Coronavírus pode barrar etapa final da recuperação do emprego no Brasil
O mercado de trabalho formal deu sinais de recuperação no trimestre encerrado em janeiro deste ano, segundo análise do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que alertou que as tendências analisadas devem ser modificadas pela pandemia de coronavírus.
Os pesquisadores se basearam em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e afirmam que ainda é cedo para medir o tamanho do impacto que será sentido.
A técnica de Planejamento e Pesquisa do Ipea, Maria Andrea Parente, explica que a economia brasileira deve ser afetada pela desaceleração global e também pode enfrentar problemas com a disseminação do vírus no Brasil.
“Neste momento, a gente não sabe precisar, porque a gente não sabe ainda a intensidade nem a duração dessa crise”, disse.
“A gente vinha em um cenário de expectativas muito positivas para 2020 e, neste momento, essa melhora das expectativas está um pouco suspensa.”
Veja o relatório
Um dos dados que aponta a recuperação que estava em curso é a retenção dos trabalhadores. Segundo o Ipea, 90,1% dos trabalhadores formais do último trimestre do ano passado já estavam na formalidade no trimestre anterior, resultado que é considerado o melhor desde 2012.
A retenção melhorou para todas as faixas etária até 59 anos e piorou para quem tem 60 anos ou mais.
O fluxo de trabalhadores que trocaram a informalidade pela formalidade também cresceu, chegando a 13,7%. O Ipea destaca que a formalização indica confiança, já que envolve mais custos de contratação e vínculo entre empregadores e empregados.
“A economia primeiro volta, depois volta o mercado de trabalho via colocação informal e conta própria. E o último passo é o mercado formal.
E a gente estava chegando a esse último passo”, explicou Andreia, que ponderou que os postos de trabalho formal também são mais resistentes a um cenário de instabilidade. “Pode até adiar decisões de contratação, mas, para aumentar o número de demissões, tem todo um custo envolvido”.
Aplicativos
O estudo também conseguiu identificar o peso dos motoristas e entregadores de aplicativos nas vagas geradas por conta própria nos últimos cinco anos.
Segundo o Ipea, o crescimento dos trabalhadores por conta própria no mercado de transportes terrestres cresceu em média 0,59% ao ano entre 2012 e 2014, e esse ritmo saltou para 9,67% ao ano entre 2015 e 2019.
Em números absolutos, isso provocou um crescimento de 1,253 milhão de trabalhadores em janeiro de 2015 para 1,988 milhão em abril de 2019. Foram cerca de 700 mil postos de trabalho em quatro anos, o que contribuiu para que o país chegasse a 24,5 milhões de trabalhadores por conta própria.
Para o diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, José Ronaldo de Castro Souza Júnior, uma possível disseminação do coronavírus no país pode impulsionar mais trabalhadores ao transporte de passageiros e entrega por aplicativos.
“O setor tende a ter crescimento no cenário de crise que está se desenhando, porque as pessoas vão continuar a comer, mas vão evitar lugares públicos. Elas vão tentar evitar transporte de massa, e você minimiza isso por meio desse tipo de serviço. A tendência é que esse tipo de trabalho ganhe ainda mais destaque.”