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Cortar ou não cortar? Visões conflitantes no Fed aumentam pressão sobre Powell

04 set 2019, 11:15 - atualizado em 04 set 2019, 11:16
Em duas semanas ocorre a reunião de política monetária do Fed e uma autoridade do banco sinaliza oportunidade para redução agressiva da taxa de juros (Imagem: Andrew Harrer/Bloomberg)

O Federal Reserve deveria usar sua reunião de política monetária que ocorrerá em duas semanas para reduzir agressivamente a taxa de juros, disse na terça-feira uma autoridade do banco central dos Estados Unidos.

Menos de uma hora depois, um segundo membro do Fed disse que não precisava usar o precioso poder do banco central quando a economia está crescendo, a inflação parece estável e os mercados de trabalho estão em boa forma.

As visões conflitantes –do presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, que pediu um corte na taxa de 0,5 ponto percentual; e do presidente do Fed de Boston, Eric Rosengren, que não viu nenhuma necessidade imediata de qualquer movimento– mostram a saia justa em que o chairman do Fed, Jerome Powell, se encontrará na próxima reunião de política monetária.

Por um lado, a escalada na guerra comercial EUA-China e uma desaceleração econômica global começaram a atrapalhar os gastos das empresas e a produção industrial dos Estados Unidos, ameaçando a economia norte-americana em geral.

O presidente dos EUA, Donald Trump, tem exigido que o Fed corte os juros para impulsionar o crescimento, enquanto empurra tarifas sobre as importações chinesas para tentar obter um melhor acordo comercial.

Por outro lado, os norte-americanos continuam gastando, os salários estão subindo e os empregadores continuam criando postos de trabalho, sugerindo que uma desaceleração não está no horizonte.

Embora Powell tenha dito que o Fed agirá “conforme apropriado” para manter a economia em crescimento, há muitos desacordos entre seus colegas membros do Fomc sobre o que essas duas palavras significam na prática.

Em entrevista à Reuters na terça-feira, Bullard argumentou que o Fed precisa se adiantar tanto às expectativas do mercado financeiro por um pequeno corte nas taxas e quanto a uma guerra comercial global que se tornou um “acerto de contas” mais amplo sobre como a economia mundial está organizada.

Destacando suas preocupações, dados divulgados na terça-feira mostraram que o setor manufatureiro dos EUA contraiu pela primeira vez em três anos. As ações norte-americanas recuaram e o rendimento dos Treasuries cedeu para seu menor nível em três anos, com a preocupação de que a prolongada guerra comercial esteja afetando cada vez mais as economias dos EUA e do mundo.

“Estamos (com juros) muito altos”, disse Bullard, observando que a atual taxa de juros do Fed, entre 2% e 2,25%, está acima do rendimento atual de todos os Treasuries. Até o yield de 30 anos caiu abaixo de 2%.

Já Rosengren disse não ver necessidade de cortar preventivamente as taxas de juros para compensar riscos que não estão claramente sendo sentidos nos dados econômicos dos EUA. Ele atribuiu os baixos juros de longo prazo nos EUA a problemas no exterior que ainda não haviam sido sentidos no país.