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Covid pode estar alterando critérios para rating

25 maio 2021, 10:07 - atualizado em 25 maio 2021, 10:07
A perda da classificação de crédito de grau de investimento — que pode elevar os custos dos empréstimos — é um castigo para qualquer governo, mas a Colômbia não está sozinha (Imagem: REUTERS/Luisa Gonzalez/File Photo)

A perda da Colômbia de seu status de grau de investimento pela S&P Global na semana passada não só levantou a questão usual de quem será o próximo, mas também dúvidas sobre se o número de países aparentemente poupados aponta para uma mudança nas metas de classificação de crédito.

A perda da classificação de crédito de grau de investimento — que pode elevar os custos dos empréstimos — é um castigo para qualquer governo, mas a Colômbia não está sozinha.

Na última década, Brasil, África do Sul, Turquia e mais de meia dúzia de outros países se tornaram “anjos caídos” — como o rebaixamento ao status “junk” é conhecido no jargão das agências de rating — e as pressões representadas pela Covid-19 significam que muitos mais estão em perigo.

A Fitch e a Moody’s têm a Índia e a Romênia sob advertências. A Fitch também mantém a Colômbia, o Panamá e o Uruguai em sua lista de vigiados e, embora o minúsculo Curaçao seja o único que resta na lista da S&P, mais dez países estão na precária faixa BBB-, embora com perspectivas ‘estáveis’.

Diante disso, o cenário não parece promissor para muitos deles. A Índia se destaca com uma preocupante carga de dívida de 90% do PIB, mas todos, exceto a Romênia, agora têm índices de dívida bem acima da média de 55% para um país com classificação BBB-.

No entanto, apesar de todos os números pessimistas, os investidores do mercado financeiro que usam um contrato de swap especial, o CDS, para se proteger contra problemas de dívida, não parecem pensar que algum desses países está prestes a sofrer rebaixamento de rating.

Um ano atrás, o CDS, indicador do risco-país, da Índia, Colômbia, Indonésia e México sugeria que todos seriam rebaixados para “junk”. O CDS de cada um está agora sendo negociado em níveis que sugerem que os países manterão seus graus de investimento.

“Não existe um número mágico de dívida em relação ao PIB que automaticamente desencadeia um rebaixamento. Simplesmente não funciona assim”, explicou Colin Ellis, diretor de crédito da Moody’s para a região da Europa, Oriente Médio e África.

Em contraste com a tempestade de cortes do ano passado, quando as principais agências cortaram entre 25% e 30% os ratings dos países que avaliam, a Moody’s elevou cerca de três vezes mais do que rebaixou este ano. A S&P elevou 50% mais quando as empresas também foram incluídas.

“Há uma questão ampla de que as agências de classificação parecem estar dando a muitos países o benefício da dúvida”, disse Eldar Vakhitov, um dos “vigilantes de títulos” da gestora de fundos M&G.

Para outros observadores, porém, a aceitação de dívidas elevadas parece estranha. Os ratings são projetados especificamente para julgar a capacidade dos países de pagar suas dívidas e a história mostra que quanto maior a dívida, maior o risco de enfrentar dificuldades.

“É como dizer, desculpe, policial, você não pode me dar uma multa, todo mundo estava dirigindo rápido também”, disse o ex-chefe de classificações soberanas da S&P, Moritz Kraemer.