Dívida Pública

Credores criticam Argentina por queda de títulos

23 out 2020, 17:02 - atualizado em 23 out 2020, 17:02
Bandeira argentina no topo da Casa Rosada, em Buenos Aires
Lavando as mãos: credores dizem que já cederam o que podiam, e cabe à Argentina e o FMI encontrar o caminho para o crescimento econômico (Imagem: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins)

Dois dos maiores grupos de credores da Argentina criticaram o governo por administrar mal a economia e disseram que o país está fadado ao desastre apenas sete semanas após reestruturar US$ 65 bilhões em dívidas.

Os investidores pediram que autoridades de política monetária e o Fundo Monetário Internacional façam sua parte e preparem o terreno para a recuperação econômica. Eles disseram em comunicado conjunto que a política cambial do governo restringe as exportações e dificulta a formação de reservas estrangeiras.

“Em vez de anunciar uma reabertura do acesso aos mercados para apoiar as necessidades manifestas de investimento da Argentina, as consequências da reestruturação da dívida são um verdadeiro deserto para o crédito argentino”, escreveram membros do Argentina Exchange Bondholders e do Comitê de Credores da Argentina. “Os credores já fizeram sua parte, proporcionando uma oportunidade histórica para a Argentina começar de novo. Agora, depende da Argentina e do FMI fazerem a deles.”

O PIB argentino deve encolher quase 12% neste ano, o que seria uma queda anual recorde. A inflação está acima de 35% e a taxa de desemprego é a mais alta em mais de uma década.

“A declaração não representa a posição da maioria dos credores”, disse o ministro da Economia, Martín Guzmán, em entrevista a uma rádio na sexta-feira. “Era de um grupo minoritário. Recebi mensagens de grupos maiores de credores se distanciando deles e mostrando uma atitude diferente em relação à responsabilidade corporativa e social.”

Os credores disseram que a impressão de dinheiro pela Argentina para pagar gastos fiscais abala a confiança de investidores domésticos e estrangeiros e que suas políticas agravam o custo econômico da pandemia.

Desde a reestruturação, a Argentina aumentou as restrições para impedir que empresas usem dólares para pagar dívidas, elevou impostos sobre as compras de dólares para poupadores, subiu algumas taxas de juros locais e cortou impostos sobre as exportações agrícolas. Ainda assim, o banco central enfrenta saída de dólares e os elevados gastos levam o país ao maior déficit em pelo menos três décadas.

Os títulos do país se desvalorizaram mais de 24% desde que foram emitidos no início de setembro. O Morgan Stanley classificou a queda como a pior após uma reestruturação em pelo menos 20 anos.

Dito isso, os grupos de credores não têm influência específica para conseguir mudanças na política do governo. A Argentina não precisará fazer grandes pagamentos da dívida reestruturada antes de 2023, então há baixo risco de default nos próximos dois anos.

Mesmo depois de a Argentina conseguir cerca de US$ 38 bilhões em alívio da dívida com a reestruturação, as reservas estrangeiras caíram para o menor nível em quatro anos, e a diferença entre as taxas de câmbio oficial e não oficial é a maior em mais de 30 anos. O presidente da Argentina, Alberto Fernández, disse que não tem planos de desvalorizar a moeda.

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