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Criptomoedas e sustentabilidade podem andar lado a lado, afirma estudo da Arca

29 jul 2021, 14:50 - atualizado em 29 jul 2021, 14:50
Em um relatório publicado em julho de 2021, a empresa de investimentos Arca afirma que o mercado cripto pode se beneficiar dos aspectos de ESG em vez de se afastar completamente por conta das críticas ambientais (Imagem: Arca)

Não é novidade que o bitcoin (BTC) e as demais criptomoedas que dependem do processo de mineração — emissão de novas moedas, além da garantia de segurança da rede blockchain — viraram alvo de pessoas que se preocupam com o impacto deixado pelo alto consumo de energias “sujas”.

O bitcoin e o ether (ETH) são dois exemplos de criptomoedas cujas redes blockchains funcionam praticamente de forma autônoma por conta do algoritmo “proof-of-work” (PoW), que depende do processo de mineração.

Como funciona a mineração de criptomoedas?

Para provar seu comprometimento à rede, validadores (“mineradores”) precisam utilizar máquinas de mineração — processadores computacionais que realizam cálculos matemáticos dificílimos, mas de forma rápida — para assegurarem a rede.

Assim, esses equipamentos tentam solucionar o “quebra-cabeças” matemático o mais rápido possível para que mineradores tenham o direito de transmitir o bloco de transações no blockchain e manter a rede funcionando.

Esse quebra-cabeças matemático é chamado de “hashing”, que consiste em uma série única de caracteres alfanuméricos, cuja criptografia é tão forte que é praticamente impossível de burlar. 

A questão é que nem todas as máquinas ligadas conseguem resolver o hashing.

Porém, para tentar a chance, milhares de máquinas precisam estar ligadas ao mesmo tempo para que um grupo de mineradores (“pool”) ou empresa mineradora consiga obter a recompensa de 6,25 BTC por cada bloco de transações registrado na rede.

Em 2020, uma analista da PwC afirmou que 98% das máquinas de mineração de bitcoin não são capazes de produzir um bloco de transações sequer (Imagem: Reuters/Alessandro Bianchi/File Photo)

É importante mencionar que o termo “mineração” é utilizado apenas em referência à mineração do ouro, devido ao “trabalhão” que dá para minerar o metal precioso.

Outra referência também é à escassez do ouro, já que o bitcoin possui um fornecimento limitado de 21 milhões de moedas — depois que todos os bitcoins forem minerados (emitidos), não haverá mais “impressões”, assim como acontece com moedas nacionais.

O consumo de energia

Anteriormente, grande parte das “fazendas de mineração” — locais com milhares de equipamentos — era operada em regiões remotas na China, onde taxas pelo consumo de energia eram baixas para compensar todo o custo operacional restante.

Um exemplo era a matriz energética anteriormente utilizada na região Ásia-Pacífico, que consistia na geração de carvão e hidroeletricidade. Já na América do Norte, muitas empresas buscam utilizar energias renováveis, como a eólica e a nuclear.

Um dos pontos negativos da geração de energia “suja” faz referência à queima de carvão, por ser um processo altamente tóxico.

Assim, muitos ambientalistas passaram a atacar cada vez mais o “desperdício de energia” no processo de mineração, argumentando que a competição pela transmissão de apenas um bloco de transações a cada dez minutos não justifica a necessidade de manter milhares de máquinas ligadas.

Ainda não se sabe quando a comunidade Bitcoin pensará em uma solução que ajude a diminuir a impressão negativa que a desinformação espalhou sobre o alto consumo energético, já que, em 2020, a estimativa de uso de energias renováveis utilizadas na mineração cripto era de 76%.

Antes, a dominância da atividade de mineração de criptomoedas era concentrada na China mas, nos últimos meses, por conta da repressão governamental, EUA, Rússia e Cazaquistão se tornaram nos destinos mais procurados por mineradores chineses (Imagem: CBECI)

No entanto, empresas do setor estão preocupadas em causar uma boa impressão, como é o caso da mineradora cripto Compute North — que utiliza uma mistura de energias renováveis e combustíveis fósseis — e da Stronghold — que utiliza carvão residual (já queimado) para gerar energia e minerar bitcoins.

É importante mencionar que o impacto ambiental em relação às criptomoedas virou manchete por conta de um artigo controverso, afirmando que a mineração era prejudicial para o plano de sustentabilidade da China, já que o país se comprometeu em ser neutro em carbono até 2030.

Mesmo sem dados que servissem de base para o artigo acadêmico, esse trabalho chamou a atenção de todos e, em junho, governos provinciais da China começaram a suspender qualquer tipo de atividade (seja de negociação ou mineração) relacionada a criptomoedas em uma tentativa de combater o uso de quaisquer ativos descentralizados na região.

