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Covid-19 pressiona setor de laranja do Brasil em ano de safra menor, diz produtora

08 maio 2020, 14:10 - atualizado em 08 maio 2020, 14:10
Trabalhadores selecionam laranjas em Limeira (SP)
O que deixa a indústria de laranja do Brasil mais exposta ao vírus do que outras no agronegócio (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

O Grupo Junqueira Rodas, que produz laranja em 2,2 milhões de pés espalhados por sete fazendas no Estado de São Paulo, reinventou-se para enfrentar o Covid-19 na safra 2020, visando minimizar os riscos aos trabalhadores nos pomares.

Sarita Rodas, a sócia-presidente da empresa familiar com mais de meio século de existência, uma das grandes e tecnificadas produtoras da fruta no Brasil, avalia que este será “um ano dos mais difíceis”, o que sinaliza o cenário que a cadeia produtiva tem pela frente.

Isso porque, diferentemente de outras commodities agrícolas nas quais o Brasil também é líder mundial, como soja, açúcar e café, a laranja precisa de mais gente para ser colhida –ainda não há máquinas colhedoras para fazer o serviço.

O que deixa a indústria de laranja do Brasil mais exposta ao vírus do que outras no agronegócio, trazendo incertezas para um setor que responde por mais da metade da produção global de suco e gerou renda de mais de 13 bilhões de reais em 2019.

“Nunca imaginei que teríamos de adotar tantas medidas sanitárias para o ser humano… Acho que é um ano de muito risco, não saber até que ponto vamos conseguir desenvolver a colheita, se vai ter falta de mão de obra… acho que é um dos anos mais difíceis da história”, disse Sarita à Reuters, em uma entrevista por telefone.

A atividade é tão intensiva em mão de obra –com os “safristas” convocados na época colheita– que foi responsável por gerar 48.196 admissões em 2019, ou 26% da vagas geradas em São Paulo, dínamo econômico e maior produtor da fruta no país.

A magnitude das contratações, um movimento que começa em junho com o início da colheita da fruta para indústria, dá ideia também dos desafios diante de uma doença tão contagiosa e nova, pontuou Sarita.

“O momento difícil faz a gente se reinventar… éramos acostumados com contato pessoal, e conseguimos ser tão produtivos ou mais de forma online, criamos esse plano de contingência, tudo online”, contou Sarita, advogada que lidera o grupo há seis anos, após um processo sucessório iniciado há 12.

“No agro, não é tão comum trabalhar online, foi uma mudança muito brusca, mas muito produtiva”, acrescentou ela, ao revelar como foi estabelecer todos os procedimentos e regras para garantir a segurança sanitária dos trabalhadores.

Além de todas as ações básicas para diminuir os riscos de contaminação, como distanciamento no transporte e na fila do ponto de ônibus, uso obrigatório de máscaras, entre outras, a empresa investiu em tecnologias como o ponto facial, para o funcionário evitar contato físico ao registrar presença. As regras incluem até advertência trabalhista aos que não usam os equipamentos de proteção, como forma de conscientização.

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“Boom” de trabalhadores

Tudo isso já está sendo desenvolvido no momento em que o grupo ainda realiza a colheita da chamada laranja de mesa, destinada o mercado interno, que demanda menos funcionários.

Mas quando a safra da laranja consumida pela indústria exportadora de suco começar, em mais um mês, o número de empregados do grupo vai dobrar para mais de mil com a chegada dos “safristas”, no grande teste das ações contra a doença.

Ainda que nos laranjais os colhedores já trabalhem cada um em sua linha, o que permite um certo distanciamento relativamente seguro, a maior circulação de pessoas preocupa.

“Nada é bom nesta catástrofe, conseguimos estruturar um plano em época de menos pressão de colaboradores, agora estamos com ele testado quando tiver mais fluxo de gente, só que isso acontecerá também quando houver maior pressão da doença”, disse a produtora.

Ainda que nos laranjais os colhedores já trabalhem cada um em sua linha, o que permite um certo distanciamento relativamente seguro, a maior circulação de pessoas preocupa (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

Ela lembrou que, até a última semana, os casos de Covid-19 na maioria das cidades em que a empresa atua eram contados em uma mão, mas tendem a aumentar nos próximos meses, quando a colheita também atingir seu pico.

O Junqueira Rodas possui ainda unidades produtoras de gado e cana-de-açúcar, porém quase 90% dos funcionários atuam na citricultura, em pequenas cidades no centro-norte do Estado, como Monte Azul Paulista, Guaraci e Tabapuã.

Se nessas cidades, até o momento, há poucos casos de coronavírus, a estrutura hospitalar não se compara à dos grandes centros, outro ponto de preocupação da empresária, caso a doença avance para essas áreas com mais força.

Safra Menor

Nem mesmo notícias normalmente positivas para a indústria –a disparada neste ano de cerca de 20% nos preços do suco de laranja em Nova York, na esteira de uma maior demanda pela fonte de vitamina C em função do coronavírus — é capaz de tirar o foco da executiva.

A cotação do dólar em máximas históricas, o que costuma ser bom para um setor majoritariamente exportador –dominado por poucas e grandes indústrias processadoras, como Citrosuco, Cutrale e Louis Dreyfus– também não traz qualquer alívio aos citricultores, na opinião da empresária.

Ela ressaltou que os custos aumentaram com transporte e outras medidas contra o vírus e muitos insumos são dolarizados.

Mas, além do coronavírus, o mercado de laranja também deverá ver uma safra menor no Brasil.

A expectativa de Sarita é de uma queda de 25% a 30% na produção do parque citrícola que abastece a indústria exportadora de São Paulo e Triângulo Mineiro.

O Junqueira Rodas deve sofrer menos, já que tem 100% das áreas irrigadas, algo que não é comum em todos os pomares.

De qualquer forma, ela explicou que os laranjais sofreram com o forte calor em outubro, logo após a florada, o que derrubou muitos pequenos frutos.

Os resultados da primeira estimativa da nova safra da principal região produtora do país serão conhecidos na próxima segunda-feira, em trabalho realizado pelo Fundecitrus.