Copom: Missão Cumprida?
Uma parte do mercado financeiro bateu o pé após o Copom ter decidido dar um tempo nos cortes na Selic, mesmo enquanto aproximadamente 70% dos investidores – ao menos aqueles que operam com juros futuros – apostavam firmemente em mais alívio de 0,25 ponto percentual. Isso não aconteceu. Ilan Goldafjn, presidente do Banco Central, declarou missão cumprida após empurrar o juro ladeira abaixo 7,75 pontos percentuais em 20 meses, de 14,25% para 6,5%.
Eis a explicação oficial: “O cenário externo tornou-se mais desafiador e apresentou volatilidade. A evolução dos riscos, em grande parte associados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas, produziu ajustes nos mercados financeiros internacionais. Como resultado, houve redução do apetite ao risco em relação a economias emergentes”, sinalizou o Copom.
Diferencial de juro
A decisão ocorre dias depois do país enfrentar uma valorização expressiva do dólar no mercado de câmbio. Em quatro dias seguidos de pregão, a moeda norte-americana sofreu valorização de 3,71% e encerrou o dia de hoje negociada a R$ 3,694.
Enquanto o diferencial de juro entre o Brasil e os EUA é espremido, a enferrujada situação fiscal do país fica mais evidente. “Por conta dessa discrepância, o custo de oportunidade dos investidores ao correr riscos em uma economia emergente acaba se elevando e é inerente ao processo alterações no portfólio, induzindo um fluxo de saída de divisas para mercados considerados de menor risco”, opina o BB Investimentos em um relatório enviado a clientes nesta quarta-feira.
É a política, estúpido
A grita geral, contudo, é a que recai sobre a talvez simplória avaliação macroeconômica de que a economia fraca e a inflação baixa, per se, sustenta um juro baixo. Não é bem assim, principalmente no Brasil. “O panorama macroeconômico (recuperação estável, baixa inflação) sugere que as taxas devem permanecer em níveis baixos por algum tempo. Mas, como sempre no Brasil, a política provavelmente irá desempenhar um papel em determinar este rumo”, avalia o economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics Neil Shearing.
Ele lembra que ainda pode ser cedo, mas, com um candidato para a Presidência favorável ao mercado que ainda não saiu da manada, o balanço de riscos está inclinado para o BC sendo forçado a agir antes do que se poderia esperar. Shearing calcula a Selic subindo para 7% até o final do ano. É algo que o mesmo mercado que previu o juro a 6,25% também já precificou. O BTG Pactual, um que apostava na manutenção do juro, espera que a Selic volte a subir apenas ano que vem, mas que isso “certamente depende da evolução do equilíbrio de riscos aqui e no exterior, incluindo o resultado do ciclo eleitoral e as escolhas políticas do próximo governo”.
Ou seja, a parte do Banco Central foi cumprida. A batata quente, agora, está com a política.