Clima

Crise climática e seguros: Veja as inovação e tecnologia para prevenir e gerir riscos

07 jun 2024, 9:00 - atualizado em 06 jun 2024, 14:43
efeito estufa, crise climática
Crise climática: IA, satélites, drones e sensores são eficientes para ajudar a prevenir riscos e agilizar a contratação de apólices e pagamentos de sinistros. (Imagem: Freepik/jcomp)

Alguns analistas da área de seguros arriscam dizer que esse caos climático que se abate sobre o planeta, além de prejuízos, pode também dinamizar algumas áreas e inspirar novos modelos de negócios para o setor de seguros.

Para o diretor de Soluções para Seguros da Capgemini Brasil, Gustavo Leança, esses eventos naturais deixaram o setor alerta e preocupado em se aproximar do cliente para ajudar na prevenção do risco, redução de perdas e pagamento de indenizações em caso de uma catástrofe natural.

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O estudo Insurance Trends 2024, desenvolvido pela Capgemini, apresenta uma solução da companhia francesa AXA para engajar e fidelizar o segurado. Por meio de uma plataforma digital, a empresa orienta o cliente recomendando a construção de obras mais resilientes, em lugares mais seguros, e alertando até onde ele não deve estacionar em caso de temporal.

“A empresa não monetiza esse serviço, mas oferece como adicional, embutido em algum produto, para tentar fidelizar seu cliente”, afirma Leança.

Mais tecnologias podem ser um alento em tempos de extremos climáticos. Com a Inteligência Artificial (IA), por exemplo, as operadoras de seguro podem analisar um volume muito maior de dados de satélite e de sensoriamento remoto para monitorar regiões mais expostas e mensurar a possibilidade de risco.

Outra aplicação da IA para aumentar a eficiência é proporcionar mais agilidade ao pagamento de sinistros.

Os sensores e drones podem ser instrumentos para monitorar condições climáticas e para auxiliar o processo de identificação dos prejuízos após um acidente natural. Esses equipamentos permitem às operadoras avaliarem previamente os riscos, identificando locais com maior exposição e permitindo que elas realoquem recursos de forma mais estratégica e eficiente.

Já a metodologia de Modelagem Climática pode subsidiar as operadoras com informações que auxiliem o desenvolvimento de produtos mais eficientes para a cobertura de acidentes naturais. Essa tecnologia viabiliza ainda simulações de eventos extremos que antecipam o impacto que eles podem causar às empresas de seguro.

Setor de seguros demanda mais do que tecnologia

Diante da recorrência dos eventos extremos, analistas do setor defendem que a indústria deve se preparar buscando sinergia com o poder público para desenvolver políticas e regulamentações que estimulem a previsão e prevenção dos riscos.

Um exemplo de estímulo seria o incentivo fiscal que beneficiaria empresas comprometidas com as boas práticas de redução de emissão de carbono e com a construção de obras de infraestrutura resilientes aos danos causados pelos eventos extremos.

No mercado internacional, esse debate está mais amadurecido e os setores público e de seguro estão direcionando os investimentos em prevenção para consequentemente reduzir os recursos aplicados em prêmios e em pagamento de sinistros.

O mercado brasileiro de seguros, por meio da CNSeg, colabora com esse debate internacional de prevenção aos riscos climáticos e, em parceria com a Iniciativa Financeira das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep Fi), está adaptando duas ferramentas de gestão de risco desenvolvidas pelo projeto Global Insuring The Climate Trasition.

Uma ferramenta é o Mapa do Calor que identifica o impacto de 11 riscos climáticos em determinada região. Com esse instrumento, as operadoras podem mensurar eventuais prejuízos causados por eventos extremos. Os analistas conseguem também estimar o quanto as suas carteiras estão expostas a riscos de acordo com parâmetros pré-estabelecidos. É possível, por exemplo, classificar o nível de risco de seguro Auto, em caso de alagamento, em alto, médio, baixo ou indeterminado.

Outra ferramenta apresentada pela entidade com o mesmo propósito de reduzir o impacto dos riscos climáticos apura o Cenário de Perdas Climáticas por Inundações Urbanas para o Brasil. Essa será uma plataforma capaz de calcular a probabilidade de ocorrência de eventos extremos e perdas econômicas para as seguradoras baseada em dados gerados pelo histórico de desastres em cada região.

Mercado pode buscar mais apólices de resseguros

Outra frente de expansão, apontada por analistas, poderá ser o segmento de resseguros, também conhecido como o “contrato de seguro” que as seguradoras fazem para serem indenizadas nos casos de sinistros muito altos. É uma forma das operadoras se protegerem diluindo os grandes riscos para não arcarem sozinhas com o prejuízo.

Mais comum em países que enfrentam catástrofes como terremotos e furacões, essa modalidade ainda tem potencial significativo de crescer, como aponta o Swiss Re Institute. A “lacuna (gap) de proteção” dessa modalidade chega a 60% no mundo. Em 2023, considerado o ano com temperaturas mais elevadas, os eventos extremos causaram perdas econômicas de U$ 380 bilhões e apenas U$118 bilhões estavam resseguradas.

No Brasil, as operadoras contratam o resseguro principalmente para cobertura de sinistros dos ramos de Grandes Riscos e Rural. Cerca de 90% das apólices desses ramos possuem resseguro. Já os segmentos massificados como Auto e Residencial, o risco ainda fica bastante concentrado nas operadoras e a média de contratos ressegurados fica em torno de 10% a 20%.

O primeiro levantamento da CNSeg sobre as perdas avaliadas, até aquele momento, em R$ 1,6 bilhão para a indústria do seguro, nesse desastre do Rio Grande do Sul, pode levar as operadoras a reavaliarem a relevância do resseguro.

O presidente da CNSeg, Dyogo Oliveira, ressalta que ainda é prematura estimar a dimensão desse desastre, mas ressalta a força-tarefa das companhias que estão divulgando seus dados com transparência e colaborando para a busca de soluções.