global, diz Morgan Stanley
A crise de coronavírus pode acabar com um período de 30 anos de forças desinflacionárias e sinalizar o retorno de maior pressão inflacionária que deve estourar metas dos bancos centrais, segundo o Morgan Stanley.
“Pela primeira vez em uma década, finalmente estamos conseguindo alívio monetário e fiscal coordenado, uma dinâmica de política que consideramos essencial para sair do ciclo de baixo crescimento e baixa inflação”, disse Chetan Ahya, economista-chefe e responsável global de economia do Morgan Stanley, em relatório de pesquisa. “A escala de afrouxamento também é sem precedentes durante tempos de paz.”
Os principais bancos centrais têm cortado taxas de juros e aumentado a compra de títulos, enquanto governos destinaram mais de US$ 8 trilhões em estímulos para amortecer o impacto das paralisações impostas para conter a propagação do vírus.
Essas medidas, combinadas com prováveis programas para combater a desigualdade de riqueza, começarão a impulsionar a inflação, disse Ahya.
As medidas de governos para conter o vírus agravam as desigualdades existentes entre ricos e pobres. Para lidar com o problema, segundo Ahya, formuladores de políticas terão que tomar medidas que reorganizem as forças que pressionam os preços há décadas: regras de comércio, tecnologia e titãs corporativos globais.
“Mexer nesse trio também significa romper as principais forças desinflacionárias estruturais dos últimos 30 anos”, afirmou.
A avaliação do Morgan Stanley contrasta com o consenso emergente de que a recessão global que se aproxima deve aprofundar as tendências de desinflação e pode até levar algumas economias à armadilha deflacionária vista no Japão desde a década de 1990.
Vários itens como petróleo, cobre, hotéis e vestuário registram queda de preços em meio aos confinamentos que encolhem a demanda.
Ahya afirmou que a maior desigualdade e política monetária e fiscal abertamente expansionista colocam os EUA na posição de maior risco de aceleração da inflação durante esse ciclo.
“Vemos a ameaça de inflação a partir de 2022, que ficará acima das metas dos bancos centrais neste ciclo”, disse. “As forças motrizes da inflação já estão alinhadas, e uma mudança de regime está em andamento. A tendência desinflacionária de curto prazo rapidamente dará lugar à reflação e, depois, à inflação.”