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Criptoativos: utopia ou distopia? 

17 nov 2019, 15:00 - atualizado em 30 maio 2020, 16:52
Descentralização ou centralização? O que irá acontecer com a adesão dos criptoativos? (Imagem: Money Times)

Criptomoedas e aplicações descentralizadas (dapps) têm a capacidade de fornecer independência, liberdade e autonomia financeira para pessoas em todo o planeta.

Por outro lado, essas tecnologias também poderiam trilhar um caminho obscuro rumo ao capitalismo de vigilância e à opressão do governo.

Neste artigo, discutimos sobre as características únicas de liberdade e escravidão do blockchain e dos criptoativos. Utopia ou distopia? Você vai tomar a pílula vermelha ou a azul? 

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Uma utopia descentralizada? 

Vários investidores de cripto, criptoanarquistas e defensores da descentralização imaginam um futuro em que o usuário ganha autonomia com a tecnologia de blockchain.

Uma moeda digital e descentralizada, que funciona completamente sem intervenção de um governo ou de um banco central, poderia ser utilizada em transações diárias. Protocolos de finanças descentralizadas (DeFi) poderiam fornecer serviços para todos.

Uma grande parte da população poderia realmente funcionar em uma economia de negociação peer-to-peer (pessoa para pessoa) que roda no blockchain.

Economia baseada em blockchain facilitaria a vida dos cidadãos, mas os governos têm outros interesses (Imagem: Pixabay)

O aumento de transparência no mercado poderia levar a um aumento nas práticas comerciais e éticas, além de exigir responsabilidade daqueles que estão em posições de poder.

Opções de financiamento baseadas em token poderiam dar autonomia a empresas de pequeno e médio porte a fim de participarem mais na economia mundial.

O poder de voto se tornaria mais confiável e a democracia direta poderia se tornar um processo mais natural. O custo de qualquer tipo de transação financeira também poderia ser consideravelmente reduzido.

As pessoas teriam posse de seus dados e iriam monetizá-los a seu critério. O capitalismo de vigilância — que monitora e analisa dados dos usuários e oferece produtos de acordo com o uso — morreria e os bancos se tornariam obsoletos.

Enquanto é possível pensar em como as moedas digitais e a tecnologia de blockchain poderiam influenciar uma nova era em que as pessoas teriam mais liberdade e controle sobre suas vidas, o contrário também poderia acontecer.

A centralização dos criptoativos é algo preocupante, já que vai contra o propósito inicial: dar liberdade aos cidadãos (Imagem: Money Times)

Um futuro distópico?

Criptomoedas, dapps e outros recursos alimentados por blockchain têm a capacidade de dar poder às pessoas, assim como a concepção inicial da internet.

Entretanto, essa promessa pode se tornar uma ameaça e, assim como os vários tipos de tecnologia, realizar grandes feitos, mas gerar terríveis consequências.

Um governo autoritário, por exemplo, poderia divulgar identidades digitais em um blockchain governamental e permissionado, interligadas a registros financeiros, históricos médicos e de trabalho e status legal de um cidadão, além de outras informações pessoais.

Uma identidade digital baseada em blockchain poderia ser uma chave de acesso a serviços públicos, como meios de transporte, aeroportos, restaurantes, ou até mesmo dar acesso a determinadas áreas de uma cidade. Esse acesso poderia ser “ligado” ou “desligado” conforme a vontade do governo.

Esse contexto pode parecer uma cena do filme “Minority Report: A Nova Lei”, apesar de que, de um ponto de vista tecnológico, a maioria desses serviços (se não todos) já existem.

Isso pode ser bem difícil de se imaginar quando pensamos em um futuro em que as criptomoedas são usadas para rastrear todos os pagamentos e o blockchain é utilizado para remover a privacidade e dar mais controle às autoridades. Mas seria isso possível?

Essa situação já acontece na China: planejam lançar uma criptomoeda desenvolvida por um banco centralizado que garante o rastreamento das transações financeiras dos cidadãos.

Combinando isso com uma apresentação completa de seu sistema de crédito social, você não teria que se esforçar para conseguir enxergar um horizonte distópico à sua frente.

Centralização do futuro yuan digital preocupa cidadãos em todo o mundo (Imagem: NewsBTC)

O monitoramento digital chinês

A China está trabalhando no desenvolvimento de uma moeda digital e centralizada. Enquanto ainda faltam alguns detalhes de como irá funcionar, espera-se que não será baseada em um registro público descentralizado. Em vez disso, espera-se um registro privado centralizado, ou seja, gerenciado pelo governo.

Uma moeda digital e centralizada, que funciona por meio de um registro permissionado, também resultaria na total rastreabilidade de transações.

Cada transação feita por qualquer pessoa na China seria rastreada e, em um contexto extremo, bloqueada. Além disso, o governo teria acesso aos gastos de cada cidadão e poderia congelar ou limitar esse dinheiro.

É só observar como se dá a censura digital, a falta de liberdade de expressão da imprensa e os abusos que ferem os direitos humanos na China para que esse cenário distópico se torne algo mais real.

Talvez a característica mais assustadora sobre a questão da censura digital, do monitoramento online e do sistema de crédito social da China seja por conta do interesse da República Popular em levar essas tecnologias a outros países.

Presidente Xi anunciou que o yuan digital chegará em breve e a tecnologia de blockchain será implementada em todo o país (Imagem: Lintao Zhang/Getty Images)

Se as moedas digitais centralizadas chinesas forem somadas à capacidade de a República Popular da China monitorar e controlar os cidadãos, outros governos mais restritivos poderiam imitar tais ações totalitárias e desenvolver suas próprias moedas digitais.

É difícil fazer previsões sobre tecnologia e como ela será adotada em escala global. Entretanto, é evidente que tecnologias de código aberto como o blockchain e as criptomoedas poderão ser usadas por qualquer um, inclusive por agentes maliciosos.

Como de costume, cabe aos cidadãos lutarem pelo que acreditam e exigirem que os governos aprovem as ferramentas digitais de liberdade e não vão para o “lado sombrio da força”.