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Criptomoedas se comportam cada vez mais como ações (e a culpa é da Covid-19)

29 jan 2022, 15:21 - atualizado em 29 jan 2022, 15:25
Contagiante: comportamento de criptomoedas influencia as demais, diz estudo polonês (Imagem: Pixabay)

A invenção dos metaversos, universos digitais construídos em torno de criptomoedas, tem levado diversos pesos-pesados do capitalismo mundial a anunciarem planos de vender tudo o que puderem nesses mundos virtuais. A ironia, contudo, é que quem possui criptoativos está menos preocupado em comprar um jeans feito de bits e bytes, e mais em ver sua carteira de investimentos render e se multiplicar. É o que afirma a revista americana Fast Company, em uma reportagem publicada neste sábado (29).

Esse comportamento tem uma razão: as criptomoedas estão cada vez mais parecidas com ações e commodities, do que com moedas tradicionais, como real, dólar ou euro. Esta é a conclusão de um estudo publicado na última quinta-feira (27) por pesquisadores do Instituto de Física Nuclear da Academia de Ciências da Polônia (IFJ PAN). A pesquisa é a estrela do texto veiculado hoje pela Fast Company.

Seu ponto de partida é simples: a oscilação no preço de uma criptomoeda possui alguma correlação com a oscilação na cotação das demais, ou é independente? Para obter a resposta, os cientistas realizaram um extenso estudo estatístico da flutuação das criptomoedas em 2020 e 2021. Não foi um trabalho fácil, já que existem atualmente cerca de 7 mil criptomoedas em circulação. É verdade que o Bitcoin (BTC) ainda detém uma fatia considerável de 40% desse mercado, seguido pelo Ethereum (ETH), com 20%. As 20 principais criptomoedas concentram, no total, 90% dos negócios.

Moderninhas com comportamento convencional

Os físicos poloneses fizeram algumas descobertas. A primeira é que há uma forte correlação nas oscilações das moedas digitais. “As várias análises quantitativas que rodamos provam que diversas criptomoedas não operam mais independentemente”, afirmou Jaroslaw Kwapien, um dos autores do estudo, no comunicado à imprensa divulgado pelo IFJ PAN. “Elas não apenas ‘enxergam’ umas às outras, como também interagem com as demais. Esse mercado, hoje, está se tornando mais e mais correlacionado”.

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Espelho: nunca as criptomoedas seguiram tão de perto o S&P 500, da Bolsa de Nova York, quanto agora (Imagem: Reuters/Lucas Jackson)

No estudo, os cientistas apontam que esse comportamento é típico de mercados já bem conhecidos dos investidores: o de ações e o de commodities. Não se trata de mera analogia para facilitar a compreensão do que está acontecendo. Os físicos descobriram que, durante a pandemia, a volatilidade das moedas digitais atingiu a maior correlação já verificada com o índice S&P 500 da Bolsa de Nova York. Essa sincronia também foi notada com as cotações de commodities como o barril de petróleo, cobre e ouro.

“Este é um resultado muito interessante, já que não havia muitas correlações antes da pandemia, e o mercado de criptomoedas era geralmente considerado como separado dos mercados financeiros tradicionais”, observou outro autor do estudo, Marcin Watorek, na nota à imprensa do IFJ PAN.

Freud explica

Os físicos poloneses atribuíram essa sincronia entre as moedas digitais e o mercado acionário global, principalmente, a dois fatores. O primeiro são os fatores psicológicos desencadeados pela eclosão da pandemia de Covid-19, em 2020. Como se sabe, investidores ansiosos tendem a adotar alguns padrões semelhantes de comportamento. O segundo é a influência dos algoritmos para tomada de decisões de compra e venda de ativos.

A tendência das moedas digitais de se comportarem como commodities está alinhada, ainda, à intenção original de seus criadores de desenvolver uma moeda com valor mensurável, controlada por todos os participantes do mercado e capaz de resistir à manipulação pelos bancos centrais.

Os autores da pesquisa, contudo, alertam que, no atual estágio de desenvolvimento, as criptomoedas ainda devem ser encaradas com “grande cautela”, já que ainda estão sujeitas a violentos ataques especulativos que minam sua confiabilidade e estabilidade. Essa fragilidade dificulta que se tornem a medida de valores de bens, como uma casa ou uma mercadoria qualquer.

Isso não significa, porém, que elas estejam fadadas a um papel especulativo no mercado. “Devemos nos lembrar que, hoje, há fortes mudanças nos preços dos metais preciosos, e ainda assim, eles são percebidos como instrumentos relativamente seguros”, diz Kwapien. “Então, há uma chance de que a opinião sobre as criptomoedas também mude algum dia”.

Diretor de Redação do Money Times
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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