A China está prestes a apresentar sua própria moeda digital emitida por banco central (ou CBDC), o yuan digital (ou e-CNY), após ter realizados diversos testes nas principais cidades do país.

Assim, a China não vai precisar do bitcoin nem de qualquer outra criptomoeda “de fora”, pois já desenvolveu sua própria moeda digital e sua própria rede blockchain.

Mas e a Ethereum?

Desenvolvedores da Ethereum já estão dando passos para que a rede deixe de depender do processo de mineração (Imagem: Unsplash/jievani)

É importante mencionar que, no caso do ether, a segunda maior criptomoeda do mercado, Vitalik Buterin, o próprio criador da rede Ethereum, sempre se atentou a esses aspectos tecnológicos e ambientais, em busca de soluções para o longo prazo.

Assim, em 2020, os desenvolvedores da Ethereum anunciaram que irão apresentar, gradualmente, uma migração do algoritmo PoW — que consome energia — para o mecanismo “proof-of-stake” (PoS).

Em vez de depender da mineração, o algoritmo PoS depende da participação de validadores escolhidos aleatoriamente, que aplicam fundos à plataforma (“staking”) para evidenciar seu comprometimento à rede. Se agirem de má-fé, esses fundos são “queimados”.

Assim, a rede principal (ou “mainnet”) da Ethereum está passando por atualizações periódicas — como a atualização Berlin, em junho, e a atualização London, prevista para agosto — até finalmente apresentar a sua próxima iteração que não precisará mais do processo de mineração: a Ethereum 2.0.

Nem só de Bitcoin e Ethereum vive o mundo cripto

Apesar de “bitcoin” ser o termo guarda-chuva para toda a inovação que existe nesse mercado, muitas pessoas ainda acham que só ele e o ether existem. No entanto, segundo o CoinMarketCap (CMC), existem 11 mil criptoativos espalhados por todo o setor.

É claro que nem todas essas criptomoedas realmente cumprem com o prometido ou têm valor, então cabe ao investidor pesquisar sobre quais projetos têm a missão de solucionar problemas ou de facilitar o acesso a serviços financeiros:

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Aspectos ambientais, sociais e governamentais (ESG)

Pensando nas soluções ao mundo real e de acessibilidade financeira para as pessoas, a Arca, empresa institucional de serviços financeiros com foco em criptomoedas, publicou um relatório chamado “Ativos digitais: ESG — por que não GSE?”, a fim de ajudar possíveis investidores a tornarem decisões financeiras mais bem-fundamentadas.

ESG” é a sigla em inglês para “Ambiental, Social e Governamental”: práticas de sustentabilidade que empresas devem adotar para reduzir os impactos de sua produção.

A proposta da Arca é realocar, para fins de prioridade, a ordem das letras em inglês para GSE:

Governança: influência comercial justa e equitativa;

Social: democratizar o acesso e promover a inclusão;

Ambiental: consumo de energias sustentáveis.

A ideia do anônimo criador do protocolo Bitcoin era retirar o poder financeiro das grandes instituições e devolvê-lo às pessoas, que sempre sofreram com altas taxas para obterem acesso ao sistema bancário (Imagem: Unsplash/executium)

Em seu relatório, Arca dá um panorama sobre o bitcoin, a maior criptomoeda do mundo, criada em meio à terrível Crise Financeira Global de 2008.

Satoshi Nakamoto criou o bitcoin para “solucionar os problemas resultantes do abuso [financeiro] pela desconfiança em autoridades centralizadas do sistema financeiro, principalmente bancos centrais e seu controle sobre moedas fiduciárias”, afirma Arca, acrescentando:

A intenção da tecnologia blockchain é administrar uma estrutura de governança que seja descentralizada e distribuída.

Organizações podem emitir ativos digitais que administram atributos de gestão descentralizada usando blockchains, como num comitê de inúmeros diretores, que possuem votos iguais com base no número de tokens que possuem.

Além disso, ativos digitais podem ser obtidos — após o cumprimento de tarefas ou por conta de um bom comportamento — em vez de adquiridos, gerando uma maior inclusão e uma maior diversidade econômica.

Arca menciona o fato de muitos projetos cripto não serem necessariamente descentralizados, pois dependem da gestão de uma grande empresa.

Por outro lado, explica como se dá a participação de usuários de comunidades descentralizadas, mencionando a Uniswap como exemplo e explicando a importância das organizações autônomas descentralizadas (DAOs).

A natureza de uma fundação descentralizada e distribuída, além de ser comandada por uma comunidade, permite uma influência ampla e diversa ao projeto.

