Crédito para MPMEs: Do sonho de juros baixos para pressão de fiscal e inflação
O que você esperava no começo do ano se realizou? Em 2024, as expectativas para a nossa economia foram contrariadas em diversos aspectos, mas talvez mais notavelmente na trajetória da taxa básica de juros.
No começo de janeiro, o Boletim Focus, do Banco Central, previa que a Selic terminaria o ano em 9%, com viés de baixa, mantendo-se em um dígito em 2025. Hoje, devido a um ciclo de aperto monetário ainda em curso, a taxa de referência da economia está em 12%, com a mediana das últimas projeções do ano apontando uma Selic de 12,25% no fim do próximo ano.
Após a decepção do mercado com o anúncio do pacote de corte de gastos pelo governo federal, a curva de juros futuros mostrou uma ampliação das apostas de que o BC, no cenário fiscal atual, será obrigado a acelerar ainda mais o processo de elevação da Selic.
Necessária para segurar a inflação, a alta dos juros é sentida na pele pelas famílias e pelos negócios brasileiros – especialmente os micro, pequenos e médios empreendedores (MPMEs).
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Pois a Selic não é a taxa praticada nos empréstimos. Segundo as últimas estatísticas monetárias e de crédito do BC, nas operações destinadas às pessoas jurídicas, a taxa média de juros alcançou 19% ao ano, com alta mensal de 1,3 ponto percentual e decréscimo de 0,8 ponto em doze meses. Essa média é ainda mais árdua quanto menor o porte do empreendimento.
Segundo o DataSebrae, a taxa média de juros ao ano para MEIs era de 44,04% ao ano, e de 42,49% para microempresas. A taxa do cheque especial – muito utilizado por esses negócios – chega a 128,46% para MEIs e 302,84% para microempresas. As que têm dívida alta podem ter ainda mais dificuldade de captar para investir ou manter capital de giro.
Como agravante, as linhas de financiamento de maior duração tendem a ser reprecificadas na virada de 2024 para 2025, quando tanto fintechs quanto bancos terminam o ano-calendário. Isso tem forte consequência na capacidade de captação de recursos pelas empresas.
Um alento para os empreendedores pode ser encontrado, porém, no momento atual de crescimento econômico, esperado na faixa de 3% em 2024. Se por um lado a economia aquecida pode elevar a inflação e os salários – com a taxa de desemprego em baixa -, a alta na demanda, devido ao maior consumo das famílias, pode favorecer os negócios.
Como em todo novo ciclo, as variáveis são muitas e os negócios tentam se planejar de acordo com as projeções possíveis diante dos elementos disponíveis. Mas sempre existirão riscos.
A certeza é que, em tempos de incertezas e juros altos, os líderes de negócios devem evitar cair em endividamento excessivo, procurando alternativas seguras de financiamento, em instituições sólidas e pesquisando as opções com juros mais vantajosos.
O importante é saber navegar por diferentes contextos, com planejamento diante das projeções, mas também com adaptabilidade caso as expectativas não se concretizem.