Saúde

CoronaVac deve ter eficácia similar em adultos e idosos, diz diretor de pesquisa do Butantan

29 dez 2020, 18:38 - atualizado em 29 dez 2020, 18:38
Coronavac
Na semana passada, o Butantan adiou a divulgação dos dados da eficácia da CoronaVac após estudos clínicos em Fase 3 feitos no Brasil (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

A CoronaVac, vacina contra Covid-19 do laboratório chinês Sinovac que está sendo testada e envasada no Brasil pelo Instituto Butantan, deve ter uma eficácia parecida na prevenção da doença em adultos de 18 a 59 anos e em idosos com mais de 60, disse à Reuters nesta terça-feira o diretor médico de pesquisa clínica do Butantan, Ricardo Palacios.

Ele explicou que em breve serão publicados em uma revista científica os dados dos estudos realizados na China de Fase 1 e 2 que apuram a segurança e a resposta imune gerada pela vacina com voluntários idosos.

Segundo Palacios, os resultados foram similares aos apurados em adultos entre 18 e 59 anos no mesmo estágio dos testes, que mostraram que 97% dos voluntários apresentaram resposta imune.

“Isso permite prever, ou digamos que podemos inferir a partir disso, que a idade não é um fator tão relevante em relação à imunogenicidade e não deveria ser também em relação à eficácia. É isso que parece sugerir esse dado”, afirmou.

Na semana passada, o Butantan adiou a divulgação dos dados da eficácia da CoronaVac após estudos clínicos em Fase 3 feitos no Brasil, e os dados do estudo foram enviados para a China, de acordo com o instituto, por causa de uma previsão contratual no acordo com a Sinovac.

Palacios afirmou que o envio dos dados à China não se deu para que os resultados fossem uniformizados com os obtidos em estudos clínicos em Fase 3 feitos com a CoronaVac em outros países, como Turquia e Indonésia. Ele afirmou que é impossível unificar os dados, pois os estudos têm critérios diferentes.

“Não dá para uniformizar”, garantiu. “O nosso estudo trabalha com os profissionais de saúde. Os profissionais de saúde são os que estão mais expostos em toda a população, são realmente os que têm mais risco. É muito diferente o comportamento que pode ter uma vacina em uma população que tem altíssimo risco com um estudo que foi feito na comunidade, como esse que foi feito na Turquia e na Indonésia”, afirmou.

“Os resultados não vão ser iguais, ninguém espera que sejam iguais”, acrescentou.

De acordo com o Butantan, o adiamento do anúncio da eficácia da vacina e o envio dos dados à China aconteceu porque a agência regulatória chinesa NMPA (na sigla em inglês) tem um procedimento diferente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O órgão chinês exige fazer uma análise prévia dos dados do estudo antes do pedido de registro.

“É um procedimento regulatório, nada mais”, disse. “Até que a NMPA declare que está tudo conforme, a gente não pode dizer que tem forma de executar essa análise”, afirmou, acrescentando que, para o registro da CoronaVac no Brasil, serão usados apenas os dados do estudo clínico feito pelo Butantan.

Palacios se recusou a detalhar os dados da Fase 3 do estudo. Indagado se a declaração dada em entrevista coletiva na semana passada pelo presidente do Butantan, Dimas Covas, de que nenhum voluntário dos testes que contraiu Covid-19 desenvolveu a forma grave da doença indica que a CoronaVac é 100% eficaz na prevenção de casos graves, afirmou que se espera que a vacina evite casos mais agudos da doença.

“O que (o estudo) nos indica é que a vacina tem eficácia, ela pode ter uma eficácia mais interessante para as formas graves, é o que se esperaria de uma vacina como essa”, afirmou.