ImóvelTimes

Covid agrava crise em mercado imobiliário mais caro do mundo

10 out 2020, 9:04 - atualizado em 10 out 2020, 11:59
A desigualdade habitacional há muito é uma questão polêmica em Hong Kong, onde dezenas de milhares de pessoas vivem em minúsculos apartamentos subdivididos (Imagem: Unsplash/@smnzhu)

Em Hong Kong – o mercado imobiliário mais caro do mundo – os aluguéis continuam exorbitantemente altos, apesar da pandemia global e de uma recessão severa, ameaçando adicionar uma nova fonte de descontentamento após meses de turbulência política.

A economia de Hong Kong deve encolher até 8% este ano e sua taxa de desemprego está perto da máxima de 15 anos, em cerca de 6%. No entanto, os aluguéis de casas continuam sendo um dos mais caros do mundo, embora tenham recuado perto de 9,2% em agosto em relação ao ano anterior.

Os aluguéis altos, combinados com o aumento do desemprego, estão tornando mais difícil para os operários e para os que estão à margem da pobreza encontrar e manter até mesmo espaços muito pequenos.

A desigualdade habitacional há muito é uma questão polêmica em Hong Kong, onde dezenas de milhares de pessoas vivem em minúsculos apartamentos subdivididos que às vezes são tão pequenos que são chamados de casas-gaiola.

As dificuldades habitacionais adicionais alimentadas pela pandemia colocaram mais pressão sobre a administração de Carrie Lam, que está lutando para reconquistar a confiança de milhões após a imposição de uma lei de segurança nacional que apertou o controle de Pequim sobre a cidade.

No distrito de Tsim Sha Tsui, lar de boutiques luxuosas e arranha-céus reluzentes, Herman Wong oferece uma visão de como a pandemia alimentou a deterioração das condições de vida de muitos.

O morador de 55 anos perdeu seu emprego em uma empresa de entrega de vegetais no ano passado quando os protestos políticos interromperam os negócios e está lutando para encontrar um novo trabalho durante a pandemia.

Ele morava em um apartamento de um quarto em Shenzhen, cidade chinesa próxima, alugado por 4.200 yuans (US$ 620) por mês, mas foi expulso em abril e acabou voltando para Hong Kong – nas ruas.

Uma organização sem fins lucrativos o ajudou a se candidatar a um subsídio do governo e agora ele divide um quarto de albergue por US$ 645 por mês. No local há espaço para duas camas e as janelas devem permanecer fechadas por causa de ratos e mau cheiro. No entanto, Wong teme que mesmo isso logo se torne inacessível.

“Só pudemos pagar o quarto porque o turismo diminuiu devido à pandemia”, disse Wong. “Tenho medo de ter que encontrar outro lugar para morar se os aluguéis aumentarem.” Ele sente que o governo não está fazendo o suficiente pelas pessoas na situação dele, que diz estarem “abandonadas”.

Um representante do governo de Hong Kong disse que a administração está fazendo o possível para dar suporte aos que dormem nas ruas por meio de organizações não governamentais, quartos em albergues e provisões para outras necessidades como cortes de cabelo, refeições e banho. O departamento de bem-estar social também acrescentou medidas para ampliar a assistência aos desempregados durante a pandemia, disse o governo.

Em um estudo do meio do ano, o provedor de serviços imobiliários CBRE Group relatou que Hong Kong continua sendo o lugar mais caro do mundo para comprar um imóvel. Os aluguéis médios mensais na cidade são o terceiro maior do mundo, depois de Nova York e Abu Dhabi.

Em Hong Kong, o número de pessoas que dorme na rua abordadas por organizações não governamentais aumentou para 1.423 no período de abril de 2019 a março de 2020, de 1.297 no ano anterior, de acordo com um porta-voz do departamento de Previdência Social. Embora isso reflita o número que recebeu ajuda de organizações sem fins lucrativos, não inclui todas as pessoas sem casa em Hong Kong.

Embora a população de sem-teto da cidade pareça pequena em comparação com Nova York ou São Francisco, ela não reflete aqueles que vivem em espaços “desumanos” que não são seguros, disse Jeff Rotmeyer, fundador da ImpactHK, organização não governamental que fornece abrigo e refeições para quem não tem lar.

“A verdade é que você tem centenas de milhares de pessoas vivendo em espaços com menos de 30 metros quadrados, apartamentos subdivididos”, disse Rotmeyer. A situação parece ter piorado durante a pandemia e ele vê novos rostos quase todos os dias.

O governo de Hong Kong também parece estar fazendo menos para ajudar a proteger os locatários em comparação com outras cidades grandes. Nos EUA, os Centros para Controle e Prevenção de Doenças suspenderam temporariamente os despejos residenciais para evitar a disseminação de Covid-19, enquanto em Londres, o prefeito pediu um congelamento de dois anos no aluguel da capital.

Apesar da queda nos aluguéis residenciais privados gerais de Hong Kong no ano passado, a situação dos menos favorecidos não melhorou. O aluguel médio aumentou 15% em agosto em relação ao ano anterior, de acordo com recente relatório da Sociedade para Organização Comunitária, um grupo sem fins lucrativos.

Uma pesquisa incluída no relatório também mostrou que quase metade dos 439 entrevistados que moram em casas subdivididas disseram que seus proprietários aumentaram seus aluguéis nos últimos três anos. A maioria dos entrevistados também considerou seus aluguéis caros.

Compartilhar

TwitterWhatsAppLinkedinFacebookTelegram
Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies.

Fechar