Economia

Copom e Fed: Mercados podem esperar surpresas na Super Quarta?

14 mar 2022, 11:58 - atualizado em 15 mar 2022, 23:40
Federal Reserve
Espera-se a primeira elevação do ano dos juros norte-americanos, em 0,25% (Imagem: REUTERS/Jonathan Ernst)

Esta semana será cheia e decisiva para os mercados, com o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BCB) e as autoridades monetárias do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, se reunindo para discutir quais medidas adotarão para conter a escalada da inflação em seus respectivos países.

Ambas as reuniões, com duração de dois dias, devem sinalizar o tamanho da postura contracionista que os bancos centrais estão dispostos a adotar para resolver o problema da pressão inflacionária, que tende a se agravar com os desdobramentos da guerra na Ucrânia.

A expectativa do mercado é de que o comitê brasileiro aumente em um ponto percentual a taxa básica de juros, Selic, que atualmente está em 10,75% ao ano.

Em relação à decisão do Fed, espera-se a primeira elevação do ano dos juros norte-americanos, em 0,25%.

Nesta segunda-feira (14), o mercado brasileiro elevou para mais de 6% as perspectivas de inflação deste ano, que está em trajetória crescente em meio ao aumento dos preços dos combustíveis.

Os especialistas consultados pelo BC também aumentaram suas expectativas de inflação para 2023, de 3,51% na semana passada a 3,7%, de acordo com a nova pesquisa Focus.

Além da elevação das projeções para o IPCA, os economistas agora projetam uma Selic mais alta tanto para 2022 quanto para 2023. Para este ano, a estimativa é de que chegue a 12,75%. Já para o ano que vem, as projeções indicam que a taxa deve subir a 8,75%.

O que mudou?

O mundo foi nocauteado por uma série de acontecimentos desde a última reunião do Fed, sendo a invasão russa na Ucrânia a mais importante até agora.

As fortes sanções impostas contra a economia russa ocasionaram um forte abalo na cadeia de suprimentos global. Na avaliação do UBS, isso é um indicativo de que, desta vez, o Fed vai adotar uma postura diferente.

“Nos últimos 15 anos, o Fed teve costume de olhar para a inflação direcionada pelos preços das commodities e manteve a política monetária frouxa. Mas acreditamos que desta vez será diferente. O Fed provavelmente prosseguirá com sua política de aperto monetário, mesmo que o aumento dos preços das commodities coloque freios na economia”, afirmou o banco.

O UBS diz que a diferença está nas expectativas de inflação, que estão sob risco de crescer acima dos “níveis confortáveis” do Fed.

“Planos de investimento, preços de moradia e demanda pelo consumidor estão relativamente altos, e o aumento de preços fez pouco para diminuir a atividade até agora”, completa.

Na avaliação do banco suíço Julius Baer, o Fed precisa aceitar a inflação estrutural no país, ou acabará “matando a recuperação”. O banco central precisa, ainda, gradualmente normalizar sua política monetária, acrescenta.

Mais uma revisão altista

O UBS espera que a taxa básica de juros do Brasil, a Selic, cresça a 13,75% em maio (REUTERS/ Ueslei Marcelino)

Em relação ao Copom, o mercado pode ficar preparado para novas altas.

O UBS espera que a taxa básica de juros cresça a 13,75% em maio, com outra alta considerável prevista para esta semana.

Na avaliação da MCM Consultores Associados, o cenário macroeconômico e geopolítico se deteriorou e ficou mais incerto. No entanto, a consultoria acredita que o BC manterá seu plano de voo indicado na última reunião, de “redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros”.

“Mesmo em meio a tantas incertezas, o comitê certamente terá sobre a mesa projeções mais elevadas de inflação para 2022 e 2023, a despeito da apreciação do câmbio, das medidas governamentais visando a contenção dos ajustes dos preços dos combustíveis, da redução do IPI e da possível adoção da bandeira tarifária verde para a energia elétrica nos próximos meses”, afirma.

“Em resumo, […] o Copom estará diante de uma nítida piora das perspectivas para a inflação no horizonte relevante para a política monetária, mas sem ter em mãos condições razoáveis para estimar a magnitude desta piora”, completa a MCM.

A leitura da consultoria é de que o banco central brasileiro sinalizará sua intenção de continuar a trajetória de redução de ritmo de ajuste da Selic na reunião prevista para maio, uma vez que o ciclo de aperto já se encontra em nível avançado.

“Quanto ao fim do ciclo de aperto monetário, ele naturalmente ficou mais incerto. No entanto, tudo, ou quase tudo, indica que a Selic será ajustada mais do que o previsto até o início da guerra, por conta do aumento dos riscos em torno do cumprimento da meta em 2023”, conclui a MCM.