Corte menor de juro “socializa” crise política para o bolso do brasileiro
A desaceleração do ritmo de corte de juros pelo Banco Central do Brasil é uma maneira de “socializar” os danos causados pela mais recente crise política do país que pôs em xeque ao mesmo a reforma da Previdência e a continuidade do governo de Michel Temer, avalia a Ashmore, gestora de recursos britânica especializada em investimentos em mercados emergentes.
“Se o ruído político atrasar ainda mais a reforma ou até torna-la impossível durante o tempo de Temer no cargo, o ajuste fiscal do Brasil simplesmente não será suficiente para garantir uma estabilidade macroeconômica sustentada”, ressalta Jan Dehn, chefe de pesquisa econômica. “É por isso que o Banco Central sente que deve errar por precaução”, analisa.
Pela sexta vez seguida, o BC baixou os juros básicos da economia na semana passada. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa Selic em 1 ponto percentual, de 11,25% ao ano para 10,25% ao ano. A decisão era esperada pelos analistas financeiros, mas mudou nas semanas anteriores de 1,25 ponto percentual devido aos desenvolvimentos políticos após a delação da JBS.
“A cautela do Banco Central socializa, assim, o custo do fracasso dos políticos brasileiros”, ressalta Dehn. Para ele, mesmo em um cenário em que Temer, ou seu sucessor, não implementem a reforma da Previdência, será inevitável que ela avance na próxima administração a tomar posse a partir de 2018 pela “simples razão” de que sem ela o espaço para o gasto fiscal cairá para um nível alarmante, “uma realidade que poucos governos achariam confortável”.