Agronegócio

Crise ambiental: agro vai pagar em futuras negociações pela “fraqueza institucional” da imagem do Brasil

23 ago 2019, 15:38 - atualizado em 23 ago 2019, 15:38
Amazônia Queimadas
Agenda ambiental já está dominada na Europa e o Brasil tem pouca força para mudar (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

O discurso ambiental da Europa, amplificado pelas queimadas na Amazônia, já está dado. Seja ou não cercado de boas intenções – na linha do argumento dos europeus em defesa de um mundo saudável, ou usado como tentativa de internacionalização dessa parte do território ou para tirar o País do jogo do comércio mundial, como defende o governo Bolsonaro -, ao Brasil restou pouca a fazer. Por analogia da crise, pode-se dizer que agora é tentar “apagar incêndio” e com margens reduzidas de sucesso.

E pior, segundo o professor de marketing da Esalq, Eduardo Spers, quando o País sentar para negociar – tanto a trégua nessa crise quanto produtos e acordos comerciais – “vão vender caro” nos limites possíveis de barreiras tarifárias e não-tarifárias ao agronegócio.

Fica claro, para o especialista, que “somos fracos institucionalmente” (em termos de ações governamentais), quando se tenta se contrapor às imagens de desmatamento, “que estão aí para todos verem”. E também quando se juntam várias outras frentes de problemas atuais e passados em relação ao agronegócio brasileiro.

Sem debater o aspecto técnico, Spers apresenta a questão da liberação acelerada de moléculas para as lavouras, que também está no discurso internacional contra o uso excessivo de agroquímicos. Do passado, ele traz outro exemplo, no caso de um fungicida que o Brasil teria demorado em erradicar da laranja e que ocasionou barreiras impostas ao suco de laranja nos Estados Unidos.

“Tivemos também problemas recentes com o frango na Europa, com os suínos na Rússia, entre outros”, explica o professor.

Para completar, situações correlatas, não diretamente implicadas ao agronegócio, mas que somam para a imagem ir sendo mais desgastada. Entre as quais a citada por Roberto Brant, do Instituto CNA (Confederação Nacional da Agricultura), como a defesa do presidente Jair Bolsonaro a favor da liberação de garimpo em terras indígenas. Opinião também corroborado por Eduardo Spers.

Consertar isso com campanhas internacionais de marketing, como o governo anunciou há algumas semanas, corre-se o risco de queimar recursos públicos. Nessa linha, pensa ainda Spers, os setores do agronegócio que sentirem necessidade de defender suas práticas produtivas também não terão sucesso, com o guarda-chuva do Brasil desgastado.

Os governos da Europa, com França, Alemanha, Irlanda e Noruega a frente, precisam dar respostas aos seus eleitores, que já “compraram a sustentabilidade e vão seguir exigindo”. Mas mesmo que não se movam penalizações comerciais, a opinião pública pode muito bem rejeitar produtos brasileiros e o boicote se alastrar.

E sob risco de bater em países que estão fora dessa agenda, como China e Rússia. Além disso, são países também com interesses comerciais com o Ocidente, em tempos de guerra comercial sino-americana, e não se pode descartar que o Brasil possa ser usado como manobra – como Money Times discutiu (20/8).

Os US$ 17 bilhões de 2018 de importações europeias de produtos básicos ou processados do agronegócio não é algo que se despreze. Uma parte disso que deixe de entrar vai obrigar os produtores brasileiros tentarem deslocar para outros mercados, diante do quadro da economia nacional.

E também vão vender caro a possibilidade de absorção do excedente e o Brasil vai ter que vender mais barato.