Agronegócio

Coronavírus ameaça colheita de café na América Latina

17 abr 2020, 9:33 - atualizado em 17 abr 2020, 9:33
Café
A Federação Nacional dos Cafeicultores da Colômbia (Fedecafé) trabalha com o governo para desenvolver protocolos que possam ajudar a impedir que trabalhadores fiquem doentes (Imagem: REUTERS/Nacho Doce)

A pandemia de coronavírus transformou a vida das pessoas de maneiras sem precedentes e incontáveis. Agora, pode estar de olho em seu café.

O fechamento de bancos, a redução das jornadas de trabalho, a mobilidade restringida e o medo de contágio nas fazendas causam sérias preocupações de que não haverá trabalhadores suficientes para colher grãos de café em breve.

A pressão é especialmente grande na Colômbia, Brasil e Peru, que respondem por quase dois terços da produção mundial do grão arábica.

Estimativas já apontavam que a produção de café ficaria aquém da demanda neste ano, e que o déficit seria preenchido com estoques de safras anteriores.

Agora, com a ameaça de falta de mão de obra, o pequeno excedente esperado para a próxima temporada pode diminuir ou desaparecer. Além disso, estoques se esgotaram com a onda de compras motivadas por pânico em supermercados.

Os preços do grão arábica subiram como resultado: os contratos futuros em Nova York acumulam alta de cerca de 15% apenas no último mês.

No Peru, o grão é cultivado por agricultores das terras altas de Puno, que migraram para as áreas de cultivo do distrito de Sandia.

A colheita deve começar no próximo mês, mas Jimmy Larico, gerente-geral da cooperativa Cecovasa, teme que não haja trabalhadores suficientes. Ao mesmo tempo, os próprios cafeicultores estão partindo para escapar da falta de alimentos e outros itens básicos na região.

“Famílias inteiras estão indo embora”, disse Larico. “Estão indo a pé por causa das restrições” ao transporte público, disse.

“Muitas pessoas têm abandonado suas fazendas. A colheita está em risco se a quarentena persistir.”

A colheita de café é uma tarefa árdua. Os trabalhadores costumam ficar nas plantações o dia todo, procurando grãos maduros o suficiente, com cuidado para não danificar o resto.

No Brasil, o maior produtor de arábica do mundo, grande parte da atividade da colheita foi mecanizada, o que pode blindar cafeicultores da falta de mão de obra. Mas, na Colômbia, o segundo maior produtor, grande parte da produção ainda é colhida à mão.

Muitas vezes, é um trabalho mal remunerado; portanto, muitos trabalhadores vivem em condições precárias com várias pessoas. Isso aumenta o risco de o vírus se espalhar se apenas uma pessoa estiver infectada.

A Federação Nacional dos Cafeicultores da Colômbia (Fedecafé) trabalha com o governo para desenvolver protocolos que possam ajudar a impedir que trabalhadores fiquem doentes.

O grupo também está criando um banco de empregos para garantir que haja mão de obra suficiente e espera atrair algumas das pessoas desempregadas em outros setores, disse Roberto Vélez, diretor executivo da federação. Ainda assim, ele reconhece que a pandemia já causou desaceleração.

Para consumidores, parte da alta dos preços do café pode começar a desacelerar à medida que o pânico nas compras diminui. Ao mesmo tempo, restaurantes e cafés fechados no mundo todo também podem reduzir o crescimento da demanda geral, mesmo com as pessoas tomando café em casa.

Mas, por enquanto, os estoques estão apertados. As reservas de grãos não torrados nos Estados Unidos caíram pelo sexto mês consecutivo em março, para o menor nível desde abril de 2016, mostram dados da Green Coffee Association.

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