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Crime de defensivos fraudados tem apoio no ‘espírito de corpo’ do agronegócio, diz fiscal do Mapa

12 abr 2022, 9:19 - atualizado em 12 abr 2022, 9:34
Aviação Agronegócio
Uso de agrotóxico fraudado não deixa margem a dúvidas nas operações aeroagrícolas (Imagem: Divulgação/SINDAG)

Apreensão de agroquímicos fraudados – manipulados, contrabandeados e sem registros – cresce na medida do aumento do uso pelos produtores rurais.

Mas a infestação de agentes sem conformidade técnica, que acaba resultando na imagem negativa do agronegócio como um todo, quando detectados nos produtos por compradores e agências sanitárias internacionais, conta com uma certa conivência mesmo de agricultores que não praticam o crime.

A ação no Mato Grosso, que apreendeu 20 mil litros de defensivos e 600 quilos de agrotóxicos, neste início de semana, é um exemplo considerado clássico, de acordo com um funcionário do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Sob anonimato, ele disse ao Money Times que no MT é comum se saber quando um empresário está se utilizando dessa prática, até porque as áreas são grandes e a aplicação se dá por operações aeroagrícolas, inclusive de empresas sem registros nos órgãos competentes.

“Até o cheiro costuma ser diferente em alguns casos”, explica ele, fazendo menção à chamada deriva, que leva os agroquímicos a se depositarem em áreas vizinhas, por mais que as tecnologias de aspersão aérea tenham maior controle atualmente.

Outro ponto é o fluxo de comércio, já que as revendas das regiões conseguem acompanhar as vendas na relação direta com o desempenho da agricultura local por CPF e CNPJ.

O Mapa tem aumentado a fiscalização e nessa operação mato-grossense contou com apoio do Indea (agência sanitária do estado), do Ibama e da Polícia Rodoviária Federal.

Para o agente público, a situação tem se agravado com o aumento dos custos dos insumos, e a leniência de muitos produtores, que poderiam denunciar – inclusive anonimamente – dificulta as ações, porque as áreas de inteligência federal e estadual não possuem técnicos suficientes para darem conta do território do Centro-Oeste.

“Por medo de represálias ou por entenderem que não há outro remédio para muitos companheiros a não ser utilizarem produtos mais baratos, a verdade é que há um espírito de corpo entre os proprietários rurais para a prática desse tipo de crime”, complementa o técnico do Mapa.

Ele lembra, inclusive, que a situação se assemelha ao Cadastro Ambiental Rural (CAR), a base de dados que mostra as informações ambientais, como reservas, de cada propriedade. Se os empresários tivessem acesso ao CAR dos vizinhos, “em muitos casos eles conseguiriam ver muita coisa que não corresponde à realidade”.