Taxa Selic

Copom monitora petróleo a US$ 100 ao sinalizar nova alta

17 mar 2022, 12:00 - atualizado em 17 mar 2022, 14:07
Banco Central Selic
Copom monitora petróleo a US$ 100 ao sinalizar nova alta (Imagem: Reuters/Ueslei Marcelino)

O Banco Central cumpriu o esperado ao elevar a Selic em 1 p.p., para 11,75%, além de antecipar nova alta de mesma magnitude no próximo encontro, também já precificada na curva. O BC diz, no entanto, que o momento exige serenidade e que pode “ajustar o tamanho do ciclo” caso os choques de oferta em diversas commodities se mostrem “mais persistentes ou maiores que o antecipado”.

O Copom deixou a porta aberta para ajustes e repetiu que acha apropriado que o aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista. Alguns analistas, por outro lado, enxergam a possibilidade de o aperto ser encerrado em maio, com o juro em 12,75%, principalmente se o petróleo parar de subir.

O ambiente externo se deteriorou substancialmente e o choque de oferta decorrente do conflito entre Rússia e Ucrânia tem o potencial de exacerbar as pressões inflacionárias que já vinham se acumulando tanto em economias emergentes quanto avançadas.

Comunicado incluiu ainda um cenário alternativo, considerado de maior probabilidade, com petróleo a US$ 100 no fim do ano, em que o IPCA terminaria 2023 a 3,1%, dentro da meta.

Diversos bancos revisaram as estimativas para a Selic após a decisão – como JPMorgan, Santander e Rabobank. Juros futuros abriram em queda em reação ao Copom, em meio ao debate no mercado sobre o final do ciclo de alta já em maio.

Veja o que dizem os analistas:

Cassiana Fernandez, Vinicius Moreira, JPMorgan:

  • Banco mudou a projeção de Selic para 13,25%, com 1 pp em maio e mais 0,50 pp em junho
  • “Considerando que esperamos uma inflação de 6,5% ao final do ano – acima do cenário alternativo do BCB – e, mais importante, nossas projeções de inflação acima do consenso para os próximos meses, em especial até abril (divulgada quase uma semana após a Copom), julgamos que o ciclo não vai parar em maio”

Mauricio Une, Gabriel Santos, Rabobank:

  • Rabobank revisou a projeção para a Selic para 13,25% de 12,75%, apostando em uma alta de 1 pp em maio e outra de 0,50 pp em junho
  • Declaração sobre alta em maio soou agressiva, mas comunicado trouxe advertências dovish e hawkish, destacando a incerteza em torno das perspectivas de inflação do Copom

Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs

  • Sinal claro para mais 1 pp em maio é um desenvolvimento hawkish
  • Estimava Selic terminal de 13% e agora vê riscos claros de que taxa suba acima disso
  • Um Copom muito realista, consciente do cenário global muito incerto e focado em garantir que a política monetária faça o possível para trazer a inflação para perto da meta em 2023

Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú

  • Copom indica que os cenários atuais, com taxa básica de 12,75% ao final do ciclo, garantiriam a convergência da inflação para a meta
  • “Por ora esperamos que o Copom eleve a taxa básica para 12,75% a.a. na próxima reunião, e encerre o ciclo em 13% a.a.”
  • Itaú aguardará ata para revisitar expectativa, se necessário

Reinaldo Le Grazie, ex-diretor do BC e chefe do comitê de investimentos do fundo Panamby Inno

  • BC afirmou mais um aumento igual na próxima reunião, o que dá um tom hawkish à decisão
  • Projeção de 7,1% para IPCA 2022, e mesmo no novo cenário alternativo de 6,3%, mostra desancoragem e risco para 2023
  • Curvas de juros vão subir na quinta-feira

Mauricio Oreng, head de macro research do Santander

  • Santander elevou estimativa de Selic terminal de 12,50% para 13,25%, com 1 pp em maio e 0,50 pp em junho
  • Comunicado moderadamente hawkish, não se comprometeu com o fim do ciclo
  • BC tentou passar uma comunicação de que vai reagir; qualificou que está mais preocupado com os efeitos secundários, que é onde tem de atuar

Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital

  • BC deixa porta aberta para um ajuste subsequente; percebe que os impactos do conflito envolvendo Rússia e Ucrânia geram pressão inflacionária e têm capacidade de desancorar a inflação do horizonte relevante — cada vez mais focado em 2023
  • CM vê Selic terminal em 12,75% na melhor das hipóteses; ciclo de aperto monetário pode ser ainda maior e elevar Selic acima de 13%
  • Vetor fiscal também sugere uma inflação mais elevada

