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Criptomoedas: Como se proteger contra crimes e fraudes?

15 mar 2022, 15:00 - atualizado em 15 mar 2022, 15:00
crime cripto
As transações envolvendo endereços ilícitos representaram apenas 0,15% do volume de transações de criptomoedas no ano de 2021, segundo pesquisa do Chainalisys. (Imagem: Pixabay/Tumisu)

O avanço da tecnologia e do uso de criptomoedas para pagamento vêm aumentando consideravelmente nos últimos anos. O número de endereços ativos de bitcoin (BTC) cresce cada vez mais, segundo dados do The Block.

Em 2019, o número de carteiras ativas na rede do Bitcoin era de 600 mil. Em 2021, passou de um milhão.

É natural que com o aumento do uso desse tipo de ativo, o número de crimes relacionados a ele também cresça, como sonegação, fraudes e lavagem de dinheiro. Em 2021, o valor bruto de crimes com cripto atingiu o maior nível da história.

Ainda assim, é um universo pequeno dentro do volume total de transações. Segundo a pesquisa mais recente do site Chanalysis, as transações envolvendo endereços ilícitos representaram apenas 0,15% do volume de transações de criptomoedas no ano passado.

Confira:

“Total do valor de criptomoedas enviados e recebidos por entidades criminosas x parte criminosa de todas as atividades com criptomoedas” (Imagem: The Block/Reprodução)

A mesma pesquisa mostra que, se considerada a quantidade de criptomoedas enviadas de endereços ilícitos para endereços hospedados por serviços, o total de ativos “lavados” foi de US$ 8,6 bilhões em 2021.

É um um aumento de 30% na atividade de lavagem de dinheiro em relação a 2020.

O Crypto Times conversou com Wanderson Castilho, especialista em investigação de criptomoedas pelo Blockchain Intelligence Group, ferramenta usada pelo FBI, para entender como esses crimes são descobertos. 

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Como a Receita Federal identifica a sonegação?

As instituições como a Receita Federal ou o Internal Revenue Service (IRS) dos Estados Unidos seguem a mesma linha: investigar como fraude.

Castilho lembra que a moeda apenas no “mundo digital” não é muito útil, o dono daquele ativo não faz nada com aquele valor.

Mas quando a pessoa começar a movimentar o saldo, e transforma aquilo em algum ativo tangível, no mundo real, é possível identificar. Quando ela começar a se movimentar, como um cidadão legal, em cima de valores sonegados, isso vai ser mostrado”.

Ou seja, a partir do momento que aquele valor é transformado em algo tangível, a fraude passa a ser identificada.

Como é o processo da investigação?

Castilho lembra que na tecnologia do blockchain, tudo é rastreado e auditado. Com a criação de contas em corretoras, cometer algum crime com criptoativos se tornou ainda mais difícil.

“O não rastreamento era possível porque antes, para se criar uma carteira, não era preciso informação alguma. Agora as grandes corretoras digitais estão sendo obrigadas por todas as autoridades do mundo, seja o FBI ou a Polícia Federal, a identificar seus usuários, com o processo de KYC”.

“Tudo é feito de forma para que todas as pessoas que passarem em suas corretoras sejam identificadas. E é na corretora cripto que é possível transformar a sua moeda digital em algo físico e fazer transferências”, diz.

O especialista acredita que esse é o ponto que vai pegar cada vez mais aqueles que cometem infrações. Ainda que existam técnicas para “embaralhar os dados rastreados”, Castilho diz que quem investiga vai aprendendo e encontrando quais são as ferramentas utilizadas pelos infratores.

“Por exemplo, a plataforma que é atualmente usada pelo FBI é extremamente poderosa. A partir dela é possível identificar qual é a carteira que cometeu uma infração, para na sequência já entrar em contato com as grandes corretoras”.

Qual é o golpe mais comum realizado com criptomoedas?

O golpe do estelionato é o mais popular neste sentido, quando a vítima investe em uma moeda desconhecida influenciada por alguém.

“Por exemplo, fazendo um comparativo com um site de venda de televisores. Eu peguei já inúmeros casos em que a empresa começa a vender um televisor de 70 polegadas por R$ 2.500 ou R$ 1.500, e os 10 primeiros foram, compraram e receberam um equipamento que valeria R$12 ou R$15 mil reais. O comprador vai falar que recebeu, porque a quadrilha por trás está bancando essas 15 pessoas para que façam propaganda”.

Castilho lembra que é por isso que muitas vezes os criminosos miram em pessoas de confiança da vítima para atraí-la — um amigo, um irmão, o pai. 

Uma boa forma de identificar esse tipo de crime é buscar, por exemplo, há quando tempo aquela moeda digital existe. E, além disso, lembrar-se de uma lição importante: não existe milagre no mercado.

Como se proteger de crimes com cripto?

Para Castilho, o primeiro e mais importante ponto para se prevenir contra qualquer tipo de crime com criptomoedas é ter conhecimento, saber com o que se está lidando.

“Da mesma forma que é preciso treinamento para dirigir um carro e depois passar por um teste, mexer com o mundo digital, como moedas digitais, requer o mesmo ensinamento”.

Depois disso, ele recomenda que aquele investidor também busque a ajuda de um profissional, alguém que possa fazer um “Due Diligence“, ou levantamento de informações, e descobrir a procedência sobre qual é aquele ativo e quem é a pessoa por trás dele, por mais valorizado que esteja.

Ele avalia, no entanto, que não se trata de uma fórmula infalível, que blindará qualquer investidor completamente. Ainda assim, Castilho lembra que é mais fácil solucionar crimes digitais.

E, consequentemente, recuperar um valor roubado digitalmente do que “fisicamente” também se torna mas viável, ainda que não seja regra.

Se, munido de todos esses cuidados, o investidor não encontrar nenhuma inconsistência, trata-se de uma operação lícita.

“Quem está dentro da legislação, não precisa se esconder. Só se esconde o bandido, justamente por não querer ser descoberto para conseguir aplicar o golpe”, diz.