Covid-19 faz ouro passar de US$ 1.800 e pode levar a novo recorde
O ouro pode estar a caminho de um recorde de longa data. As preocupações crescentes com a economia global empurram a onça do metal para acima de US$ 1.800.
Foram seis dias de avanço no mercado à vista. O ressurgimento do coronavírus em algumas regiões do mundo intensifica temores de uma desaceleração global prolongada. A demanda por ativos que oferecem proteção aumentou.
Em 2020, as captações de fundos negociados em bolsa (ETFs) lastreados em ouro já superam o recorde de um ano inteiro estabelecido há mais de uma década.
Alguns especialistas preveem que a cotação atingirá o maior nível de todos os tempos à medida que a crise da saúde se arrasta.
Mesmo após governos e bancos centrais implementarem enormes estímulos para sustentar o crescimento econômico — o que ajudou a empurrar os rendimentos reais para abaixo de zero e tornou o ouro mais atraente —, especula-se que mais medidas governamentais serão necessárias.
Os investidores devem preferir ações e ouro a títulos de renda fixa e dinheiro em caixa porque estes últimos oferecem retorno negativo e porque os bancos centrais vão imprimir mais dinheiro, acredita Ray Dalio, fundador do maior fundo de hedge do mundo, a Bridgewater Associates.
O aumento nos casos da doença também embala a cotação do ouro. O número de infectados nos EUA passou de 3 milhões e representa mais de um quarto do total global.
A responsável pelo escritório do Federal Reserve (banco central americano) em Cleveland, Loretta Mester, declarou que dados recentes sobre a propagação do vírus nos EUA intensificaram os riscos negativos para a recuperação econômica.
Contraparte dela no Fed de Atlanta, Raphael Bostic apresentou um raciocínio parecido, dizendo a repórteres que a economia parece estar estacionando, o que potencialmente justificaria mais medidas do banco central ou das autoridades fiscais.
“O argumento que embasa o ouro acima de US$ 1.800 é bastante forte, com o dólar mais fraco, a disparada nos casos de Covid-19 e alguns representantes do Fed questionando a recuperação dos EUA”, disse Warren Patterson, estrategista-chefe de commodities do ING Groep em Cingapura. “Parece que é apenas questão de tempo até testarmos os maiores níveis de todos os tempos.”
A onça de ouro à vista, negociada em Londres, subia 0,1%, para US$ 1.810,15 às 11:04 (horário de Brasília). A cotação chegou a US$ 1.818,02 na quarta-feira, a maior desde setembro de 2011, mesmo mês em que o ouro atingiu o recorde de US$ 1.921,17. O total de ativos aplicados em ETFs lastreados em ouro é o maior em registro.
Um movimento de realização de lucros enquanto o ouro se aproxima do recorde anterior deve gerar resistência. No entanto, “no ambiente atual, isso não parece suficiente para detê-lo”, disse Patterson.
Uma análise dos fatores técnicos também alerta para a possibilidade de o ouro perder fôlego. O índice de força relativa em 14 dias do metal se manteve acima de 70, o que para alguns sinaliza excesso de posições compradas e tendência de queda.
“Agora achamos que é questão de quando — e não se — o ouro vai estabelecer um novo recorde”, escreveu Howie Lee, economista do Oversea-Chinese Banking, em relatório. “O recorde anterior de US$ 1.900 está diante de nós e desconfiamos que o ouro possa almejar US$ 2.000 antes do final de 2020 se o número de casos nos EUA não diminuir. “
Ainda no mercado de metais preciosos, a prata avançou 0,4%, a platina ficou estável e o paládio subiu 0,7%.
(Atualizada às 11:04 – Horário de Brasília)