Crédito privado: Recorde de captação no ano e os principais setores para ficar de olho em 2025
2024 foi ano da renda fixa. Enquanto a aversão a risco tomava conta dos mercados durante o ano com o dólar chegando a patamares históricos, as taxas futuras DI ultrapassavam os 14% e a Selic finalizou o ano nos 12,25%. Com isso, a captação das empresas via dívida apresentou recorde no ano.
Segundo os dados da Anbima, de janeiro a outubro as ofertas no mercado de capitais superaram o ano de 2021 e já se tornou o melhor ano da série histórica. Foram R$ 633,6 bilhões captados no período de 10 meses.
As emissões de debêntures atingiram R$ 65,7 bilhões em outubro, o maior volume mensal já registrado, e que levou o acumulado de 2024 a R$ 381,4 bilhões, valor também recorde e que já supera todos os anos completos anteriores.
Enquanto isso, as ofertas de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) chegaram a R$ 49,6 bilhões, também ultrapassando os demais anos. Nesses mesmos 10 meses, os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) somaram R$ 31,6 bilhões.
Vale lembrar que, em fevereiro, Conselho Monetário Nacional (CMN) alterou os lastros exigíveis para os títulos incentivados (CRIs, CRAs, LCIs e LCAs), além de modificar os prazos mínimos de vencimento, que foram alterados de 90 dias para nove meses. Tais medidas favoreceram ainda mais as debêntures.
Para Marcelo Peixoto, diretor de crédito na Trígono Capital, em entrevista ao Money Times, a indústria de crédito teve um ano forte com ganho de capital e uma boa performance dos fundos. Apesar de uma atratividade maior nos títulos públicos, o setor privado ainda assim se mostrou mais vantajoso que outras opções do mercado em termos de rentabilidade.
“Embora haja alguma pressão, o crédito privado ainda oferece uma remuneração bastante atrativa. Acredito que essa condição continua válida e deve começar a chamar a atenção dos investidores, especialmente pelo retorno nominal absoluto desses fundos. Apesar dos spreads de crédito estarem em patamares básicos e menos atrativos, o CDI, por si só, deve seguir atraindo investidores, principalmente pessoas físicas”, explica Peixoto.
Para 2025, Peixoto avalia que a rentabilidade destes fundos seguirão um outro caminho do que o visto em 2024. Enquanto a rentabilidade e o spread estavam em bons níveis, ano que vem essa tendência pode se acomodar.
“Mas o que ainda está válido é a atratividade da classe de ativo até pelo cenário desafiador que a gente tem para outras classes como a renda variável e fundos multimercados”, disse.
Um ponto de atenção citado pelo especialista, porém, é o risco de crédito das empresas emissoras de dívida. Isso porque a taxa de juros cada vez mais alta acaba deixando a dívida mais cara para as tomadoras, além de gerar um aumento nas despesas financeiras, o que aumento o risco de calote.
Por isso, o próximo ano será um momento de cautela e de um maior monitoramento das empresas de maior risco. Entre os setores mais seguros, Peixoto destacou infraestrutura, saneamento e bancos.
“Gosto bastante de bancos de primeira linha. Os juros podem ajudar a inadimplência subir? Até pode, mas quando vemos a taxa de desemprego baixa, alta na economia e até a arrecadação do governo surpreendendo para cima, é um setor que ganha com os juros em alta”, aponta.