Política

Cresce percentual de candidatos negros eleitos para prefeituras

17 nov 2020, 19:16 - atualizado em 17 nov 2020, 19:16
Eleições
Apesar de representarem mais da metade população brasileira, pretos e pardos ainda estão longe de atingir esse patamar na política (Imagem: REUTERS/Ricardo Moraes)

Pouco mais de 32% dos prefeitos eleitos em primeiro turno nas eleições 2020 são negros, categoria que engloba pretos e pardos. É uma proporção ainda distante dos 56% que esse grupo representa na população brasileira, mas é um avanço: nas eleições municipais de 2016, os prefeitos negros somaram 29,2%.

Um destaque foi para a população quilombola. Foram eleitos 56 vereadores em vários estados, além do vice-prefeito de Alcântara (MA), Nivaldo Araújo, e um prefeito. Vilmar Sousa Costa, conhecido como Vilmar Kalunga, vai ser o primeiro remanescente de escravos a comandar o município de Cavalcante, no norte de Goiás, que tem pouco mais de 9 mil habitantes.

“Dentro do processo político, a gente sempre é excluído, né? Então, para ter esse reconhecimento, foi um trabalho árduo, mas, graças a Deus, a gente teve o apoio da comunidade Kalunga e de pessoas de fora dela também”, relata o futuro prefeito de Cavalcante.

Racismo estrutural

O deputado Joseildo Ramos (PT-BA) afirma que ações afirmativas têm feito o sistema eleitoral avançar. Em agosto deste ano, por exemplo, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou que os recursos do Fundo Partidário e do Fundo Eleitoral sejam destinados de forma proporcional às campanhas dos candidatos negros.

O parlamentar destaca, no entanto, que medidas como essa não são suficientes, porque as condições de vida diminuem a chance de participação política da população negra.

Joseildo Ramos
Joseildo Ramos: se o racismo estrutural não for vencido, a sub-representação vai perdurar por muito tempo ainda (Imagem: Najara Araujo/Câmara dos Deputados)

“Enquanto as condições socioeconômicas e as políticas de educação, trabalho, renda, saúde e as próprias oportunidades não conseguirem romper as barreiras do racismo estrutural que persistem na estrutura do Estado brasileiro, a sub-representação vai perdurar por muito tempo”, diz.

Joseildo Ramos acrescenta que, apesar dos números das eleições deste ano, a questão não é somente quantitativa. “De nada adianta ter negros nos espaços de poder se os que lá estiverem neguem a luta pela completa emancipação do povo preto”.

Minorias

Para o cientista político Márcio Coimbra, o Brasil necessita se modernizar e incluir na representação política efetiva as chamadas minorias, que, no caso dos negros e das mulheres, por exemplo, nem são numericamente inferiores. Ele ressalta a importância da união desses grupos no processo político e cita o exemplo dos Estados Unidos quando elegeu Barack Obama presidente da República.

“Obama conseguiu mobilizar todas as outras minorias (mulheres, hispânicos, etc), setores organizados que foram fundamentais para a sua eleição e para a governabilidade”, declarou.

Nas eleições municipais deste ano, houve outro recorde: pela primeira vez desde 2014, quando o critério “raça” passou a ser computado pela Justiça Eleitoral, o número de candidatos negros na disputa foi maior do que o de pessoas brancas.

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