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Crise de contêineres afeta comércio global de alimentos

02 fev 2021, 18:08 - atualizado em 02 fev 2021, 18:08
Exportações Portos Contêineres
A China, que se recuperou mais rápido da pandemia de Covid-19, acelerou sua economia com foco em exportações e está pagando enormes prêmios por contêineres (Imagem: Reuters/Fabian Bimmer)

Alimentos se acumulam em lugares errados, já que navios têm transportado contêineres vazios.

Com a competição global por contêineres marítimos, a Tailândia não pode embarcar arroz, o Canadá acumula ervilhas e a Índia não consegue exportar sua montanha de açúcar. O transporte de caixas vazias de volta para a China se tornou tão lucrativo que até mesmo alguns transportadores de soja dos EUA precisam disputar contêineres para abastecer os famintos compradores asiáticos.

“As pessoas não estão recebendo produtos onde precisam”, disse Steve Kranig, diretor de logística da IM-EX Global, transportadora que envia cargas como arroz, bananas e os chamados dumplings da Ásia para os EUA. “Um de meus clientes envia de 8 a 10 contêineres de arroz todas as semanas da Tailândia para Los Angeles. Mas só pode despachar 2 a 3 contêineres por semana agora.”

O problema central é que a China, que se recuperou mais rápido da pandemia de Covid-19, acelerou sua economia com foco em exportações e está pagando enormes prêmios por contêineres, o que torna muito mais lucrativo mandá-los de volta vazios do que recarregá-los.

Há sinais de que as altas taxas de frete têm elevado o custo de alguns alimentos. Os preços do açúcar branco dispararam para o maior nível em três anos no mês passado, e atrasos nos embarques de soja de grau alimentício dos EUA podem resultar em custos mais altos de tofu e leite de soja para os consumidores na Ásia, disse Eric Wenberg, diretor executivo da Speciality Soya and Grains Alliance.

Custos dos alimentos

Embora não seja totalmente atípico que contêineres retornem vazios após uma viagem, as transportadoras geralmente tentam reabastecê-los para lucrar com as taxas de envio em ambas as direções. Mas o custo de transportar mercadorias da China para os EUA é quase 10 vezes maior do que na viagem oposta, favorecendo o envio de caixas vazias em vez de carregadas, segundo dados da Freightos.

No porto de Los Angeles, o maior dos Estados Unidos para cargas em contêineres, três em cada quatro caixas que voltam para a Ásia viajam vazias em comparação com a taxa normal de 50%, disse o diretor executivo, Gene Seroka. Em Vancouver, os contêineres permanecem nos pátios. Os terminais reduziram o tempo de transporte das caixas cheias para os navios de três dias para apenas sete horas, disse Jordan Atkins, vice-presidente do WTC Group.

“Não é possível receber a quantidade de volume que temos aqui em Vancouver para devolver contêineres nessas janelas apertadas”, disse Atkins. “Em geral, há dificuldade para embarcar leguminosas”, disse, em referência a ervilhas e lentilhas. O Canadá é o segundo maior produtor mundial de leguminosas.

A Índia, segundo maior produtor mundial de açúcar, exportou apenas 70 mil toneladas em janeiro, menos de 20% do volume embarcado um ano antes, disse Ravi Gupta, presidente da Shree Renuka Sugars, maior refinaria do país.

O Vietnã, maior produtor de café robusta, também enfrenta dificuldades para exportar. Os embarques caíram mais de 20% em novembro e dezembro, disse Le Tien Hung, presidente da Simexco Dak Lak, segundo maior exportador do Vietnã.

Ao redor do mundo, alguns compradores de alimentos continuam esperando, enquanto outros suspenderam totalmente as compras, disseram operadores.