Embora investidores de tokens descentralizados possam não ter direitos explícitos, a comunidade de um token possui voz ativa e em tempo real sobre a direção técnica e a distribuição do fluxo de caixa de um protocolo

Por outro lado, acionistas de ativos tradicionais possuem direitos legais que provavelmente não são postos em prática nem protegem os interesses individuais em comparação aos interesses de grandes acionistas.

Grande parte dos investidores não tem voto significativo ou influência efetiva sobre a direção estratégica da empresa — os grandes acionistas tomam as decisões em relação ao pagamento de dividendos, o decoro econômico e a todos os outros determinantes que envolvam capital, funcionários e clientes.

Conscientização ambiental nos investimentos

Segundo a Arca, o investimento em estratégias de investimento pode ser um caminho pavimentado pela importância da descentralização:

“85% dos participantes acreditam que investimentos responsáveis irão render ou não distraí-los de ganhos” (Imagem: Arca)

Estimativas recentes mostram que a Europa está na frente em termos de investimentos sustentáveis, seguida dos EUA. De acordo com a Arca, “legislações específicas estão modelando a indústria”:

(Imagem: Arca)

O poder do investimento ESG como uma narrativa fez com que gestores inteligentes de investimentos caracterizassem mais investimentos como “favoráveis a ESG” para atrair investidores conscientizados — uma prática chamada de “greenwashing”.

A empresa lista três motivos para focar em investimentos sustentáveis devido ao seu impacto na sociedade — e na redução danos:

1. Efeitos físicos consequenciais, ou seja, um clima de 70 graus [ºF] em Boston em fevereiro.

2. Avaliação de plataformas midiáticas que aumentem o tempo de veiculação de [conteúdos sobre] problemas sociais.

3. A crescente opinião do valor direcionado pela geração dos millennials.

Por que focar no aspecto ambiental também é importante para os criptoativos?

Por conta da descentralização de tarefas nas comunidades cripto, Arca afirma que a tecnologia possui impactos de governança, ambientais e sociais (GSE):

Assim como aviões fornecem viagens eficientes, com impactos ambientais e sociais não intencionais, blockchains solucionam a governança eficiente com impactos sustentáveis e não intencionais […].

Coletivamente, as pessoas aceitam elementos da vida cotidiana porque estes estão enraizados em nossas rotinas. Conotações e comportamentos tardios são resultantes desses entendimentos não questionados.

Assim, a Arca evidencia a diferença entre o setor financeiro tradicional e centralizado (onde o capital fica com intermediários) e o sistema financeiro descentralizado (onde o capital é distribuído entre todos):

(Imagem: Arca)

Em seguida, a empresa define as diferentes funções de cada ente envolvido no processo descentralizado, onde pessoas e organizações têm equilíbrio sobre o fator financeiro (fornecido aos usuários na forma de receita, dividendos e recompras) e o não financeiro (valor fornecido aos usuários na forma de acesso a futuros produtos ou serviços, bem como recompensas por fidelidade).

O que ESG significa aos investidores?

– integração do GSE: “acredito que incorporar ESG possa melhorar meus resultados de investimento”;

– incorporação de valores pessoais: “quero que meus investimentos reflitam meus valores pessoais;

– impacto positivo: “quero que meus investimentos façam a diferença no mundo”.

Por fim, a empresa conclui:

O ecossistema dos criptoativos busca por aspirações para oportunidades futuras.

Nossa sociedade tende a se prender em vieses mais recentes, vieses cognitivos que favorecem eventos recentes em vez de eventos a longo prazo. Atualmente, investidores estão preocupados com impactos ambientais e, à primeira vista, o bitcoin parece uma ameaça.

Porém, quando pensamos no contexto inteiro e consideramos onde essa tecnologia está [em sua fase] de desenvolvimento, críticos podem ver uma maior motivação e lógica, além de ter muita apreciação por o que esse recurso aplicado poderá trazer.

Redirecionar o diálogo para focar em elementos que se aplicam aos criptoativos é fundamental. Incentivamos o debate contínuo e a colaboração para determinar a melhor estrutura para avaliar as qualidades de milhares de criptoativos por aí, e não apenas o bitcoin.

O discurso está em continuidade — é apenas uma linha que se estende ao infinito, tanto no passado como no futuro. Ninguém sabe como o blockchain — ou qualquer outra tecnologia — irá evoluir.

Nosso mundo está mudando constantemente e o resultado mais benéfico dessa discussão é a promoção de uma perspectiva mais receptiva sobre criptoativos e seu possível impacto em nosso mundo.

Confira, abaixo, o relatório “Ativos digitais: ESG — por que não GSE?” na íntegra: