Crescimento de 5%: As bases do ‘milagre econômico de verão’ nos Estados Unidos
Os Estados Unidos divulgam nesta quinta-feira (26) a primeira leitura do PIB do terceiro trimestre, com a expectativa por números que devem deixar muitos de queixo caído.
Economistas consultados pelo Wall Street Journal indicam que a economia americana poderá ter crescido 4.7% entre julho e setembro.
Jà analistas da S&P Global e a projeção oficial do Federal Reserve de Atlanta trabalham com cenários ainda mais contundentes, apontando crescimento de 5.6% e 5.4%, respectivamente.
Entre 2010 e o início da pandemia, houve apenas uma vez em que a economia americana conseguiu crescer acima da casa dos 5%: o segundo trimestre de 2014, uma época de inflação baixa e juros reais negativos.
Daí o número projetado para o trimestre despertar tanto estranhamento: como a economia americana está conseguindo apresentar crescimentos tão vigorosos, mesmo diante do aperto monetário mais agressivo do século?
De acordo com os analistas do mercado americano, este “milagre econômico de verão” nos Estados Unidos está associado ao funcionamento ainda bem azeitado das duas principais engrenagens de crescimento: gastos do consumidor e manufatura.
Consumidores gastaram como se não houvesse amanhã
Recordes de bilheteria alcançados pelo filme Barbie e os estádios abarrotados para assistir os shows de Taylor Swift e Beyoncé deram prova da fome de consumo dos norte-americanos.
Nesse sentido, setores de serviços relacionados à hotelaria, entretenimento e viagem devem ser os grandes vencedores da leitura do PIB na quinta-feira.
E o motivo para essa inclinação ao gasto é o seguinte: chove emprego nos Estados Unidos. Basta observar a divulgação do último payroll, feita na primeira sexta-feira de outubro.
De acordo com dados do Departamento do Trabalho, o mercado de trabalho americano criou nada menos do que 336 mil vagas em setembro e conta com uma taxa de desocupação abaixo de 4%, próximo das mínimas históricas.
Com o mercado de trabalho a plenos vapores, os norte-americanos tiveram condições de manter consumindo. Aceitaram encarar, inclusive, maiores taxas de juros nos bancos para tomar empréstimos, fato que ajudou grandões financeiros em seus balanços.
O JP Morgan & Chase, por exemplo, reportou um crescimento de 35% do seu lucro na base anual, puxado por avanço dos spreads e um volume de operações de crédito ainda alto.
De acordo com analistas da S&P Global, o consumo interno deverá responder por um pouco mais de 50% do PIB, abaixo da média de 70% de representação.
Casa Branca abre os cofres para a indústria
Parte complementar desta história de sucesso da economia durante o trimestre anterior vem da indústria americana, beneficiária dos bilhões de dólares recebidos em subsídios do governo Joe Biden.
A administração do democrata abriu os cofres para conduzir a transição energética no país, cortando o custo de produção de carros elétricos e fomentando o desenvolvimento de matrizes energéticas alternativas, como solar e eólica.
As subvenções fiscais apoiadas pela Casa Branca e por democratas no Congresso também buscam trazer de volta as manufaturas que saíram dos Estados Unidos em direção à Ásia nas últimas décadas devem surtir efeito.
Os pacotes de estímulo do governo à indústria norte-americana converge com um momento de estabilização da produção industrial dos Estados Unidos.
Como pontua o Banco ING, o índice de gerentes de compra (PMI, na sigla em inglês) industrial do país subiu de 47.6 em agosto para 49.0 em setembro. Embora a pontuação abaixo de 50 indique contração da atividade, ela ocorre em um ritmo menor do vinha apresentando.
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Depois do verão, a desaceleração
Se os dados do terceiro trimestre ainda devem carregar a influência da frenesi do consumo nos EUA, uma ‘ressaca’ econômica pode estar logo adiante, já no último trimestre de 2023.
De acordo com Gabriel Fongaro, economista da Julius Baer, o ano de 2023 contou uma história de surpresa positiva para o crescimento, mas sinais subjacentes de desaceleração deverão se manifestar com mais força daqui em diante.
“Alguns fatores embasam esse movimento: a redução da poupança acumulada pelas famílias durante a pandemia, ganhos salariais próximos ao ritmo da inflação, o repasse da política monetária para segmentos da economia real e a retomada da cobrança de dívidas estudantis porão freios a economia”, explica Fongaro.
Corroborando a visão de Fongaro, a S&P Global vê o PIB americano crescendo cerca de 1.7% no quarto final de 2023.
Apesar da aproximação de um ciclo econômico com crescimentos mais modestos, o economista da Julius Baer não enxerga haver na economia americana “desequilíbrios estruturais” que motivariam uma forte recessão diante dos juros elevados.