Claudio Ferraz, economista-chefe Brasil do BTG Pactual

  • Surpresa veio para sinalização de manutenção de ritmo; BC foi bastante explícito de ajuste de mesma magnitude
  • Cenário-base é de Selic a 12,75% em maio
  • BTG mantém Selic terminal a 13,25%, mas ‘de modo um pouco diferente’
  • Julgamento de balanço de riscos é de que BC pode ir um pouco além, vemos 1pp em maio e 0,5pp na sequência

Gustavo Pessoa, sócio-gestor da Legacy Capital

  • Copom foi firme na indicação para próxima reunião
  • Sobre o tamanho do ciclo, serenidade e análise de cenários do Copom convergem para ciclo acabar em 12,75%, já na próxima reunião
  • Probabilidade de fim de ciclo em maio era quase nula e agora virou cenário básico

Silvio Campos Neto, economista e sócios da Tendências Consultoria Integrada

  • “A decisão em si não surpreendeu e o comunicado trouxe sinais mistos, em linha com o ambiente de extrema incerteza”
  • BC sinalizou mais uma alta de 1pp para maio, mas não se compromete a ir além disso
  • No cenário alternativo, as projeções de inflação são bem inferiores e, para 2023, compatíveis com a meta
  • BC tentou conter apostas excessivamente agressivas, ao citar que o momento pede serenidade
  • Comunicado impõe um viés de alta no cenário 12,75% como final de ciclo

Carlos Menezes, gestor de portfólio da Gauss Capital

  • Indicação de alta de 1 pp para a próxima reunião é o ponto mais hawk
  • Além disso, indicação de que o comitê está disposto a ajustar o tamanho do ciclo demonstra que devem ser mais reativos aos impactos do choque de commodities
  • Mercado deve reagir com curva “fletando” e em alta; ou seja, um “bear flattening”

Mirella Hirakawa, economista da AZ Quest

  • O plano de voo do BC é um ajuste de +1 pp na próxima reunião, terminando o ciclo em 12,75%
  • Comunicação traz um próximo passo hawkish, mas já sinalizando que possivelmente seria o final do ciclo

Tatiana Nogueira, economista da XP

  • “Enxergamos o BC sinalizando que está chegando perto do fim”
  • Cenário base é de uma Selic em 12,75%, permanecendo nesse patamar

Brendan McKenna, estrategista do Wells Fargo

  • Comunicado mais hawkish do que esperado
  • É “muito possível” que Selic chegue a 13%
  • “Assume mais 1 pp em maio, mas mesmo depois de maio podemos ver um aperto adicional”

Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original

  • O principal destaque é a opção do Copom em sinalizar serenidade diante das incertezas do cenário
  • Recorreu ao livro-texto ao afirmar que a sua atuação será sobre eventuais impactos secundários do choque de oferta nas commodities
  • Comunicado foi dove considerando a curva de juros, abriu a possibilidade de dar +1 pp e parar, e esse cenário parece ser o base
  • Se petróleo ficar em US$ 100 ou menos, o BC sobe mais 1 ponto e para

Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital

  • “O destaque do comunicado foi que os 12,75% na visão do BC faz inflação convergir para meta em 2023”
  • “Fato de ele ter colocado o cenário alternativo só reforça que dará mais uma de 1pp e para”
  • “Deixou claro que irá combater apenas efeitos secundários de choque de commodities e está correto”
  • “Deve manter os juros elevados em 12,75% por mais tempo”

Roberto Padovani, economista do BV:

  • BC anunciou alta de 2pp, dividida na reunião desta quarta e maio, e sinaliza que vai fazer o necessário para desinflacionar a economia e reancorar as expectativas
  • Sinalizou que vai fazer o necessário para desinflacionar a economia e reancorar as expectativas; “É um recado mais duro”

Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter:

  • “Atribuímos pequena probabilidade de juros começarem a ser reduzidos a partir de 2022, caso a demanda interna tenha queda mais significativa, o que pode acontecer pelo efeito defasado da política monetária ou caso haja uma reversão dos preços de commodities”
  • “Considerando o patamar de 12,75%, será um longo caminho para voltar ao patamar neutro, possivelmente somente a partir de 2024”