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Crédito cripto agora paga menos que dívida pública dos EUA

13 set 2022, 10:58 - atualizado em 13 set 2022, 10:58
Mercado Bitcoin
Ao contrário dos mercados tradicionais, rendimentos em queda não sinalizam riscos mais baixos para as criptomoedas (Imagem: Pexels/Karolina Grabowska)

O mercado de criptomoedas enfrenta uma nova ameaça: o apelo dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, que oferecem rendimento semelhante por um risco muito menor.

Em uma rara virada, os retornos das criptomoedas normalmente buscados por instituições caíram abaixo do que o governo dos EUA paga para emprestar por três meses.

Com isso, hedge funds e family offices que migraram para o espaço digital têm um motivo a menos para continuar investindo.

O aperto monetário contundente do Federal Reserve eleva as taxas de juros em quase todos os mercados – exceto no universo especulativo das criptomoedas, onde os rendimentos caíram em linha com os volumes e eliminaram algumas das principais avenidas para gerar retornos de dois dígitos.

Ao mesmo tempo, o colapso da stablecoin do projeto Terra e problemas de liquidez de plataformas de crédito cripto como Celsius Network abalaram a confiança.

“Dois anos atrás, os juros em cripto eram de pelo menos de 10% e, no mundo real, as taxas estavam negativas ou próximas de zero”, disse Jaime Baeza, CEO da ANB Investments, um hedge fund focado em ativos digitais. “Agora é quase o inverso, porque os rendimentos em cripto colapsaram, e bancos centrais estão aumentando os juros.”

O inverno cripto deste ano já desafiou alguns dos principais argumentos dos defensores do setor, por exemplo, de que a classe de ativos funciona como hedge contra a inflação e a turbulência política.

Apesar disso, o Bitcoin tem sido negociado praticamente em linha com os índices acionários de referência com o S&P 500, exceto pelo detalhe de que o token caiu em ritmo muito mais rápido.

Mas, até recentemente, os rendimentos das criptomoedas estavam em pé de igualdade, ou até superavam, os juros pagos pelos títulos de dívida do governo, que são essencialmente livres de risco.

Ao contrário dos mercados tradicionais, rendimentos em queda não sinalizam riscos mais baixos para as criptomoedas.

Os retornos são guiados pelos volumes de negociação, e não pela percepção de risco, e refletem a taxa que um investidor pode esperar ganhar emprestando tokens em corretoras cripto e protocolos de finanças descentralizadas (DeFi), ou também depositando essas moedas digitais em plataformas de crédito cripto, geralmente na forma de stablecoins.

Como não têm relação direta com os juros dos bancos centrais, os rendimentos das criptomoedas podem cair mesmo quando as taxas sobem nos mercados financeiros para refletir o aperto monetário do Fed. Isso tem criado uma incompatibilidade que pode levar a uma estagnação em alguns dos ativos mais especulativos do mundo, dizem alguns observadores do mercado. Com retornos mais baixos, pode ser menos provável que investidores comprem tokens para emprestá-los, o que resultaria em demanda menor e, por sua vez, preços mais baixos.

Essa dinâmica se tornou ainda mais forte depois que o presidente do Fed, Jerome Powell, prometeu juros mais altos por mais tempo para combater a inflação.

“O maior apetite por Treasuries sugou a liquidez das criptomoedas”, disse Sidney Powell, CEO da plataforma de empréstimos cripto Maple Finance.

Saída DeFi

Não é que esses investidores, antes em busca de retornos em cripto, agora estejam comprando Treasuries. Na verdade, na maior parte das finanças, taxas mais altas agora estão disponíveis por uma determinada quantidade de risco. Por exemplo, o rendimento que investidores podem ganhar com dívida global corporativa aumentou para 4,4%, nível visto durante a crise financeira, de acordo com um índice da Bloomberg.

Uma medida-chave do interesse de investidores em obter retorno com criptomoedas é o valor total bloqueado em marketplaces onde ocorre grande parte dos empréstimos – as chamadas plataformas DeFi. Esse indicador caiu para apenas US$ 60 bilhões em relação ao pico de US$ 182 bilhões em dezembro do ano passado, segundo dados da DeFiLlama.

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