Money Times Entrevista

Copom optou por conquistar a ancoragem das expectativas mais adiante, diz ex-diretor do BC José Júlio Senna

02 fev 2022, 20:19 - atualizado em 02 fev 2022, 20:19
José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do FGV IBRE. – Imagem: Divulgação/FGV

Ao sinalizar uma redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros, a Selic, na próxima reunião, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) optou por ancorar as expectativas de inflação mais adiante, avalia o ex-diretor da autoridade monetária José Júlio Senna.

“Se o BC sinalizasse mais um aumento de 1,5 ponto percentual, conseguiria um grande avanço em ancorar as expectativas, mas ele avaliou que acabaria prejudicando demais a atividade econômica”, disse ao Money Times o economista, que também é chefe do Centro de Estudos Monetários do FGV/IBRE.

Senna acrescenta que é cedo para o aperto monetário produzir efeitos contra a inflação, já que o aumento da taxa básica de juros leva cerca de nove meses para impactar a economia real.

O BC começou a subir a Selic em março do ano passado, tirando a taxa da mínima histórica de 2%. Há pouco, a autoridade monetária elevou os juros em 1,5 ponto percentual, para 10,75%, visando cumprir as metas de inflação – de 3,5% neste ano e de 3,25% em 2023, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo.

As expectativas do mercado, no entanto, estão acima do teto da meta para este ano, a 5,38%, segundo edição mais recente do boletim Focus. Para 2023, o mercado espera a taxa acima do centro da meta, a 3,50%.

Segundo Senna, não há segurança que os preços estarão bem comportados. Em alimentação, há a influência do clima, em produtos industrializados os dados de dezembro reiteram uma leitura pessimista, e não há sinal de que o preço dos combustíveis dará trégua, diz.

“Eu entendo o patamar da Selic está muito alto, com juros reais da ordem de 6% ao ano. Mas não há outra solução. Se o BC joga a toalha, a batalha fica impossível”, afirma, destacando que o Executivo e o Legislativo não estão convencidos de que o ajuste nas contas públicas ajudaria a conter a inflação.

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