Cosan (CSAN3) e Vale (VALE3): As 3 questões que ninguém respondeu até agora
Independentemente se você é um investidor iniciante ou mais experiente, provavelmente você já deve ter percebido que os participantes do mercado financeiro criaram uma porção de ditados para expressar situações ou comportamentos do dia a dia.
“Caiu, comprou.”
“Mercado tem todo dia.”
“Árvores não crescem até o céu.”
“Skin in the game (arriscar a sua própria pele).”
Embora o conceito seja claro, às vezes, sinto que o investidor tem uma certa dificuldade de entender o real significado de cada um desses ditados. Não por ignorância, mas por não conseguir entender na prática o seu funcionamento.
E, a última semana foi interessante por esse motivo, visto que ocorreu um evento que mostrou de fato a importância de um dos principais ditados do mercado, que na minha opinião é: “Não coloque todos os ovos na mesma cesta”. Além de ter um significado bastante intuitivo, os ensinamentos dessa frase são valiosos: reduzir a chance de que todos eles quebrem no caso de um evento inesperado.
Traduzindo para o mundo dos investimentos, significa realizar a diversificação da sua carteira entre diversas classes de ativos. Mesmo que você possua grande convicção em relação a um determinado ativo, ainda assim a diversificação deve estar presente em seu portfólio. Afinal, eventos inesperados acontecem. Vamos aos fatos.
Deu match: Cosan (CSAN3) + Vale (VALE3)
No último dia 7, a Cosan (CSAN3) — um dos principais conglomerados de infraestrutura do país — anunciou a compra de uma participação minoritária na Vale (VALE3), uma das maiores mineradoras globais e que dispensa maiores apresentações. O grupo adquiriu uma fatia de 4,9% da mineradora, com a opção de comprar mais 1,6%, mediante aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE).
Em teleconferência realizada depois do anúncio da transação, a Cosan explicou que um dos motivos da movimentação foi a diversificação do seu portfólio de investimentos. Antes dessa transação, o conglomerado já contava com operações em energia (Raízen), transporte (Rumo e Moove), infraestrutura (Compass) e mercado imobiliário (Radar, Tellus e Janus).
A compra da participação em Vale, na visão da companhia, adiciona outras avenidas de crescimento, visto que ganha exposição ao setor de materiais básicos, com uma receita totalmente dolarizada e mais exposta à demanda global.
Além disso, como a Vale não possui controle definido, a empresa pretende contribuir para a operação da mineradora como um acionista minoritário relevante.
De acordo com os executivos da Cosan, o conhecimento em produção de energias renováveis e biomassa poderia se somar aos esforços da Vale na descarbonização da cadeia do aço. Além disso, o Porto de São Luís, da Cosan, poderia se tornar um canal de escoamento para os materiais básicos da Vale.
Intuitivamente, uma transação envolvendo duas das principais companhias brasileiras (e dado o excelente track record de geração de valor da Cosan) seria enxergada de forma positiva pelo mercado.
Interessante, não?
Colocando os pingos nos is
A realidade não foi bem essa. Depois do anúncio, as ações da Cosan despencaram -15,6% contra -1,6% do Ibovespa. Ou seja, em apenas 3 dias, houve uma perda de mais de R$ 5 bilhões de valor de mercado, indicando que a transação não foi bem recebida.
Bastante fora do radar do mercado, dado que o movimento é diferente dos últimos realizados pela Cosan, os investidores levantaram uma série de questionamentos em relação ao movimento do conglomerado de Rubens Ometto:
1. Em um momento em que o mercado privilegia a distribuição de proventos e o retorno de capital para os acionistas, a utilização dos dividendos das subsidiárias da Cosan para pagamento da transação fará com que o valor distribuído para seus acionistas se reduza. Seria essa a melhor alocação de capital para o momento?
2. Diferentemente das últimas transações em que a companhia se tornou controladora ou acionista de referência e ajudou no turnaround das adquiridas, qual seria a real contribuição que a Cosan poderia realizar na Vale, dado que esta já possui processos bem estabelecidos e um dos menores custos de produção de seu segmento?
3. Não estaria a Cosan dando um passo maior que a perna dado que o seu valor de mercado é de aproximadamente R$ 30 bilhões, enquanto o da Vale (VALE3) ultrapassa os R$ 330 bilhões?
Ainda não temos nenhuma dessas respostas e, por conta dessa maior incerteza, os investidores desovaram os papéis de Cosan na Bolsa. Mesmo que se trate de um dos maiores conglomerados de infraestrutura do país, o desempenho dos papéis trouxe retornos negativos para os investidores, especialmente para àqueles que não seguiam o conceito do ditado.
Para os adeptos da diversificação e que possuíam Cosan em carteira, o evento também trouxe perdas, mas certamente menores e menos traumáticas do que para o primeiro grupo. Afinal, como diria Ray Dalio, a diversificação é o “Santo Graal dos investimentos”.
Por fim, embora tenha pouca visibilidade de como essas questões se resolverão, acredito que o movimento dos papéis foi demasiadamente acentuado. Dessa forma, enxergo uma boa oportunidade para àqueles que não possuem ainda os papéis da Cosan (CSAN3) em carteira.
Em minha última publicação na série As Melhores Ações da Bolsa, dei minha visão mais detalhada e orientação sobre o que fazer com ambos os papéis.
Graduado em Engenharia Mecânica pela UFRJ e com MBA de Finanças pela mesma instituição, Fernando Ferrer atua na Empiricus como analista de investimentos há 5 anos. Atualmente, é responsável pela série best-seller As Melhores Ações da Bolsa e faz parte da equipe que comanda o Carteira Empiricus, o portfólio multimercado que é o carro-chefe da casa. Colunista da newsletter Day One, Fernando passará a integrar o time de colunistas do Money Times com sua série quinzenal Papo de investidor.
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