Crédito no Brasil: Como enfrentar as tempestades econômicas?
Em uma sociedade onde o crédito é tanto uma ferramenta para equacionar a vida financeira quanto uma armadilha, o planejamento financeiro se destaca como um farol para os brasileiros que navegam em mares financeiros turbulentos.
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Uma pesquisa recente do Serasa, apresentada em abril de 2024, revela um padrão interessante: aqueles que mantêm um controle rigoroso sobre suas finanças tendem a navegar com mais sucesso nas águas muitas vezes turbulentas do mercado de crédito.
Esse estudo contou com 3.025 indivíduos e encontrou uma correlação clara entre a pontuação de crédito e a
regularidade no controle financeiro. Entre aqueles com uma classificação “Excelente” no Serasa Score (701 a 1.000 pontos), impressionantes 90% monitoram regularmente suas finanças.
Essa prática os ajuda a manter-se dentro dos limites de seus orçamentos, evitando despesas impulsivas que podem comprometer sua saúde financeira.
Em contraste, apenas 68% dos consumidores com uma pontuação “Baixa” (300 pontos ou menos) possuem o mesmo nível de diligência.
Esse descuido muitas vezes leva a uma inadimplência mais alta, com nove em cada dez consumidores nessas faixas enfrentando dificuldades significativas para pagar as contas.
Contratempos financeiros, como despesas inesperadas ou desemprego, têm um impacto marcante. Apesar de 57% dos entrevistados com score “Excelente” terem enfrentado despesas inesperadas, eles conseguiram manter suas contas em dia em 89% dos casos.
Por outro lado, mais da metade (aproximadamente 55%) dos que têm pontuação “Baixa” ficaram desempregados, com 80% enfrentando despesas não planejadas, afetando drasticamente sua capacidade de cumprir com suas obrigações financeiras.
Dados do Banco Central do Brasil mostram que, de 2015 a 2017, período de sensibilidade na economia marcado pelo impeachment da ex-presidente Dilma, o saldo de crédito aumentou para todas as faixas de renda, com exceção da mais alta (acima de 20 salários mínimos), que apresentou uma queda de 5,6%.
O crescimento mais significativo aconteceu nas faixas que vão de mais de um a cinco salários mínimos, refletindo que, em períodos de redução de atividade econômica, as pessoas com renda mais baixa tendem a recorrer mais a produtos de crédito por terem menos reservas financeiras para imprevistos.
Para as faixas de renda mais altas, observa-se uma queda ou desaceleração do crescimento tanto no saldo quanto no número de tomadores de crédito, uma vez que esse segmento da população, possuindo outras fontes de recursos e maiores reservas financeiras, opta por reduzir o uso do crédito diante da incerteza do cenário econômico.
Em nota divulgada pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA) em abril de 2017, as aplicações financeiras dos investidores brasileiros totalizaram R$ 2,31 trilhões ao fim de 2016, o que representa um aumento de 11,72% em relação ao apurado no ano anterior.
O resultado do ano foi puxado pela evolução de 18,61% no saldo do segmento de varejo de alta renda (R$ 696,5 bilhões), na comparação a 2015, e de 16,11% do private banking (R$ 831,6 bilhões).
No varejo tradicional, o avanço foi menor, de 3,35% (R$ 853,6 bilhões), influenciado em parte pela redução de 4,1% no número de investidores.
Desse avanço, cerca de 34% foi destinado à Renda Fixa. Vale ressaltar que entre agosto de 2015 e setembro de 2016, a taxa de juros Selic atingiu o patamar de 14,25% ao ano, oferecendo uma excelente oportunidade para os investidores na formação de poupança de longo prazo.
Isso demonstra que as camadas mais favorecidas detêm, além de menor custo de crédito, maior fôlego e capacidade de investir em momentos oportunos, o que, na prática, acentua a desigualdade social no longo prazo.
A educação financeira não é apenas uma prática útil, mas é um tema de grande relevância na sociedade brasileira no que tangencia o aspecto social.
Ao abordar a educação financeira com a seriedade que ela merece, podemos esperar que os brasileiros menos privilegiados, sob a ótica de renda, não apenas sobrevivam às turbulências, mas prosperem nas tempestades financeiras, aproveitando, por exemplo, oportunidades para investimento em ativos com preços depreciados e ou títulos com elevado nível de taxa de juros para formação de sua poupança de longo prazo.