Economia

Credit Suisse aumenta a 9,75% estimativa para Selic em 2022 e vê processo “muito difícil” de desinflação

17 set 2021, 16:40 - atualizado em 17 set 2021, 16:40
Banco Central
Também houve acréscimo na previsão para o ano que vem, com o banco de investimento passando a projetar avanço de 5,2% do IPCA, ante taxa de 5,0% estimada anteriormente (Imagem: Agência Brasil)

A taxa Selic deve chegar a 9,75% em 2022, projetou o Credit Suisse nesta sexta-feira, também elevando suas estimativas para a alta dos preços ao consumidor neste ano e no próximo e alertando para processo “muito difícil” de desinflação adiante.

O credor suíço espera que o Banco Central anuncie quatro altas consecutivas de 1 ponto percentual na taxa básica de juros e uma elevação final de 0,5 ponto ao longo das próximas reuniões de política monetária, de forma que a Selic encerre 2021 em 8,25% e 2022 em 9,75%.

Em agosto, o banco projetava taxa terminal de 8,25% tanto para 2021 quanto para 2022. Atualmente, a Selic está em 5,25% ao ano.

“Temos comentado sobre o quão desafiador tem sido o cenário inflacionário, mas ainda estamos surpresos com a forte aceleração da inflação” disse o Credit Suisse em relatório assinado por Solange Srour (economista-chefe do banco no Brasil) e Lucas Vilela (economista). “Acreditamos que a autoridade monetária precisará elevar ainda mais os juros básicos à medida que o ambiente inflacionário piora.”

Segundo o relatório, o índice de surpresa inflacionária do Credit Suisse para o Brasil atingiu uma nova máxima recorde em agosto, em alta de 5,1% em relação ao mesmo período do ano anterior.

De acordo com o relatório, o processo de desinflação entre 2021 e 2022 implícito na expectativa média do mercado será “muito difícil” de alcançar (Imagem: Geraldo Magela/ Agência Senado)

Dados do IBGE divulgados na semana passada mostraram que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve em agosto a maior alta para o mês em 21 anos.

No ano de 2021 como um todo, o Credit Suisse revisou para cima sua estimativa para a alta do IPCA, a 8,5%, contra 8,1% anteriormente, citando preços mais altos de alimentos e gasolina, avanço na inflação industrial e ajustes mais elevados em serviços específicos.

Também houve acréscimo na previsão para o ano que vem, com o banco de investimento passando a projetar avanço de 5,2% do IPCA, ante taxa de 5,0% estimada anteriormente.

De acordo com o relatório, o processo de desinflação entre 2021 e 2022 implícito na expectativa média do mercado será “muito difícil” de alcançar, uma vez que requer possível combinação de juros reais bem mais altos, ampliação do hiato do produto e apreciação da taxa de câmbio o que segundo o Credit não está na cartilha do mercado.

A última pesquisa semanal Focus do BC mostrou que os participantes do mercado esperam alta de 8,0% do IPCA neste ano e arrefecimento para 4,03% em 2022, decréscimo de cerca de 4 pontos percentuais na taxa de um ano para o outro.

Com a disparada da inflação e expectativa de condições financeiras mais apertadas, o Credit Suisse piorou sua perspectiva para o crescimento econômico em 2022, esperando expansão de 1,1% do PIB.

Anteriormente, o credor via crescimento de 1,5%.

“Os riscos permanecem inclinados para o lado negativo devido à crise hídrica em deterioração e possibilidade de escassez de energia”, disseram Solange Srour e Lucas Vilela no documento, calculando que eventuais cortes compulsórios de 10% no consumo de energia poderiam reduzir o crescimento do PIB em 1,6 ponto percentual.

A projeção de alta do PIB neste ano permaneceu em 5,3%, segundo os economistas.

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Incerteza Político-Fiscal

Somando-se à inflação bastante pressionada e aos riscos da crise hídrica, a incerteza político-fiscal também está no radar do Credit Suisse.

O banco chamou atenção para a salgada conta de precatórios para 2022 e disse que uma solução via Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que imporia limites ao crescimento dessa despesa nos moldes da regra do teto de gastos é “improvável” devido ao atual nível de tensão entre os Poderes.

Na semana passada, durante manifestações do 7 de Setembro, o presidente Jair Bolsonaro elevou os receios institucionais ao atacar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), embora já tenha moderado o tom desde então.