Crise alimentar abastece temores de que protecionismo possa agravar escassez
Uma crise crescente de alimentos está precipitando medidas protecionistas por países que podem provavelmente agravar o problema e levar a uma guerra comercial mais ampla, afirmaram líderes empresariais e formuladores de políticas no Fórum Econômico Mundial.
Em um sinal do aperto cada vez maior sobre a oferta de alimentos e as altas de preços, uma fonte ligada ao governo da Índia afirmou à Reuters que o país pode restringir exportações de açúcar pela primeira vez em seis anos para evitar uma alta nos preços domésticos do produto.
Enquanto isso, a Indonésia, maior exportadora mundial de óleo de palma, irá remover um subsídio ao óleo de cozinha a granel para substituí-lo com uma limitação de preço sobre materiais brutos para refinarias locais.
“É uma questão muito importante, e francamente eu acredito que o problema seja ainda maior à nossa frente do que já foi no passado”, disse Gita Gopinath, vice-diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) à Reuters sobre as preocupações crescentes com a segurança alimentar.
O protecionismo está em alta em Davos, levando a pedidos por negociações urgentes para evitar uma guerra comercial em proporção total.
“É muito importante que os líderes do planeta possam se sentar na mesa com calma e conversar sobre como iremos administrar comércio, alimentos e investimentos”, afirmou Jay Collins, vice-presidente de bancos, mercados de capitais e consultoria no Citigroup ao Fórum Reuters Global Markets em Davos.
“Há muitas conversas acontecendo aqui com o G7 nas últimas 48 horas”, disse Collins.
Para moradores de países da África subsaariana, por exemplo, 40% do consumo corresponde a alimentos, afirmou Gopinath. Além de um “grande impacto no custo de vida”, as altas de preços também intensificaram o armazenamento por parte dos governos.
“Temos mais de 20 países que impuseram restrições a exportações de alimentos e de fertilizantes, e isso pode agravar o problemas e só piorar as coisas”, disse a economista na segunda-feira.
A invasão da Ucrânia pela Rússia, que é descrita por Moscou como uma “operação militar especial”, levou a um aperto repentino em uma crise que já estava encaminhada.
“Já estávamos enfrentando uma crise alimentar extraordinária antes da Ucrânia, os custos de transportes, preços de commodities e alimentos já estavam dobrando, triplicando, quadruplicando”, afirmou David Beasley, diretor-executivo do Programa Alimentar da Organização das Nações Unidas.
O número de pessoas “a caminho da fome” cresceu de 80 milhões para 276 milhões nos últimos quatro ou cinco anos, afirmou Beasley à Reuters em uma entrevista em Davos.
“Manter os portos fechados enquanto a temporada de colheita está chegando na Ucrânia em julho e agosto significa declarar guerra à oferta global de alimentos”, disse Beasley.
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