Algodão

Corte de Renner e Hering pelo UBS se alinha ao cenário sombrio para o algodão

18 abr 2020, 10:30 - atualizado em 18 abr 2020, 13:45
Colheita de algodão no distrito de Roda Velha, próximo a Luís Eduardo Magalhães (BA)
Perspectivas sombrias para os produtores de algodão (Imagem: REUTERS/Ricardo Moraes)

A esvaziada de estimativas que o UBS trouxe na sexta (17) para as ações da Renner (LREN3) e Hering (HGTX11), destacada por Money Times, corrobora o desânimo que toma conta da cotonicultura.

As tecelagens e indústrias brasileiras travaram sob efeito retardado do varejo e as exportações, que vinham bem em janeiro, e projetadas para recorde no ciclo atual, estão praticamente em viés de serem anuladas. Vestuário não é prioridade mundial na devastação econômica que a pandemia está trazendo.

A Abrapa, que reúne os produtores de algodão, disse que o consumo doméstico, participante de 700 mil toneladas da produção, está parado. E 40% das exportações que não foram vendidas antecipadamente, de uma expectativa de 2 milhões de toneladas de agosto de 2019 a julho, encontrarão pouca disposição da Ásia, maior destino.

Com base nesses dados, em entrevista a Money Times quarta-feira (15), Márcio Portocarrero, diretor-executivo da associação, alertou para a dificuldade que os produtores terão para carregar estoques, revelando que haverá necessidade de recursos oficiais também para alongamento do perfil da dívida contraída para custeio da safra 19/20.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Ásia despenca

Em conversa com tradings e importadores asiáticos – e chineses em particular, 32% do Market share dos embarques do Brasil –, Portocarrero destacou a possibilidade de queda de 14% nas compras globais da China (7,1 milhões/t). Outro importador relevante, o Vietnã (15% das vendas nacionais), reduzirá suas aquisições em 4%.

Bangladesh e Índia seguem o ritmo menor de produção de vestuário na esteira da pandemia da covid-19.

As perspectivas negativas anularam as boas vendas de janeiro, que chegaram perto de 250 mil/t, e as de março, com aumento de 35% (140,7 mil/t). Detalhe que no mês três a China já não foi o primeiro comprador do algodão brasileiro. E desde então o cenário global de crise piorou, atacando mais a Europa, os Estados Unidos e o Brasil.

Um interlocutor chinês da Abrapa calcula que a China levaria até três meses para retornar ao patamar normal, a partir da retomada da economia, segundo Márcio Portocarrero. Mas o tombo das principais economias pode até ser maior, podendo retardar mais ainda a volta dos importadores.

A decisão do UBS de cortar expectativa para as redes de varejo, justamente pela baixa do setor de vestuário, veio três dias depois do BTG Pactual (BPAC11) recomendar ações de produtores de algodão, além de grãos, como da SLC Agrícola (SLCE3).