CRAS Brasil deve crescer 5% em produção para 2025; empresa deixa de emitir CRA de R$ 200 mi com instabilidade do mercado
A CRAS Brasil, que atua nos segmentos de madeira e amendoim, é líder na exportação de óleo de amendoim, com mais de 28% do mercado brasileiro e 454 funcionários. O início das operações aconteceu em 2011.
Em 2023, a fábrica fechou com receita líquida de R$ 476 milhões (avanço de 6,7% frente 2022). A companhia conta com duas fábricas próprias, com uma madeireira localizada no Pará e uma esmagadora de amendoim no interior de São Paulo.
“Em São Paulo, em Itaju, nós fazemos desde a semente até o óleo e o farelo de amendoim. Enquanto o óleo é 100% exportado, o farelo fica no mercado para o confinamento de gado, fazendas de peixe e para monogástricos. Já para a madeireira, parte do produto é destinada para exportação e outra parte é para atender o mercado B2C, com a distribuição em 3 pontos de venda do Rio de Janeiro”, diz Rodrigo Chitarelli, diretor-presidente da CRAS Brasil.
Com isso, a companhia se divide em quatro áreas de atuação:
- CRAS Agro: produção de óleo e farelo de amendoim
- CRAS Energia: distribuição de produtos elétricos no Brasil
- CRAS Madeira: produção de madeira sustentável
- CRAS Trading: comercialização de óleo, farelo de soja, glicerina bruta, refinada e sebo bovino
De acordo com a Mordor Inteligence, o mercado de amendoim é estimado em US$ 11,05 bilhões em 2024, podendo atingir US$ 12,38 bilhões até 2029.
Principais clientes
A operação de madeira também possui uma combinação de mercados de exportação e domésticos, fornecendo materiais para construção e decoração de interiores. A empresa também opera vários pontos de venda no Rio de Janeiro e São Paulo, vendendo produtos de madeira e relacionados.
Entre os clientes, a empresa exporta amendoim para mercados globais importantes, incluindo os Estados Unidos, Europa (principalmente Itália e Bélgica) e Ásia, com um foco forte na China.
Embora haja alguma exportação menor para Japão e Austrália, os principais mercados permanecem os EUA, Europa e Ásia. Essa diversificação ajuda a reduzir a dependência da empresa de um único mercado, permitindo ajustar conforme a demanda global.
O uso consciente da madeira
Atuando no mercado de madeira de 2017, a CRAS Brasil realiza seu manejo florestal no Pará, extraindo madeira de espécies nativas, e adota uma abordagem rigorosa que respeita a maturação natural das árvores.
Este método assegura que a área possa se regenerar e continuar a desempenhar seu papel na absorção de carbono, contribuindo para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
Chitarelli explica que a madeira absorve carbono, oferecendo uma vantagem ambiental significativa em relação ao concreto, que libera carbono durante sua produção. “1 m³ de passarela absorve um a 1,5 tonelada de CO2, enquanto um 1 m³ de aço emite 15 tonelada de CO2. Precisamos divulgar o uso da madeira legal para redução de emissões de carbono”.
O diretor-presidente menciona que a França estabeleceu há dois anos uma lei que obriga toda obra pública precisa ter 50% do material composto com madeira, isso para zerar as emissões de carbono até 2050.
“Temos a maior floresta do mundo e precisamos incentivar o uso da madeira legal, mas antes disso, explicando o que é um manejo de floresta autossustentável. A cada 1 hectare, você usa 3 árvores, sendo que são árvores mais velhas e de diferentes espécies, evitando que qualquer uma delas seja extinta”.
Fora isso, o CEO ressalta que toda madeira adquirida conta com um QR Code que permite ao consumidor rastrear a origem exata de cada tora.
Os planos de expansão da CRAS Brasil
Atualmente, a empresa está focada na redução da sua alavancagem. “Nós investimos bastante, mas como esse custo financeiro ‘explodiu’, nosso endividamento subiu junto. Não adianta fazer investimentos que nem loucos e não ter controle sobre esse dinheiro”.
A companhia realizou um financiamento de R$ 40 milhões via BNDES para aumentar a capacidade de produção em 5%. A ideia é que isso se materialize em maio ou junho de 2025. O plano é operar com capacidade máxima antes de considerar novos investimentos ou expansões significativas, buscando reduzir a desalavancagem.
Com um faturamento anual na casa de R$ 450 – 500 milhões, 70% da receita vem do amendoim, enquanto os outros 30% vem da madeira.
No final de 2023, a empresa emitiu um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) de R$ 50 milhões e estava planejando emitir um novo CRA, entre R$ 150 milhões a R$ 200 milhões, o que acabou não ocorrendo por conta da instabilidade do mercado em meio ao pedido de recuperação judicial da AgroGalaxy.
“O mercado ficou mais ressabiado, o crédito ficou ainda mais caro e escasso. Era muito importante termos esse CRA agora porque ele entraria logo no plantio, dando um fôlego muito importante para liquidar nossos endividamento no curto prazo. Isso tem feito nós repensarmos para não impactar a nossa operação”.
Os desafios de atuar no agronegócio e o foco para 2025
Entre os desafios enfrentados dentro do setor, Chitarelli chama atenção para a falta de gestão. “A seca neste ano foi tão forte que as áreas com pivô central não conseguiram sair ilesas, porque até os poços secaram. A logística também é um grande obstáculo, com atrasos em portos brasileiros como Santos e Paranaguá, o que resultou em perdas financeiras e dificuldades no fluxo de caixa”.
Além disso, as flutuações nos mercados financeiros, como o aumento das taxas de juros e a instabilidade da taxa de câmbio, complicaram o planejamento e as operações financeiras da empresa.
Rodrigo enfatiza que, embora fatores externos como clima e logística sejam difíceis de controlar, a empresa se destaca nas áreas que pode gerenciar, como produção de sementes, qualidade do produto e relações com clientes.
A expectativa da Conab é de que a produção de amendoim cresça 45,8% em 2024/2025, para 1,07 milhão de toneladas, após uma quebra de 24,9%.
Segundo Chitarelli, isso deve fazer com que a disponibilidade de matéria-prima de boa qualidade seja maior no ano que vem. Na madeira, a companhia espera um crescimento de 8% no mercado de alto luxo.